Ao mesmo
tempo que os dois candidatos à Presidência da República têm demonstrado
preocupação com a participação de estrangeiros na infraestrutura, um
levantamento mostra que o capital externo está avançando no setor. É o dinheiro
vindo de fora que tem garantido os investimentos em petróleo e gás,
eletricidade, água, transporte e comunicações no País. Os estrangeiros, que em
2010 respondiam por 27% dos investimentos privados em infraestrutura no Brasil,
agora, respondem por 70%.
A crise econômica e a Operação Lava
Jato, que afetaram em cheio o negócio das grandes empreiteiras, fizeram os
investidores nacionais perderem relevância nas obras de infraestrutura. Nesse
período, o volume total de investimentos privados anunciados no setor também
despencou: de US$ 142 bilhões, em 2010, para US$ 49,3 bilhões no ano
passado.
Os dados são de um levantamento da
Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização
Econômica (Sobeet). É baseada nos investimentos privados anunciados para o
setor e coletados pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e
Serviços.
Para o presidente da Sobeet, Luís
Afonso Lima, o levantamento deixa claro que o novo governo não pode menosprezar
os investidores estrangeiros. “É preciso estimular esse investidor, porque o
nacional não está dando conta.” Os estrangeiros, segundo o estudo, têm
investido mais em projetos novos – cujo potencial para gerar emprego e renda é
maior – do que os brasileiros. Desde 2004, a parcela de capital externo
destinada a projetos que começaram do zero foi de 28%, ante 23% do capital
nacional.
No programa de Jair Bolsonaro (PSL),
a proposta é expandir ferrovias, rodovias e aeroportos, principalmente, com
recursos privados. Mas o candidato já declarou restrições à presença chinesa na
infraestrutura. O programa de Fernando Haddad (PT) fala em impulsionar o
financiamento nacional, com a criação de um fundo constituído com reservas
internacionais. A equipe do candidato considera arriscado depender do capital
externo.
Para o especialista em infraestrutura
Claudio Frischtak, presidente da consultoria Inter.B, o investimento
estrangeiro é muito bem-vindo, desde que obedeça às leis. “Nossa infraestrutura
está completamente depreciada”, diz o economista. Neste ano, o investimento
público e privado na infraestrutura deve representar 1,7% do PIB. Segundo o
Ipea, seriam necessários aportes de 4,15% do PIB ao ano, por duas décadas, para
modernizar o setor. "O investimento estrangeiro é uma alternativa, não sei
se para sempre, mas nessa transição, enquanto o setor público estiver muito
acanhado, temos de contar com ele”, diz Frischtak.
O presidente da Associação Brasileira da
Infraestrutura e Indústrias de Base, Venilton Tadini, não vê problemas no
avanço do investimento estrangeiro na infraestrutura. “O importante é ter
agências reguladoras devidamente estruturadas.”
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