terça-feira, 11 de setembro de 2018

Exportadoras de grãos ameçam parar por causa do aumento no preço do frete

          Algumas companhias exportadoras de grãos do Brasil estão avaliando a possibilidade de paralisar as atividades. A medida poderá ser tomada se não forem adotadas medidas para acabar com uma tabela de fretes mínimos rodoviários que inviabiliza negócios e resulta em custos adicionais para o setor de pelo menos US$ 5 bilhões ao ano, disse um representante da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).
          Os custos extras estimados foram elevados após um reajuste nos valores dos fretes da tabela na quarta-feira da semana passada, que acrescentou grandes montantes numa conta que já era bilionária. A informação foi dada à Reuters pelo diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes, nesta segunda-feira, 10.
          “Tem de resolver logo (essa questão da tabela), tem empresas dizendo que não vão assumir o passivo (do custo adicional), que vão parar tudo. Tem exportador tão preocupado que está pensando em parar, para não assumir um passivo incapaz de pagar”, declarou Mendes, ressaltando que tradings já trabalham com margens mínimas no mercado de commodities agrícolas.
           O diretor-geral não detalhou quais empresas poderiam parar de operar. O Brasil é o maior exportador global de soja e tem sido o segundo em milho. Mendes lembrou que nos últimos quatro anos as empresas do setor de grãos têm trabalhado com 1% de margem líquida, e destacou que a tabela achata um resultado que já era mínimo, embora o segmento movimente dezenas de milhões de toneladas todos os anos.
          O custo anual com o transporte rodoviário, o principal modal utilizado para levar as cargas até os portos exportadores, subiu de R$ 170 por tonelada de grãos (antes da tabela) para R$ 225, após a implantação da tabela, e agora para R$ 236 por tonelada, com o reajuste nos valores feito na semana passada, para adequar o custo a uma alta de mais de 10% no preço do diesel.
          “Estamos falando de um aumento de R$ 66 por tonelada no frete”, disse ele, afirmando que isso leva em conta os custos para transportar as safras de soja e milho em rota do Centro-Oeste até Santos, sem considerar o chamado “frete retorno”, cujo custo passou a ser incluído nos gastos pela lei que instituiu a tabela. O setor, que considera a tabela inconstitucional, por ferir leis de mercado, já entrou com pedidos de anulação da lei no Supremo Tribunal Federal, que ainda não se posicionou sobre o assunto.
          “Cinco bilhões de dólares! Ora, isso é mais de 10% de tudo que está na balança comercial de grãos, como vai absorver um negocio deste? Não sei como foram aprovar um negócio deste”, disse o diretor-geral da Anec, ao comentar a lei aprovada como parte de um pacote para liberar estradas bloqueadas por caminhoneiros em maio. Segundo Mendes, o Brasil não pode esperar até o próximo ano ou até o próximo presidente para resolver esta questão.
           No caso da soja, os embarques estão volumosos e devem ser recordes neste ano, até porque muitos negócios já estavam realizados antes da tabela —com a ajuda de preços elevados com a demanda chinesa para driblar um tarifa imposta ao produto dos EUA, os embarques brasileiros ganharam impulso adicional. Já no caso do milho, cujas exportações tendem a ganhar força no segundo semestre, os efeitos da tabela do frete vão reduzir embarques.
          A Anec estima que o país deixará de exportar neste ano o equivalente a US 1,8 bilhão do cereal, cujo frete rodoviário tem um peso maior no negócio, uma vez que o preço da tonelada do milho é menor do que o da soja. “Tínhamos projeção de exportar 32 milhões de toneladas de milho este ano, e se chegar a 20 está muito bom. Essa diferença de 12 milhões de toneladas pode computar como perdas.” No ano passado, segundo dados do Ministério da Agricultura, as exportações de milho do Brasil somaram 29,2 milhões de toneladas, ou US$ 4,6 bilhões.

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