O Paraguai, impulsionado por sua imensa produção de soja, se converteu
em líder da navegação fluvial na América Latina. Chegou também ao terceiro lugar no ranking mundial dessa atividade, superado apenas
por Estados Unidos e China.
O país é banhado por caudalosos rios, mas não tem saída para o mar, dependendo de terminais nas nações vizinhas. Na
temporada 2016/2017, suas exportações de soja atingiram mais de 6 milhões
de toneladas. Os principais mercados foram a União Europeia e a Rússia.
O rio Paraguai, que nasce no Brasil e banha também um trecho da
Bolívia, ao norte, percorre o país guarani por cerca de mil quilômetros. Depois se une ao caudaloso rio Paraná, na fronteira com a Argentina, e
desemboca no rio da Prata, em um percurso total de cerca de 3.000
quilômetros.
É um dos mais longos cursos fluviais do planeta.
A frota paraguaia de transporte fluvial é operada por 46 empresas internacionais e sete companhias nacionais. É formada por mais de 3.000 barcaças e 200 rebocadores, que
transportam carga a portos do Uruguai e da Argentina, para trasbordo a
cargueiros que a conduzem a Europa, Ásia e Estados Unidos.
“Nos anos 90, com a alta no preço das matérias-primas, o Paraguai
começou a semear soja em escala maciça”, afirmou Guillermo Ehreke,
diretor da Shipyard, empresa de navegação fluvial.
“Isso coincidiu com a assinatura do Tratado Mercosul [Argentina,
Brasil, Paraguai e Uruguai] em 1991 e com o tratado da hidrovia
Paraguai-Paraná [Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai], em
1992, o que criou uma via de navegação livre”, acrescentou.
O Paraguai avançou de uma produção de 700 mil toneladas de soja, na
safra de 1992/1993, para 4,5 milhões de toneladas em 2002/2003. Hoje, o país é o sexto maior produtor mundial da oleaginosa, com 10,2
milhões de toneladas na safra 2016/2017, e o quarto maior exportador,
com 6,1 milhões de toneladas, segundo o Departamento da Agricultura dos
EUA.
E é sobre a soja que se baseia o crescimento econômico que o país
conquistou nos dez últimos anos, com média de crescimento de 4% ao ano. Além das facilidades que lhe foram propiciadas pelo tratado do
Mercosul e pela hidrovia, a indústria de navegação paraguaia também foi
impulsionada por uma dificuldade.
“A exportação de grãos acontecia por via terrestre, para Paranaguá,
no Brasil, onde o Paraguai opera um porto franco. Mas nos anos 90 o
Paraná proibiu o trânsito de transgênicos e bloqueou a passagem da
soja”, diz Ehreke.
No momento, as barcaças que descem os rios Paraguai e Paraná
transportam não só a produção de soja paraguaia. Parte da produção do
Brasil, o segundo maior produtor mundial da commodity, e minerais
extraídos na Bolívia também descem o rio. O usual é que entre 9 e 12 barcaças naveguem juntas, transportando carga equivalente à de 800 caminhões.
Em 2017, o tráfego nas vias fluviais paraguaias chegou aos 21 milhões
de toneladas. A estimativa é que ele atinja os 56 milhões de toneladas
em 2030, afirma Juan Carlos Muñoz, presidente do centro de armadores do
Paraguai. “O tráfego vai triplicar com a abertura do porto de Concepción e em
seguida de Carmelo Peralta [400 km e 650 km, respectivamente, ao norte
de Assunção] para que a soja produzida no Mato Grosso do Sul possa ser
transportada aos portos de exportação.” Carmelo Peralta faz fronteira com o Brasil, na altura de Porto Murtinho (MS).
Muñoz lembra que a esses carregamentos de soja é preciso somar os minerais que a Bolívia exporta de suas minas.
O setor de navegação responde por cerca de 2,3% do PIB (Produto
Interno Bruto) paraguaio no ramo de serviços, com investimento de US$ 5
bilhões em equipamentos e faturamento anual de US$ 800 milhões. O setor
gera 5,4 mil empregos diretos e 16 mil empregos indiretos. A frota fluvial paraguaia começou com embarcações usadas que operavam
no rio Mississipi nos Estados Unidos, importadas para o país pela
Cargill. Também se nutriu de empresas argentinas de navegação fluvial
que nos anos 90, na presidência de Carlos Menem, foram autorizadas a
operar sob a bandeira paraguaia.
“O Paraguai se tornou muito atraente, com seu sistema tributário de
baixa pressão. Com o tempo, a capacidade de manutenção e reparo foi se
desenvolvendo, e também surgiram empresas de construção naval”, diz
Ehreke. Mas apesar de seu rápido crescimento no transporte de carga, a frota
fluvial praticamente não existe em termos de transporte de passageiros. “Há cerca de 250 mil pessoas que vêm a cada dia das áreas suburbanas
até Assunção, para trabalhar. O novo desafio é criar uma frota fluvial
de transporte de passageiros, o que requer embarcações e atracadouros”,
diz Ehreke.
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