As contas
externas brasileiras de fevereiro fecharam em déficit de US$ 3,9 bilhões. O
rombo foi maior do que o esperado pelo mercado e puxado por resultados menores
na balança comercial. A estatística foi divulgada nesta quarta-feira pelo Banco
Central (BC). O resultado veio em linha com a estimativa do Banco Central, que
esperava um resultado negativo negativo de US$ 4 bilhões, mas acima da
expectativa do mercado, na ordem de US$ 3,4 bilhões.
O
resultado de fevereiro ainda não reflete o ponto mais crítico da crise mundial
do coronavírus até agora. No dia 28 daquele mês, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) elevou o risco da epidemia para "muito alto", mas ainda não a
classificava como "pandemia". A nova classificação só foi adotada no
dia 11 de março.
Para efeitos de comparação, no dia 26 de fevereiro,
quarta-feira de cinzas, o Brasil registrava o primeiro caso da doença. Na
última terça-feira, já eram 2.201 casos confirmados e 46 mortos. No ano
passado, o resultado foi um déficit menor, de US$ 3,3 bilhões. O resultado de
2020 é o maior déficit para o mês desde 2018, quando o resultado foi um rombo
de US$ 5 bilhões.
O déficit em transações correntes
acontece quando o volume de dinheiro que sai do Brasil supera o montante que
entra no país. A medida considera exportações e importações, os gastos de
brasileiros no exterior e as remessas de lucros, juros e dividendos para fora.
O saldo da balança comercial,
diferença entre exportações e importações, registrou uma queda de US$ 154
milhões no superávit, uma das razões para o resultado negativo geral para este
mês. Apesar de registrar US$ 16,4 bilhões em exportações, um aumento de 4% em
comparação com o mesmo mês do ano passado, as importações tiveram um
crescimento maior, de 6%, chegando ao valor de US$ 13,9 bilhões.
Para Gilmar Alves, economista sênior
do banco BMG, o cenário já era ruim antes da crise do coronavírus, com a
desaceleração do crescimento mundial, e deve piorar com o novo cenário. Segundo
o economista, o choque inicial e um processo de retração da economia diminui o
consumo e as exportações.
— Existe uma quantidade altamente
considerável de pessoas com padrão de consumo totalmente modificado. Então para
aqueles que são naturalmente exportadores você tem esse problema na queda de
comércio entre países - afirmou.
Em uma análise do banco Goldman Sachs,
o economista para a América Latina, Alberto Ramos, disse que o déficit foi
maior do que o esperado pelo mercado. De acordo com Ramos, um ajuste fiscal
poderia ajudar no resultados das contas externas. "Um ajuste fiscal
profundo que elevasse a poupança do setor público é de suma importância para
facilitar um ajuste estrutural permanente nas contas externas".
Gasto público é solução: Em carta a
Guedes, OCDE classifica coronavírus como ‘ameaça sem precedentes’ para a
economia Também contribuíram para o resultado um déficit nos serviços, com
aumento na despesa de aluguel de equipamentos e redução de despesas com viagens
e um déficit na renda primária, com aumento de gastos com juros. Para o mês de
março, a estimativa do Banco Central para as contas externas é de um déficit de
US$ 1 bilhão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário