Com a tramitação da reforma da
Previdência em ritmo menor do que o esperado, o mercado financeiro tem reduzido
cada vez mais a previsão para o crescimento da economia este ano. O fraco
desempenho da economia foi apontado na última semana pelo
Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que apresentou queda
de 0,68% no primeiro trimestre deste ano.
No início do ano, a previsão de
instituições financeiras consultadas pelo Banco Central (BC) para o crescimento
do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no
país), era de 2,5%. Agora,
após 11 reduções consecutivas na pesquisa semanal, chega a 1,45%.
Economistas e o governo argumentam
que, sem a reforma da Previdência, o endividamento do governo aumenta e diminui
a confiança dos investidores sobre a capacidade de o país de honrar os
pagamentos da dívida pública. Com isso, os investimentos são reduzidos e há
comprometimento da capacidade de criar emprego e gerar crescimento econômico.
O professor de macroeconomia do
Ibmec-RJ e economista da Órama Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários
Alexandre Espírito Santo disse que, no final do ano passado e início de 2019,
os analistas acreditavam que a reforma da Previdência, por ser considerado o
principal problema fiscal do país, tramitaria de forma mais célere no Congresso
Nacional. “Por ser mais ou menos um consenso na sociedade que é necessário
fazer a reforma, acreditávamos que ia tramitar de maneira célere, que a gente
teria no final do primeiro semestre a reforma encaminhada no Congresso Nacional
com grandes chances de estar aprovada. Entretanto, depois que o governo
começou, as coisas não fluíram dessa forma”.
Na visão do economista, o governo
precisa focar na aprovação da reforma. “A articulação política é um problema
até de alguma forma natural porque é um governo novo. Apesar de ter pessoas com
experiência, governos quando são colocados pela primeira vez encontram dificuldades.
Só que o país infelizmente está precisando de velocidade. A gente tem muito
desemprego e crescimento pífio”, argumentou.
Para ele, há grande chance de a
reforma ser “desidratada”. “Dependendo de quanto for desidratada é um problema,
porque o país precisa dessa poupança. Os empresários que estavam querendo
começar a investir adiaram os investimentos para quando efetivamente a reforma
sair e a gente tiver efetivamente os números na mãos. E aí rapidamente as
revisões [para o crescimento do PIB] aconteceram”, afirmou
No último dia 14, na ata
da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC adiantou que a economia
pode apresentar recuo no primeiro trimestre deste ano. Segundo o documento, o
processo de recuperação gradual da atividade econômica sofreu interrupção no
período recente, mas a expectativa é de retomada adiante.
Na quinta-feira (16), o presidente do
BC, Roberto Campos Neto, afirmou que o desempenho recente da economia foi
decepcionante. Ele destacou que é preciso resolver a situação fiscal para o
país voltar a ter investimentos. “Ficamos decepcionados com o resultado”,
disse.
Campos Neto acrescentou que existia a
expectativa no mercado financeiro de que, após eleição, a questão fiscal fosse
rapidamente resolvida. Entretanto, como isso não ocorreu, o mercado está em
processo de espera pelas reformas. "Incertezas continuam no ar. Isso
explica um pouco esse adiamento da decisão de investir".
O ministro da Economia, Paulo Guedes,
disse no dia 14, que a equipe
econômica já está trabalhando com uma previsão de crescimento de 1,5% neste ano. Segundo ele, a reformulação de
expectativas diante da demora na aprovação da reforma da Previdência justificou
a revisão das estimativas.
O governo deve divulgar no próximo
dia 22, a nova previsão para o crescimento da economia neste ano. Em março, o
governo previa expansão de 2,2%. Com a desaceleração do crescimento econômico,
as receitas do governo diminuem, o que provavelmente tornará necessário novo
contingenciamento (bloqueio) de verbas do Orçamento deste ano. O resultado do PIB do primeiro
trimestre deste ano será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) no próximo dia 30.
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