sexta-feira, 3 de maio de 2019

Codesp prepara abertura de capital na Bolsa, com a privatização adiada


           O presidente da Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo), Casemiro Tércio Carvalho, perto de completar 100 dias no cargo, começa a preparar o terreno para uma futura abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) da empresa. O caminho até um IPO será longo - com uma série de reestruturações internas e concessões de áreas geridas pela autoridade portuária -, mas o executivo já sinaliza algumas regras que poderão ser incluídas na modelagem, como a adição de uma "golden share" detida pelo governo e um teto de participação acionária por grupo econômico.
          "Estamos propondo uma abertura de capital, ou seja, o Estado continua acionista. Existe um termo chamado 'golden share'. Para alguns eventos, o Estado pode vetar. Esse tipo de mão do Estado pode ser incluída dentro do regulamento da abertura de capital", afirmou Tércio. Ele ainda indicou que há uma preocupação em evitar conflitos de interesse entre a autarquia que controla a operação e empresas que arrendam áreas dentro do porto.
           "Na abertura de capital, podemos limitar o controle a, por exemplo, 20% ou 30%, para não ter um grupo econômico sozinho sendo acionista da companhia. E obviamente criando regras para não ter conflito entre o capital privado da autoridade portuária versus arrendatário", disse. No entanto, antes de debater qualquer cenário para um futuro IPO, a equipe de Tércio tem como desafio criar uma estrutura de governança para a operação, marcada por escândalos de corrupção nos últimos anos, e gerar valor para a companhia.
           "Com todo o passivo que a Codesp tem hoje, ninguém pagaria um centavo pela companhia. A ideia é gerar valor futuro para a empresa e, então, atrair dinheiro do setor privado", diz Tércio. Em 2018, a companhia docas terminou o ano com um rombo de R$ 468,7 milhões, provocado principalmente pela dívida do grupo Libra, que está em recuperação judicial. Sem isso, a autoridade portuária poderia ter registrado um resultado positivo de R$ 50 milhões no ano passado.
          A situação de Libra é um dos principais desafios a serem destravados: além da dívida em si, a Codesp estuda o que fazer com o terminal. Na terça-feira, a empresa em recuperação judicial apresentou seu plano de desmobilização da área, que vinha sendo utilizada para contêineres. A autoridade portuária já está em negociação com a Suzano e a Eldorado para que o local seja usado para escoamento da celulose de Três Lagoas (MS). No Estado, são produzidas cerca de 7 milhões de toneladas por ano, e parte dessa celulose hoje vai para outros portos, como Paranaguá (PR) e São Francisco do Sul (SC).
          Segundo Tércio, ainda não há uma definição para o uso da área. Foram iniciados estudos para decidir seu destino que, diz ele, poderá ser para celulose ou contêineres. "Vamos fazer a análise comparativa. O nosso critério é a geração de valor. Interessados existem tanto para contêineres como para celulose. Os estudos estão em andamento", afirmou a jornalistas após o seminário.
          Santos, destacou o executivo, é o "destino natural" para o escoamento da celulose de Três Lagoas devido à proximidade com o porto. Outro passo importante a ser tomado pela nova gestão da autoridade portuária é a concessão do canal de navegação, que deverá incluir também dragagem, monitoramento ambiental, balizamento e gestão do tráfego.
          Um rascunho dessa concessão, que deverá ter concorrência internacional, foi apresentado em recente viagem do executivo à China. "Eles ficaram entusiasmados. O mercado de dragagem está concentrado em 'players' europeus, principalmente holandeses e belgas. Colocar um novo 'player' traz competitividade, puxa preço dos contratos para baixo. Esse é nosso interesse", disse o presidente, que preferiu não abrir os valores previstos. "O custo ainda precisa ser aprimorado, até em função do projeto de aprofundamento [do canal]. Queremos aprofundar para 16 metros. Então qualquer número que eu dê agora é um chute", afirmou.

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