Os custos extras estimados foram
elevados após um reajuste nos valores dos fretes da tabela na quarta-feira da
semana passada, que acrescentou grandes montantes numa conta que já era
bilionária. A informação foi dada à Reuters pelo diretor-geral da Associação
Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes, nesta
segunda-feira, 10.
“Tem de resolver logo (essa questão
da tabela), tem empresas dizendo que não vão assumir o passivo (do custo
adicional), que vão parar tudo. Tem exportador tão preocupado que está pensando
em parar, para não assumir um passivo incapaz de pagar”, declarou Mendes,
ressaltando que tradings já trabalham com margens mínimas no mercado de
commodities agrícolas.
O diretor-geral não detalhou quais
empresas poderiam parar de operar. O Brasil é o maior exportador global de soja
e tem sido o segundo em milho. Mendes lembrou que nos últimos quatro anos as
empresas do setor de grãos têm trabalhado com 1% de margem líquida, e destacou
que a tabela achata um resultado que já era mínimo, embora o segmento movimente
dezenas de milhões de toneladas todos os anos.
O custo anual com o transporte
rodoviário, o principal modal utilizado para levar as cargas até os portos
exportadores, subiu de R$ 170 por tonelada de grãos (antes da tabela) para R$
225, após a implantação da tabela, e agora para R$ 236 por tonelada, com o
reajuste nos valores feito na semana passada, para adequar o custo a uma alta
de mais de 10% no preço do diesel.
“Estamos falando de um aumento de R$
66 por tonelada no frete”, disse ele, afirmando que isso leva em conta os
custos para transportar as safras de soja e milho em rota do Centro-Oeste até
Santos, sem considerar o chamado “frete retorno”, cujo custo passou a ser incluído
nos gastos pela lei que instituiu a tabela. O setor, que considera a tabela
inconstitucional, por ferir leis de mercado, já entrou com pedidos de anulação
da lei no Supremo Tribunal Federal, que ainda não se posicionou sobre o
assunto.
“Cinco bilhões de dólares! Ora, isso
é mais de 10% de tudo que está na balança comercial de grãos, como vai absorver
um negocio deste? Não sei como foram aprovar um negócio deste”, disse o
diretor-geral da Anec, ao comentar a lei aprovada como parte de um pacote para
liberar estradas bloqueadas por caminhoneiros em maio. Segundo Mendes, o Brasil
não pode esperar até o próximo ano ou até o próximo presidente para resolver
esta questão.
No caso da soja, os embarques estão
volumosos e devem ser recordes neste ano, até porque muitos negócios já estavam
realizados antes da tabela —com a ajuda de preços elevados com a demanda
chinesa para driblar um tarifa imposta ao produto dos EUA, os embarques
brasileiros ganharam impulso adicional. Já no caso do milho, cujas exportações
tendem a ganhar força no segundo semestre, os efeitos da tabela do frete vão
reduzir embarques.
A Anec estima que o país deixará de
exportar neste ano o equivalente a US 1,8 bilhão do cereal, cujo frete
rodoviário tem um peso maior no negócio, uma vez que o preço da tonelada do
milho é menor do que o da soja. “Tínhamos projeção de exportar 32 milhões de
toneladas de milho este ano, e se chegar a 20 está muito bom. Essa diferença de
12 milhões de toneladas pode computar como perdas.” No ano passado, segundo
dados do Ministério da Agricultura, as exportações de milho do Brasil somaram
29,2 milhões de toneladas, ou US$ 4,6 bilhões.
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