A movimentação total de cargas nos portos
brasileiros caiu 1,6% em 2019, na comparação com o ano anterior. Segundo
a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), o resultado
negativo deve-se principalmente à queda na movimentação de minério de
ferro, em decorrência do problema gerado pelo rompimento da barragem de
Brumadinho, em Minas Gerais, e devido ao grande volume de chuvas em
algumas minas onde a empresa Vale opera.
De acordo com o anuário estatístico
referente ao ano passado, divulgado nesta quinta-feira, 13, pela Antaq, o setor
portuário nacional movimentou 1,104 bilhão de toneladas em 2019. Os
terminais de uso privados (TUPs) foram responsáveis por 66% do total
movimentado, e os públicos (portos organizados), por 34%.
“Se o minério de ferro tivesse repetido o
resultado de 2018, a situação seria outra, e teríamos crescimento de
1,9% no total movimentado”, disse o diretor-geral da Antaq, Mário Povia.
Ele informou que o minério de ferro representa 33% de toda a
movimentação portuária do país. Em 2019, a movimentação desse minério
diminuiu em 39,2 milhões de toneladas, na comparação com 2018, quando
chegou a 367,8 milhões de toneladas.
O transporte de soja pelos portos caiu 10%
em relação ao ano anterior, registrando movimentação de 92,4 milhões de
toneladas nos terminais do país. Outro fator que prejudicou a
movimentação portuária foi a queda no Produto Interno Bruto (PIB, soma
de todos os bens e serviços produzidos em um país) da China, um dos
maiores compradores das commodities (produtos primários com cotação internacional) brasileiras.
Por outro lado, petróleo e derivados tiveram aumento de 11% no mesmo período, chegando a 224,7 milhões de toneladas. O milho, commoditiy
que tomou o lugar da soja em muitas regiões, também aumentou
significativamente no uso do sistema portuário para exportação,
atingindo 55,7 milhões de toneladas, número 75% maior do que o
registrado em 2018.
O porto mais movimentado entre os
organizados (públicos) foi o de Santos, em São Paulo, com 106,2 milhões
de toneladas movimentadas. Paranaguá, no Paraná, ficou em segundo lugar,
com 47,5 milhões de toneladas, seguido de Itaguaí, no Rio de Janeiro,
com 43,2 milhões de toneladas.
Entre os portos privados, a liderança foi do
terminal Ponta da Madeira, no Maranhão, que movimentou 190,1 milhões de
toneladas, seguido de Tubarão, no Espírito Santo, com 76,4 milhões de
toneladas, e do Terminal da Baía da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, que
movimentou 51,9 milhões de toneladas.
Entre os destaques apontados pelo
diretor-geral da Antaq estão os portos localizados no chamado Arco
Norte, responsáveis pela movimentação da soja e do milho produzidos
principalmente no Centro-Oeste. Este grupo é formado por seis portos da
Região Norte e um do Nordeste: Porto Velho, em Rondônia, Miritituba,
Barbacena e Santarém, no Pará; Itacoatiara e Manaus, no Amazonas; e
Itaqui, no Maranhão.
“Em apenas nove anos, esses portos
aumentaram em 491% a movimentação de soja e milho para o exterior”,
informou o superintendente de Estatística da Antaq, Fernando Serra.
Segundo a agência, em 2010, os portos do Arco Norte eram responsáveis
por 14,4% dos 42,5 milhões de toneladas de milho e soja exportados via
portos. Serra ressaltou que, em 2019, o percentual mais que dobrou,
subindo para 31,9%, de um total de 113,8 milhões de toneladas desses
dois produtos.
De acordo com Mário Povia, alguns fatores
explicam o aumento de movimentação no Arco Norte. “Estamos colhendo
frutos de investimentos feitos em infraestrutura desde o Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC), com o objetivo de facilitar o acesso a
portos localizados ao Norte”, explicou Povia, referindo-se tanto ao
modal rodoviário (BR-163), quanto ao ferroviário (Ferrovia Carajás) e
hidroviário (novos terminais portuários, dragagens).
“Boa parte da produção do Centro-Oeste, em
especial de Mato Grosso e de Rondônia, mudou seu eixo de escoamento, do
Sudeste para o Arco Norte, que é favorecido pela localização da saída do
Rio Amazonas, muito mais perto do Canal do Panamá [por meio do qual as
embarcações têm acesso ao Oceano Pacífico] e dos mercados europeu e
norte-americano”, acrescentou.
Os diretores da Antaq manifestaram otimismo
com o futuro da cabotagem (navegação entre portos de um mesmo país)
brasileira. Um dos motivos para o otimismo é o projeto denominado BR do
Mar, uma das frentes de ação previstas no Programa de Parcerias de
Investimentos (PPI).
O BR do Mar é uma política de estímulo à
cabotagem, a ser feita por meio de ajustes na legislação visando a
aumentar a oferta, incentivar a concorrência, criar mais rotas e reduzir
custos desse tipo de navegação, de forma a fazer dela uma alternativa
logística à rodovia.
“Claro que a greve dos caminhoneiros foi um
grande contribuinte para isso”, disse Povia. “Há muito espaço para a
cabotagem crescer no Brasil, país que tem 8,5 mil quilômetros de costa.
Vale lembrar que produção e consumo estão muito perto da costa
brasileira. Temos de azeitar isso”, acrescentou. O anuário estatístico referente a 2019
abrange 215 instalações portuárias, sendo 34 portos organizados; 147
TUPs, 32 estações de transbordo de carga e duas instalações portuárias
de turismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário