O
presidente da Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo), Casemiro Tércio
Carvalho, perto de completar 100 dias no cargo, começa a preparar o terreno
para uma futura abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) da empresa. O
caminho até um IPO será longo - com uma série de reestruturações internas e
concessões de áreas geridas pela autoridade portuária -, mas o executivo já
sinaliza algumas regras que poderão ser incluídas na modelagem, como a adição
de uma "golden share" detida pelo governo e um teto de participação
acionária por grupo econômico.
"Estamos propondo uma abertura
de capital, ou seja, o Estado continua acionista. Existe um termo chamado
'golden share'. Para alguns eventos, o Estado pode vetar. Esse tipo de mão do
Estado pode ser incluída dentro do regulamento da abertura de capital",
afirmou Tércio. Ele ainda indicou que há uma preocupação em evitar conflitos de
interesse entre a autarquia que controla a operação e empresas que arrendam
áreas dentro do porto.
"Na abertura de capital, podemos limitar
o controle a, por exemplo, 20% ou 30%, para não ter um grupo econômico sozinho
sendo acionista da companhia. E obviamente criando regras para não ter conflito
entre o capital privado da autoridade portuária versus arrendatário",
disse. No entanto, antes de debater qualquer cenário para um futuro IPO, a
equipe de Tércio tem como desafio criar uma estrutura de governança para a
operação, marcada por escândalos de corrupção nos últimos anos, e gerar valor
para a companhia.
"Com todo o passivo que a
Codesp tem hoje, ninguém pagaria um centavo pela companhia. A ideia é gerar
valor futuro para a empresa e, então, atrair dinheiro do setor privado",
diz Tércio. Em 2018, a companhia docas terminou o ano com um rombo de R$ 468,7
milhões, provocado principalmente pela dívida do grupo Libra, que está em
recuperação judicial. Sem isso, a autoridade portuária poderia ter registrado
um resultado positivo de R$ 50 milhões no ano passado.
A situação de Libra é um dos
principais desafios a serem destravados: além da dívida em si, a Codesp estuda
o que fazer com o terminal. Na terça-feira, a empresa em recuperação judicial
apresentou seu plano de desmobilização da área, que vinha sendo utilizada para
contêineres. A autoridade portuária já está em negociação com a Suzano e a
Eldorado para que o local seja usado para escoamento da celulose de Três Lagoas
(MS). No Estado, são produzidas cerca de 7 milhões de toneladas por ano, e
parte dessa celulose hoje vai para outros portos, como Paranaguá (PR) e São
Francisco do Sul (SC).
Segundo Tércio, ainda não há uma
definição para o uso da área. Foram iniciados estudos para decidir seu destino
que, diz ele, poderá ser para celulose ou contêineres. "Vamos fazer a análise
comparativa. O nosso critério é a geração de valor. Interessados existem tanto
para contêineres como para celulose. Os estudos estão em andamento",
afirmou a jornalistas após o seminário.
Santos, destacou o executivo, é o
"destino natural" para o escoamento da celulose de Três Lagoas devido
à proximidade com o porto. Outro passo importante a ser tomado pela nova gestão
da autoridade portuária é a concessão do canal de navegação, que deverá incluir
também dragagem, monitoramento ambiental, balizamento e gestão do tráfego.
Um rascunho dessa concessão, que
deverá ter concorrência internacional, foi apresentado em recente viagem do
executivo à China. "Eles ficaram entusiasmados. O mercado de dragagem está
concentrado em 'players' europeus, principalmente holandeses e belgas. Colocar
um novo 'player' traz competitividade, puxa preço dos contratos para baixo.
Esse é nosso interesse", disse o presidente, que preferiu não abrir os
valores previstos. "O custo ainda precisa ser aprimorado, até em função do
projeto de aprofundamento [do canal]. Queremos aprofundar para 16 metros. Então
qualquer número que eu dê agora é um chute", afirmou.
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