quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Grimaldi estuda entrar na área de operação de terminais portuários no Brasil


         Uma das maiores empresas de navegação no segmento de navios multipropósito - que combinam o transporte de veículos, cargas gerais e contêineres -, o armador italiano Grimaldi está mudando o comando no Brasil e se prepara para investir em terra. A empresa, dona de uma frota de 102 embarcações, estuda entrar na operação de terminais portuários, nicho em que já atua lá fora geralmente em parceria com operadores portuários - modelo que deve repetir no Brasil.
         O interesse recai sobre as duas áreas para terminais multipropósito do programa federal de arrendamentos: uma no porto de Santos (SP) e outra no de Suape (PE). "Suape já tem uma infraestrutura enorme", diz o principal diretor da Grimaldi no Brasil, Helder Malaguerra, que deixa o cargo no fim de 2015, após 30 anos na empresa. Em seu lugar tocarão a subsidiária brasileira Miguel Malaguerra e Gilberto Mazzetto, executivos na companhia.
         Os lotes em Santos e Suape integram o pacote de 90 áreas em portos públicos a serem arrendadas à iniciativa privada até o fim de 2016. Mas os editais ainda não foram lançados.
Hoje a atuação da Grimaldi no Brasil limita-se ao transporte com seis navios dedicados a cobrir os tráfegos de longo curso. As embarcações escalam a cada dez dias os portos de Santos, Vitória (ES), Rio de Janeiro (RJ) e Paranaguá (PR).
         Segundo Miguel, a parte portuária é "tanto a oportunidade como o fator de limitação" da Grimaldi no país. No primeiro caso encaixam-se os futuros terminais; no segundo, as restrições à vinda dos navios mais modernos devido às dimensões dos canais de navegação de alguns portos. O problema é a largura, não o calado (os navios da empresa têm calado na faixa de 10 metros). As embarcações mais novas da Grimaldi têm 36,4 metros de largura e não entram no porto de Vitória, onde o máximo permitido são 32 metros. "Vitória é um porto importante, há toda uma logística montada", diz.
         De acordo com o executivo, seria ideal que esse navios escalassem o Brasil, pois, em relação à frota antiga, eles tiveram um aumento pequeno de tonelagem bruta e um ganho exponencial na capacidade de transporte, especialmente para contêineres - de 800 para 1.400 contêineres. "A nossa fatia no mercado de contêiner tem aumentado devido à demanda e esses navios são mais adequados ao mix atual das cargas", diz Miguel.
         Gilberto Mazzetto diz que um dos desafios da empresa em 2016 é "continuar se reinventando". "Será um ano difícil tanto em relação a faturamento quanto a margens [de lucro]". Há 20 anos na Grimaldi, Mazzetto acompanha a mudança da matriz de carregamento dos navios, com aumento da fatia de contêineres sobre carga geral e veículos, fruto do processo mundial de conteinerização. Contudo, esse movimento não ameaça a escolha que a empresa fez lá atrás de ser um armador multipropósito em vez de apostar todas as fichas no transporte de contêineres - indústria que enfrenta sobra de capacidade e nova onda de consolidação.
         O convés multiuso permite à empresa balancear o mix de carregamento conforme oscila o mercado de cada carga. "Muitos armadores desapareceram nos últimos 30 anos. A Grimaldi, corretamente, dirigiu o foco para nichos e hoje somos um dos maiores no setor ro-ro [cargas rolantes]", diz Helder.
De capital fechado e 100% familiar, a Grimaldi surgiu em 1943 na esteira da reconstrução da Itália após a queda do ditador Mussolini.
          A empresa não divulga faturamento, mas afirma que os navios no Brasil têm operado com ocupação entre 80% e 90%. Nos últimos anos, contudo, retirou capacidade dos tráfegos com o Brasil. Há seis anos chegou a ter, por curtos períodos, 15 embarcações dedicadas às rotas brasileiras. Em 2013 eram sete e desde 2014 são seis.
         Em meio à crise brasileira, uma das perspectivas positivas vem da Argentina, com o novo governo. "Nos últimos anos as barreiras indiretas resultaram em queda significativa. No passado a média de troca entre os dois países era de 800 mil veículos por ano. Nos últimos anos está abaixo de 500 mil", diz Miguel. Há três anos a Grimaldi encerrou o serviço de navegação dedicado entre os dois países.
         Além do setor automotivo a Grimaldi está atenta a investimentos em infraestrutura na Argentina que demandarão transporte de grandes peças. "A Argentina terá de renovar seu parque industrial. E esse é um tipo de carga importante para nós, que tira um pouco do peso da nossa dependência do contêiner", diz Mazzetto.

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