A expansão dos embarques ao longo do ano impulsionou o crescimento da produção de calçados que deve crescer 3% em 2019.
A previsão foi uma das muiitas, apresentadas em evento realizado nesta semana, na
Fenac, em Novo Hamburgo/RS. A iniciativa Análise de Cenários, promovida em conjunto pela
Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) e Associação
Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos
(Assintecal), contou com patrocínio da Fenac.
O evento iniciou com a apresentação de Marcos Lélis, doutor em Economia e
consultor do setor calçadista. O especialista comentou sobre os efeitos da
guerra comercial entre Estados Unidos e China, que tem provocado uma
desaceleração no comércio mundial, que deve refletir ainda em 2020. No
acumulado de 2019, as importações norte-americanas de produtos chineses caíram
12,6% e o caminho contrário também registrou queda, de 17,9%.
Lélis ressaltou que, além da guerra tarifária, a China utiliza das suas
reservas internacionais - de mais de US$ 3 trilhões - para manipular o câmbio,
o que tem reflexo imediato na economia mundial. “Em julho e agosto, quando
houve um ruído nas negociações entre China e Estados Unidos, eles mexeram no
câmbio, desvalorizaram o Yuan
(moeda chinesa) e bagunçaram a economia mundial”, recordou, ressaltando que o
país é o maior exportador do mundo.
Segundo o economista, mesmo o PIB brasileiro crescendo 0,4% no segundo
trimestre, afastando o risco de uma recessão, a economia ainda patina pela
falta de investimentos substanciais em infraestrutura. “Tivemos esse
crescimento puxado pelo setor de habitação, especialmente a de alto padrão no
Sudeste, o que não é suficiente para um crescimento consolidado”, explicou,
ressaltando que o crescimento, para se consolidar, precisa ser resultado de
maiores investimentos no parque fabril (aumento da capacidade instalada), na
construção civil de empreendimentos públicos e privados etc. “De toda forma, a
notícia deu uma melhorada no ânimo, e resultou na expectativa de crescimento de
0,8% para 2019”, disse.
Para Lélis, somente a Reforma da Previdência, já em estágio avançado para ser
aprovada no Senado Federal, não será suficiente para recuperar os investimentos
no Brasil, especialmente porque ainda existe uma ociosidade de cerca de 25% na
indústria, que segundo ele é o motor do crescimento da economia. “Ainda estamos
com um baixo uso da capacidade instalada. Então, o empresário não irá investir
neste momento”, disse, ressaltando a importância das parcerias público-privadas
para a retomada mais substancial dos investimentos.
Melhor do que outros setores industriais, segundo Lélis, o setor calçadista
projeta um crescimento de 3% na produção de 2019, alcançando 972 milhões de
pares. Segundo a coordenadora de Inteligência de Mercado da Abicalçados, Priscila
Linck, com o resultado, o setor ainda não recupera as quedas dos anos
anteriores, voltando aos patamares registrados em 2014. Priscila disse, ainda, que o resultado da produção deve ser puxado pelo
incremento nas exportações, na casa de 10%, alcançando quase 125 milhões de
pares. Já a expectativa de crescimento no mercado interno, que absorve 86% da
produção de calçados, é de 0,8%.
A economista da Abicalçados falou ainda sobre o efeito da guerra comercial
entre Estados Unidos e China e do acordo entre Mercosul e União Europeia.
Segundo ela, o impasse comercial entre as duas potências gera oportunidades
para o produto brasileiro, mas também para o calçado proveniente de outros
países, especialmente Vietnã e Indonésia. Priscila destacou que no período de
guerra tarifária, os dois países asiáticos ganharam 1,8% e 0,3% de participação
no mercado norte-americano, respectivamente. O Brasil, por sua vez, ganhou
apenas 0,2% em marketshare.
Além disso, ainda como efeito do impasse, a China acaba tendo que pulverizar
suas exportações para outros mercados, inclusive para o Brasil.
Com relação ao acordo entre Mercosul e União Europeia, Priscila destacou que o
efeito deve ser positivo para o calçado nacional, mas que a parceria ainda
precisa ser selada por todos os países envolvidos, o que irá demandar mais
tempo para que o tratado entre em vigência. Após a implementação do acordo, os
países ainda terão um prazo de desgravação tributária – até zeramento das
tarifas de importação – de 7 a 10 anos. “Entrando em vigência, o acordo deve
ter um efeito positivo, especialmente para os exportadores de calçados de
couro, já que 60% dos produtos brasileiros que entram na Europa são construídos
com esse material”, concluiu.
Na sequência, um painel reuniu Luciano D’Andrea, da gerência de Relações
Internacionais e de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado do
Rio Grande do Sul (Fiergs), e Rosnaldo Silva, diretor da Bibi e mestre em
Engenharia de Produção e Sistemas. Mediados por Lélis e Priscila, os
participantes falaram sobre os desafios da indústria calçadista brasileira
diante da abertura comercial.
A iniciativa teve o apoio do Instituto Brasileiro do Couro, Calçado e Artefatos
(IBTeC), Associação Brasileira das Indústrias de Artefatos de Couro e Artigos
de Viagem (Abiacav) e Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e
Equipamentos para os Setores do Couro, Calçados e Afins (Abrameq). Além da
realização em Novo Hamburgo/RS, o Análise de Cenários está realizando um
roadshow por alguns dos principais polos calçadistas brasileiros, já tendo
passado por Birigui/SP e com eventos marcados para São João Batista/SC (14/10),
Franca/SP (16/10) e Nova Serrana (22/10).
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