A
operadora Granel Química acredita que sua saída de um dos terminais da Ilha
Barnabé, onde opera granéis líquidos há 27 anos, vai gerar transtornos a
funcionários, clientes e o governo que, segundo a empresa, deve perder cerca de
R$ 6 milhões por ano, até 2024. A área será ocupada pela Ageo Norte Terminais e
Armazéns Gerais, vencedora do leilão do lote STS13, que engloba a instalação.
Os problemas foram apontados pelo
gerente geral da Granel, Marcelo Schmitt. De acordo com ele, não foi pensada em
uma transição entre as operadoras, o que poderia ter sido previsto antes do
leilão, como a inclusão da compra dos tanques e tubulações da Granel, que, sem
acordo entre as partes, serão removidos e sucateados.
Schmitt explica que as tubulações e
os 99 tanques pressurizados, com capacidade de 97.720 m³, foram esquecidos ao
longo do processo. A área foi arrendada no modelo greenfield (sem
infraestrutura) e, portanto, as empresas tiveram que negociar a compra e a
venda da estrutura.
“Se o Governo definisse com a Granel Química
um valor dos ativos e o incluísse na metodologia do leilão, o vencedor pagaria
a outorga para o Governo, pelo direito da utilização da área [por 25 anos] e um
valor já definido para a empresa atual dona dos removíveis, [tanques, tubulações...].
Isso não aconteceu”, afirmou.
Sem acordo, a Graneltem de desmontar
os tanques e das tubulações. O processo já foi iniciado. Os clientes devem
remover seus produtos até o próximo dia 15. Depois, a empresa terá 90 dias para
liberar a área.
“[A situação] vai gerar um hiato na
tancagem de carga, no trabalho e na receita da autoridade portuária. A Ageo
levará de três a cinco anos para construir o terminal e obter as licenças para
começar a operar. Portanto, queremos esclarecer que não vai existir a
modernização dos ativos atuais, uma vez que eles serão desmontados e
sucateados”.
Schmitt explica que sucatear a
estrutura é mais vantajoso do que vendê-la ou remontá-la no novo terminal, a
ser inaugurado em terreno próprio de 100 mil m², entre setembro e outubro, na
Alemoa. E conta que já havia sido contratada uma nova estrutura, que nesta
primeira fase de construção terá 17 tanques, totalizando 52 mil m³.
O gerente da Granel diz que, hoje, a
empresa conta com 110 funcionários na área. Desses, uma parcela ajudará a
desmontar os tanques e tubulações, outros vão atuar no novo terreno e os demais
serão realocados entre as nove unidades da empresa espalhadas pelo país. Mas
Schmitt não sabe quantos profissionais conseguirá manter por quatro ou seis
meses. “Estamos debruçados nesse desafio”. A empresa vencedora do leilão foi
procurada pela Reportagem, mas não quis se pronunciar sobre os apontamentos
feitos pela Granel química.
A Companhia Docas do Estado de São
Paulo (Codesp) informa que não trabalha como cenário de perda de arrecadação
apontado pela Granel. Conforme a estatal, mesmo sem a Ageo iniciar a operação,
a carga movimentada naquela área continuará no Porto de Santos, sendo absorvida
pelo parque de tancagem instalado no complexo portuário da região.
A autoridade portuária destaca,
ainda, que o prazo regular do contrato de arrendamento assinado com a Granel
Química, em 1992, para explorar a área terminou em 2012. “A Granel entrou na
Justiça e passou a operar liminarmente por aproximadamente mais sete anos. Em
junho de 2018, a Agência de Transportes Aquaviários [Antaq] publicou, com ampla
publicidade, o edital de licitação para arrendamento do terminal na modalidade
leilão, que ocorreu em setembro”.
Quanto ao contrato de transição proposto
pela Granel, a Codesp informa que tal instrumento é válido apenas para
regularizar temporariamente a ocupação de área portuária enquanto não é
ultimado seu processo licitatório. “Já definida a ocupação por um novo
arrendatário, resta à Granel tomar as providências necessárias para desocupar o
terreno, sendo inaplicável a celebração de contrato de transição. Inclusive,
tal condição já foi decidida em juízo no mês de abril”. Com relação ao prazo
estimado pela Granel para a construção de novas instalações no terminal, a
Codesp aponta que, segundo especialistas, a montagem deve demorar até dois anos
(e não entre três e cinco como dito pela empresa).
O gerente geral da Granel, Marcelo
Schmitt, alerta que “algumas indústrias e segmentos serão extremamente
afetados. Temos um cliente que trabalha com caulim [matéria prima para o papel
e celulose] e a única empresa que tem tanques com agitadores dinâmicos para
esse produto, em Santos, é a Granel”.
Outro cliente que sofrerá, segundo
ele, é a Petrobras. “Armazenamos gasolina de aviação civil para jatos
particulares. A Granel é a única empresa, hoje, com tanques homologados pela
Agência Nacional do Petróleo para receber esses produtos. Essas situações interferem
no custo dos produtos no mercado e na perda das empresas para o cais santista.
Tem cliente tirando o produto do Porto de Santos para levá-lo ao Porto de
Paranaguá [PR]”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário