A União Europeia, depois de 20 meses de debates, divulgou a nova legislação
sobre agricultura orgânica (ou agricultura biológica, como é chamada na
Europa). As novas regras não apenas implementam controles mais rígidos,
como estabelecem medidas preventivas contra a contaminação dos
produtos. Os orgânicos que são importados de outros países, como o
Brasil, terão que respeitar os padrões da UE.
Os consumidores europeus estão cada vez mais interessados em adquirir
produtos produzidos a partir de substâncias e processos naturais. Os
orgânicos já não são um nicho de mercado, apesar de ainda representarem
uma percentagem bastante baixa na produção agrícola como um todo. Entre
os principais produtos orgânicos que o Brasil exporta para a UE estão
açúcar, café, castanhas e frutas como a manga e o melão.
Apesar de o Brasil ser o maior exportador de café do mundo, nem todo o
grão brasileiro exportado é orgânico. Para se ter uma ideia, de acordo
com a Embrapa, a área da cafeicultura que está em produção neste ano de
2018 é de 1,88 milhão de hectares. Segundo a Associação de Cafés
Orgânicos e Sustentáveis do Brasil (Acob), a estimativa atual é que a
área cultivada com café orgânico seja de 5 mil a 6 mil hectares, apenas.
A produção biológica, ou orgânica, baseia-se num sistema agrícola
sustentável que respeita o ambiente e o bem-estar dos animais, incluindo
também todas as outras etapas da cadeia de abastecimento (a preparação,
o armazenamento, o transporte e a distribuição).
Em diferentes países as regras que definem se um produto é orgânico
variam. De acordo com Parlamento Europeu, atualmente existem mais de 64
diferentes padrões de regulamentação em todo o mundo.
Na União Europeia, entre os requisitos para que um produto seja
considerado orgânico, estão as boas práticas ambientais, o elevado nível
de biodiversidade, a preservação dos recursos naturais e a aplicação de
normas rígidas quanto ao bem-estar dos animais.
De maneira prática, é proibido o uso de pesticidas e fertilizantes
químicos; é severamente restrita a utilização de medicamentos
antibióticos em animais; é fundamental a rotação das culturas (alternar
espécies vegetais para evitar exaustão do solo) e não se utilizam OGM's
(organismos geneticamente modificados).
O mercado de produtos biológicos europeu está em expansão,
representando cerca de 30,7 bilhões de euros por ano, segundo o
Escritório Europeu de Estatística (Eurostat). Mas, apesar de a
agricultura orgânica ter crescido nos últimos anos, representa ainda
apenas 7% da área agrícola total, cerca de 12 milhões de hectares. A
diferença entre a procura e a oferta é coberta pelo crescimento das
importações de países da fora da UE.
Na UE, apenas quatro países são responsáveis por 54,4% da área total
dedicada à agricultura biológica. São eles a Espanha (16,9%), Itália
(15,1%), França (12,9%) e Alemanha (9,5%). Entre os tipos de culturas,
45,1% são pastagens, sobretudo para a criação biológica de gado, e 44%
são cereais, legumes e forragens verdes. Apenas 10,9% são de árvores
frutíferas e bagas, olivais e vinhas.
As novas regras foram aprovadas pelos eurodeputados em abril deste
ano. No entanto, o novo regulamento entrará em vigor apenas no dia 1º de
janeiro de 2021. Até lá, as instituições comunitárias vão definir as
regras para a implementação da nova lei.
Para Jaime Ferreira, presidente da Agrobio - Associação Portuguesa de
Agricultura Biológica, apesar de a nova legislação ser satisfatória em
diversos aspectos, ela também tem pontos negativos.
Ele teme que seja aprovada a possibilidade de os diferentes
estados-membros poderem definir níveis mínimos de contaminação. Isso não
significa a autorização de uso de pesticidas, e sim a aceitação de
contaminação de natureza externa, por problema no ar, por exemplo, ou no
processo de transporte dos produtos.
"Ou seja, que cada estado-membro admita que existem fatores
ambientais externos e que pode haver contaminação mesmo nos produtos
biológicos - e que isso possa ser aceito desde que não passe de
determinado nível de contaminação. Nós somos absolutamente críticos
quanto a isso e achamos que esses produtos deveriam estar fora do
mercado e não poderem nunca ser comercializados", disse Jaime.
Outra preocupação da Agrobio é a redução dos controles obrigatórios.
De acordo com o Parlamento Europeu, serão mantidos os controles anuais
feitos em todos os processos de produção. No entanto, o intervalo de
inspeção pode ser ampliado para até 24 meses se não se verificar nenhuma
irregularidade ou infração nos últimos três anos.
Para Jaime, o intervalo de dois anos entre uma inspeção e outra é
muito longo e não traz benefícios. "Em dois anos muita coisa pode
acontecer!".
Para o português, o Brasil é um país que gera sempre grande interesse
por seus produtos orgânicos. "Sobretudo os que nós não produzimos.
Apreciamos a qualidade dos produtos do Brasil, que têm sempre a porta
aberta, desde que, obviamente, cumpram as regras europeias".
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