sexta-feira, 27 de março de 2020

Contas externas fecham fevereiro com déficit de US$ 3,9 bilhões por conta do aumento das importações

         As contas externas brasileiras de fevereiro fecharam em déficit de US$ 3,9 bilhões. O rombo foi maior do que o esperado pelo mercado e puxado por resultados menores na balança comercial. A estatística foi divulgada nesta quarta-feira pelo Banco Central (BC). O resultado veio em linha com a estimativa do Banco Central, que esperava um resultado negativo negativo de US$ 4 bilhões, mas acima da expectativa do mercado, na ordem de US$ 3,4 bilhões.
        O resultado de fevereiro ainda não reflete o ponto mais crítico da crise mundial do coronavírus até agora. No dia 28 daquele mês, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou o risco da epidemia para "muito alto", mas ainda não a classificava como "pandemia". A nova classificação só foi adotada no dia 11 de março.
          Para efeitos de comparação, no dia 26 de fevereiro, quarta-feira de cinzas, o Brasil registrava o primeiro caso da doença. Na última terça-feira, já eram 2.201 casos confirmados e 46 mortos. No ano passado, o resultado foi um déficit menor, de US$ 3,3 bilhões. O resultado de 2020 é o maior déficit para o mês desde 2018, quando o resultado foi um rombo de US$ 5 bilhões.
         O déficit em transações correntes acontece quando o volume de dinheiro que sai do Brasil supera o montante que entra no país. A medida considera exportações e importações, os gastos de brasileiros no exterior e as remessas de lucros, juros e dividendos para fora.
         O saldo da balança comercial, diferença entre exportações e importações, registrou uma queda de US$ 154 milhões no superávit, uma das razões para o resultado negativo geral para este mês. Apesar de registrar US$ 16,4 bilhões em exportações, um aumento de 4% em comparação com o mesmo mês do ano passado, as importações tiveram um crescimento maior, de 6%, chegando ao valor de US$ 13,9 bilhões.
         Para Gilmar Alves, economista sênior do banco BMG, o cenário já era ruim antes da crise do coronavírus, com a desaceleração do crescimento mundial, e deve piorar com o novo cenário. Segundo o economista, o choque inicial e um processo de retração da economia diminui o consumo e as exportações.
         — Existe uma quantidade altamente considerável de pessoas com padrão de consumo totalmente modificado. Então para aqueles que são naturalmente exportadores você tem esse problema na queda de comércio entre países - afirmou.
         Em uma análise do banco Goldman Sachs, o economista para a América Latina, Alberto Ramos, disse que o déficit foi maior do que o esperado pelo mercado. De acordo com Ramos, um ajuste fiscal poderia ajudar no resultados das contas externas. "Um ajuste fiscal profundo que elevasse a poupança do setor público é de suma importância para facilitar um ajuste estrutural permanente nas contas externas".
         Gasto público é solução: Em carta a Guedes, OCDE classifica coronavírus como ‘ameaça sem precedentes’ para a economia Também contribuíram para o resultado um déficit nos serviços, com aumento na despesa de aluguel de equipamentos e redução de despesas com viagens e um déficit na renda primária, com aumento de gastos com juros. Para o mês de março, a estimativa do Banco Central para as contas externas é de um déficit de US$ 1 bilhão.

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