Atingida por duas crises cambiais em
quatro meses e em meio à renegociação de um acordo com o Fundo Monetário
Internacional (FMI) para ajudar o país a sair da crise, a Argentina
acompanha com atenção a campanha presidencial “atípica” no Brasil – seu principal
parceiro comercial e destino de 30% de suas exportações. “Aqui dizemos que,
quando o Brasil espirra, a Argentina fica gripada”, comentou o analista
politico Rosendo Fraga. “E o clima de incerteza preocupa”.
O ataque ao candidato do PSL à Presidência,
Jair Bolsonaro, cerca de um mês antes do primeiro turno das eleições
presidenciais brasileiras, foi noticiado e comentado em tempo real nas redes de
televisão argentinas. Isso também ocorreu quando o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva foi detido e quando teve o pedido de registro de candidatura
negado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Para os argentinos, acostumados
à radicalizacão política e imprevisibilidade no próprio país, os últimos
acontecimentos no Brasil surpreendem.
“Visto objetivamente, mais de 60% dos
eleitores [brasileiros] vivem uma situação inédita em muitos sentidos”,
escreveu a correspondente no Brasil do jornal Clarín, Eleonora
Gosman. Ela destacou que é elevado o índice de brasileiros que ainda não
escolheram candidato.
Desde que assumiu em dezembro de
2015, com a promessa de abrir a economia argentina e reativá-la, o presidente
Mauricio Macri tem apostado no Brasil – primeiro país que visitou, depois de
ser eleito. Desde então, ele acompanhou o impeachment da presidente
Dilma Rousseff, os desdobramentos da Operação Lava Jato, a prisão de Lula.
“Respeitamos o funcionamento institucional do Brasil”, disse Macri na época.
“Sonhamos que fazendo reformas possamos lograr um sistema judicial mais sólido,
independente, que tenha credibilidade e confiança”.
Em agosto, estourou o caso dos
“cadernos da corrupção” – um escândalo que vem sendo chamado de “Lava Jato da
Argentino”, envolvendo empresários da construção e do setor energético, que
teriam pago propinas milionárias a ex-funcionarios do governo em troca de obras
publicas. A Justiça pediu ao Congresso que retire a imunidade da senadora e
ex-presidente Cristina Kirchner para poder processá-la.
O escândalo coincidiu com o momento
em que Macri tentava contornar a maxidesvalorização do peso argentino que, em
um ano, perdeu 100% de seu valor. O presidente anunciou um ajuste, para
negociar com o FMI a antecipação dos desembolsos de um empréstimo de US$ 50
bilhões, concedido em junho.
A Argentina já estava preocupada com
a reação dos mercados à instabilidade de economias emergentes, como a
Turquia. A incerteza quanto ao futuro político e econômico do Brasil preocupa
mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário