segunda-feira, 4 de junho de 2018

País precisa investir R$ 600 bilhões para acabar com a dependência do modal rodoviário

          Quando caminhoneiros entraram em greve em 21 de maio contra o preço do diesel, talvez não tenha ficado claro que parar as estradas poderia significar parar o Brasil. Por causa dos protestos, emergiram problemas de abastecimento, escolas suspenderam aulas, cirurgias foram canceladas, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, pediu demissão e a população e a economia ficaram imobilizadas pela falta de gasolina nos postos. Em vez de mercadorias, a categoria entregou na porta de cada brasileiro um país à beira de um colapso, claramente dependente das rodovias e do petróleo.         
          Nessa combinação explosiva, somou-se ainda o contexto político inflamado que voltou a colocar fogo na crise que o Brasil vinha tentando superar. Se bastaram 10 dias para travar a nação, a saída desse cenário dramático é projetada para décadas, ao custo de, pelo menos, R$ 600 bilhões. Especialistas ouvidos pelo Estado de Minas afirmam que botar o país nos trilhos envolve, necessariamente, investimento em infraestrutura, em especial no transporte ferroviário e hidroviário, além do incentivo ao uso de biodiesel e aprofundamento do debate sobre a política de preços dos combustíveis.
          “O Brasil é o país entre as principais economias do mundo de dimensões continentais que apresenta maior dependência em relação a rodovias”, afirma o coordenador do núcleo de infraestrutura e logística da Fundação Dom Cabral (FDC), Paulo Resende. Ao longo de décadas, os governantes priorizaram uma política rodoviarista, em detrimento às ferrovias. Essa mentalidade começou nos anos 1920 e se intensificou a partir dos governos Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954) e Juscelino Kubistchek (1956-1961). E se consolidou no período dos governo militares, entre 1964 e 1985, que foi a pá de cal no modal ferroviário.
          Como consequência, as rodovias são responsáveis por 61,1% do transporte de cargas no país, três vezes mais em relação às ferrovias, que transportam 20,7% das mercadorias, e quase cinco vezes mais em relação às hidrovias, por onde trafegam 13,6% das cargas. Os dados são do boletim estatístico de abril da Confederação Nacional do Transporte (CNT).
          Enquanto a malha rodoviária alcança 1,7 milhão de km2, sendo 213 mil km pavimentados, as ferrovias somam 1,7% dessa extensão. A CNT registra 41.795 km de vias navegáveis, mas apenas 19.464 km são utilizadas para fins econômicos. Embora o trem seja o meio de transporte mais barato, ecológico e eficiente, o número de vagões no Brasil é de 102 mil unidades, correspondendo a 3,7% da frota de caminhões, que tem 2.729 mil veículos. Já a frota da cabotagem apresenta números ainda menos expressivos, com somente 197 navios.

Nenhum comentário:

Postar um comentário