A desaceleração da economia global em 2019 e em 2020 imporá desafios a
todos os países. O Brasil, no entanto, pode minimizar os efeitos da
retração se prosseguir com medidas internas. Segundo economistas, o país
precisa executar ações que vão da continuidade das reformas estruturais
a medidas de estímulo da demanda, para que a recuperação econômica não
seja afetada.
Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu, de 3,2% para 3%,
a previsão de crescimento da economia mundial em 2019. O fundo também
revisou para baixo a estimativa de 2020: de 3,5% para 3,4%. Desde 2017,
quando a economia global cresceu 3,8%, o mundo vem passando por uma
desaceleração.
Para o Brasil, o FMI ajustou a previsão de crescimento econômico em
2019 de 0,8% para 0,9%. No início do ano, a estimativa estava em 2,5%.
Para 2020, o cenário para a economia brasileira deve ser melhor, mas o
organismo internacional reduziu a projeção de crescimento de 2,4% para
2%.
Professor do Ibmec e economista da Órama Distribuidora de Títulos e
Valores Mobiliários, Alexandre Espírito Santo diz que o Brasil pode sair
relativamente ileso da desaceleração global se prosseguir com a agenda
de reformas após a aprovação da reforma da Previdência.
“O próprio FMI destacou, no relatório, que somente a reforma da
Previdência não basta para garantir a sustentabilidade da economia do
país. O país precisa prosseguir com as reformas tributária e
administrativa para reduzir os gastos públicos e modernizar o Estado.”,
diz Alexandre.
Segundo o economista da Órama, dois fatores externos darão vantagem
ao Brasil no próximo ano. O primeiro são os juros baixos em todo o
planeta, o que deve continuar a atrair parte do capital financeiro para o
país, mesmo com a taxa Selic – juros básicos da economia – no menor
nível da história. O segundo é a instabilidade em países emergentes,
como Argentina, o México e a Turquia, que, na avaliação dele, atravessam
situações mais complicadas que o Brasil.
“O Brasil continua atraente para investimentos internacionais, seja
no mercado financeiro, seja nos investimentos diretos [de empresas],
mesmo com um cenário externo mais difícil em 2020. Mas tudo depende de o
país fazer o dever de casa e seguir com as reformas internas”, destaca.
Professor da Universidade Federal Fluminense e especialista em
economia internacional, André Nassif diz que o Brasil precisa tomar
medidas internas. Ele, no entanto, diverge do diagnóstico do FMI de que
apenas as reformas bastam para impedir o desaquecimento da economia
brasileira no próximo ano.
“O governo precisa ir além das reformas e encontrar algum mecanismo
na política fiscal que permita a retomada dos investimentos públicos,
que geram emprego em um primeiro momento, e da demanda agregada”, diz
Nassif. Segundo ele, uma das opções poderia ser a retirada dos
investimentos públicos do teto federal de gastos, mas ele acha que o
governo deveria estudar alternativas.
“As medidas tomadas até agora, como os saques do FGTS [Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço] e a redução de juros pela Caixa Econômica,
têm fôlego pequeno para reativar a economia. São necessárias ações mais
profundas para estimular a demanda”, aconselha.
O relatório do FMI ainda não contemplou os impactos de uma eventual
recessão dos Estados Unidos na economia mundial. Diversos indicadores
têm mostrado a desaceleração da maior economia do planeta nos últimos
meses, em meio ao agravamento das tensões comerciais com a China. Para
Nassif, essa será a principal preocupação externa no próximo ano. “A
política de confrontação do Trump pode jogar os Estados Unidos na
recessão. Aí será complicado para todos os países.
Alexandre Espírito Santo, da Órama, diz não enxergar os riscos
imediatos de uma recessão norte-americana. “Nossos relatórios mostram a
economia dos Estados Unidos rodando num ritmo mais lento, mas não a
ponto de entrar em recessão, como na crise de 2008 e 2009. A
desaceleração global apontada pelo FMI deve-se muito mais à estagnação
de várias economias europeias e do Japão, além da desaceleração da
China”, comenta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário