O
candidato do PSL, Jair Bolsonaro, líder nas pesquisas nas eleições do próximo
dia 28 de outubro para a presidência da República, vem provocando ruídos nos
negócios do Brasil com o exterior. Seu plano de mudar a embaixada do Brasil em
Israel para Jerusalém põe em risco um volume de exportações de US$ 13 bilhões
ao ano em carne bovina e de aves para o mercado muçulmano, que é apoiador da
causa palestina. Já as declaradas restrições à presença chinesa na
infraestrutura lançam dúvidas sobre uma carteira bilionária de investimentos
que poderão ser aportados no País.
Mas, embora causem preocupação pelo
potencial de estrago que trariam, essas declarações ainda não são tomadas como
100% certas. A elas é dado um desconto, pelo fato de terem sido feitas num
contexto de campanha eleitoral. A avaliação é feita, por exemplo, pelo
presidente da Bahia Mineração, Eduardo Ladsham. “À medida que ele conhecer as
relações comerciais (entre Brasil e China) vai perceber que é fundamental ter
uma parceria.”
Também o responsável pela Cadeia de
Suprimentos Agrícolas da Cargill na América do Sul, Paulo Sousa, recomendou
cautela com o ambiente “quente” do período eleitoral. “O Brasil precisa da
China e a China do Brasil. A China tem a demanda pelos produtos agrícolas do
Brasil, como a soja. A China tem capital para investir em infraestrutura no
Brasil.”
Sobre a possível mudança da embaixada
brasileira em Israel, o consultor em comércio exterior Welber Barral disse que
“esse é um tema central para o mundo árabe e para os muçulmanos em geral”. Ele,
porém, acredita que essa posição pode mudar após as eleições.
Essa também é a leitura que circula
nos meios diplomáticos árabes. Por enquanto, a palavra de ordem é cautela. Nos
meios técnicos, o risco de redução de compras do Brasil, principalmente de
carne, é encarado com preocupação. A avaliação é que os países muçulmanos podem
procurar outros fornecedores internacionais.
O ministro da Agricultura, Blairo
Maggi, informou que até o momento não recebeu nenhuma reclamação. “Tenho
recebido embaixadores de países árabes, mas ninguém disse nada”, afirmou ele. Bolsonaro
também entrou em rota de colisão com a China, principal parceiro comercial do
País, com uma corrente de comércio de US$ 74 bilhões só de janeiro a setembro
deste ano. Na semana passada, ele declarou, em entrevista à TV Bandeirantes,
que não venderia geradoras de energia a investidores daquele país. “A China não
está comprando no Brasil, ela está comprando o Brasil”, disse. “Você vai deixar
o Brasil na mão do chinês?”
Segundo um integrante da equipe que
trabalha no programa de governo do candidato, o sociólogo Antônio Flávio Testa,
a fala de Bolsonaro expressa principalmente uma preocupação com a aquisição de
terras no País e o risco de controle na produção agrícola nacional. “Mas não
podemos prescindir dos investimentos chineses.”
No início deste ano, o candidato fez
uma visita a Taiwan, ilha que não reconhece o predomínio da China continental.
Ele estava com os filhos e o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que deverá
ocupar a Casa Civil caso o candidato do PSL vença as eleições. A visita resultou
em uma carta de protesto enviada pela Embaixada da China ao DEM e publicada nas
redes sociais em março pelo vereador do Rio de Janeiro César Maia. O Brasil não
tem relações diplomáticas com Taiwan.
O presidente da Vale, Fabio
Schvartsman, disse ontem esperar que Bolsonaro não adote uma política externa
que mexa nas relações Brasil-China. A China é o maior cliente da Vale, destino
de mais de 60% do minério de ferro vendido pela companhia. Bolsonaro, porém,
questionou o apetite da potência asiática por ativos brasileiros no setor
elétrico. “Para a Vale, a preocupação é muito pequena tendo em vista nossa
mútua dependência (China e Vale). Mas não é bom para ninguém. Disputas não
trazem benefício e, se não é bom para ninguém, não é bom para a Vale”, afirmou
após participar do FT Commodities Summit 2018, no Rio.
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