A crise
cambial na Turquia preocupa os pecuaristas brasileiros, sobretudo depois que o
país se transformou, neste ano, no destino de 80% das exportações de bovinos
vivos do Brasil. De janeiro a julho, as vendas de animais ao mercado turco renderam
US$ 240,9 milhões e colaboraram para o recorde dos embarques totais, que
alcançaram US$ 301,1 milhões no período e de longe já superaram o resultado de
todo o ano passado (US$ 276 milhões).
O alerta é maior no Rio Grande do
Sul, já que 100% das exportações que saem do Estado têm como destino a Turquia.
Como em outras regiões brasileiras, as vendas de bois vivos ao exterior, embora
representem proporcionalmente um volume muito pequeno - e mesmo diante da
oposição de ambientalistas e organizações preocupadas com o bem-estar dos
animais -, se tornou uma opção de renda em momentos de queda das compras para
abate pelos frigoríficos.
O economista-chefe da Federação da
Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, confirma que, apesar
de absorverem apenas 1% da oferta de gado para abate no Estado (de cerca de 1,9
milhão de cabeças em 2017), as vendas de animais vivos para a Turquia são uma
"arma" nas negociações com frigoríficos. Por isso, uma eventual
suspensão das vendas por conta da crise econômica turca poderia causar
"impacto negativo" aos produtores.
Segundo Luz, além de sinalizar e
ajudar a sustentar os preços internos, as exportações chegam a render 60% a
mais para os pecuaristas gaúchos do que as vendas domésticas. No fim de 2017,
enquanto na entrega para a indústria local o quilo estava cotado a R$ 4,77, no
porto de Rio Grande ele alcançava R$ 7,67, relata.
O Rio Grande do Sul é o terceiro
maior Estado exportador de gado vivo do país para a Turquia em 2018, com US$
56,3 milhões de janeiro a julho e alta de 207,4% em comparação ao mesmo
intervalo de 2017. Em todo o ano passado, o Estado foi o segundo maior
fornecedor dos turcos, com US$ 35,6 milhões, ou 24,4% dos US$ 146 milhões
negociados por todo o país. O Pará é o primeiro da lista, com receita de US$
58,7 milhões em 2017 e de US$ 96,1 milhões nos sete primeiros meses deste ano.
Conforme Luz, até agora a Farsul não
recebeu qualquer informação sobre uma possível redução ou mesmo interrupção dos
embarques para a Turquia. Na opinião dele, mesmo com a desvalorização da lira
turca, ainda é mais barato para o país importar gado vivo do que carne bovina,
e o Brasil tem vantagens em relação a outros fornecedores internacionais porque
o real também se desvalorizou nas últimas semanas, ainda que bem menos do que a
moeda turca.
Uma fonte do segmento afirmou que
ainda é cedo para dimensionar o impacto do tremor turco sobre os embarques
brasileiros de bovinos vivos. "Diante da instabilidade cambial no país, é
natural que os compradores até peçam um tempo para avaliar a situação. Foi isso
o que aconteceu no Uruguai, que exporta carne bovina para Turquia. Mas é
improvável que a compras deixem de ser feitas", avaliou. "Se o país
não quer convulsão social, não vai afetar o preço dos alimentos. O consumo de
carne faz parte da rotina", disse.
Para o presidente do Sindicato das
Indústrias de Carnes e Derivados do Rio Grande do Sul (Sicadergs), Ronei
Lauxen, "não se pode negar" que um eventual aumento da oferta interna
por causa da queda das importações de animais vivos pela Turquia terá
"algum efeito sobre os preços". Atualmente o quilo vivo está cotado
em torno de R$ 4,70 no Estado, mesmo nível de 12 meses atrás.
"Havia um temor nosso de que
poderia ocorrer falta do produto em caso de crescimento muito acentuado das
exportações [de bois vivos]", lembra Lauxen. Conforme ele, em caso de
suspensão das vendas externas o gado poderá ser absorvido pelos frigoríficos
locais, que têm capacidade para abater 2,5 milhões de cabeças por ano e operam
com ociosidade em torno de 25%.
Se no Rio Grande do Sul o momento é
de atenção, nos demais portos brasileiros que trabalham com cargas vivas a
turbulência turca ainda não se anunciou. Em Barcarena, no Pará, a administração
do -porto de Vila do Conde informou que o próximo navio programado para
atracar, na quinta-feira da semana que vem, carregará o maior lote deste ano
para a Turquia - 20 mil cabeças de boi. Até junho, foram 37,4 mil, todos com
chegada em Mersin. Em São Sebastião, as operadoras de carga também afirmam que
nenhum sinal dos compradores turcos foi emitido até o momento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário