Entre mais de 400
pessoas que acompanharam os debates sobre o uso de tecnologias no agronegócio,
durante o Fórum de Agricultura da América do Sul, que ocorreu em Curitiba (PR)
neste sábado, 25, era comum ouvir conversas de gente que estava abrindo mão de
profissões consolidadas para voltar ao campo. Fernanda Frozza era uma delas.
Formada há 12 anos em direito, a advogada deixou graduação, mestrado e uma vaga
no Tribunal de Justiça do Paraná para voltar para a propriedade dos pais no
interior do estado.
“É uma questão cultural. São muitas
gerações que trabalham com a terra na minha família e meus pais são produtores
rurais. Trabalham com soja e milho e vi que posso aprender nessa realidade
familiar”, disse ela, ao descrever a inquietude que sentia com o cômodo
emprego. “Queria um trabalho que me conectasse mais com essa realidade incerta
e indeterminada. Estou buscando um conhecimento multidisciplinar e acho que a
agricultura trata muito sobre isto”, completou.
Fernanda agora se juntou aos pais e à
irmã, que já estava trabalhando na produção que funciona em modelo cooperativo
na região. Apesar de todos se manterem “antenados” com as informações sobre
produtividade, ela tem buscado se atualizar para incrementar os negócios da
família. “Participar desse fórum é justamente para ter ideia do que
está surgindo de novo dentro do novo agronegócio. É evidente o tanto que a
tecnologia aumenta a produtividade e traz facilidades para a vida dos
trabalhadores rurais, mas é necessário saber como utilizar tudo isso”, disse.
Essa capacitação e formação dos
profissionais que atuam no campo foi uma das questões mais debatidas entre
especialistas que exaltaram o volume de tecnologias disponíveis para o
agronegócio atualmente. O administrador Almir Merinerz, diretor da empresa SPRO
It Solutions, apresentou o projeto piloto que vem sendo desenvolvido há cerca
de um ano em granjas no interior do Paraná.
Um dos braços da empresa que desenvolve
sensores instalou 20 equipamentos dentro de aviários para monitorar a
ambiência, com verificação de temperatura, umidade, luminosidade, além de
balanças para controlar o peso dos frangos e das rações dispostas para os
animais. “Não é o sensor que faz a melhora da produtividade. Ele vai te dar o
dado que você transforma em informação importante e agir em cima das causas,
mudando o manejo. Esse manejo que vai te dar um resultado”, afirmou. Com o
monitoramento, o granjeiro e a agroindústria que coordena a produção recebe
informações sobre as condições locais e pode ajustar qualquer variável ainda no
ciclo de alojamento dos animais.
Segundo ele, o projeto experimental
em duas granjas já resultou em melhora na rentabilidade do lote de uma média de
25% em um ano. A ideia agora é replicar o modelo para mais propriedades, mas
Merinerz reconhece que a realidade de outras regiões, como o Centro-Oeste e
Nordeste do país enfrentam o problema da falta de conectividade com a internet
no campo.
De acordo com José Marcos Câmara Brito, do
Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), este é um desafio para grande
parte do país, mas também não é um problema exclusivo do Brasil. “Temos 4
bilhões de pessoas desconectadas no mundo todo”, disse. Segundo ele, as atuais
tecnologias como o 4G ainda estão limitados pelas taxas de transmissão de
dados, capacidade de chegar a distâncias superiores a 15 quilômetros de
distância ou alto custo. Brito disse que o setor privado tem feito esforço para
convencer a comunidade internacional a pensar em uma tecnologia 5G, que já vem
sendo desenvolvida, com foco também nesta área rural. De acordo com Brito, há
um protótipo baseado nessa nova tecnologia em desenvolvimento que pode chegar
ao mercado em 2020, podendo suprir essa lacuna da falta de conectividade no
campo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário