A maior
parte dos brasileiros vê com preocupação a forte valorização do dólar. Mas um
pequeno grupo respira aliviado: os exportadores, de frango e grãos a calçados.
O avanço da moeda americana frente ao real ajuda a engordar o caixa dessas empresas
e a reduzir, ao menos em parte, o impacto do aumento de alguns custos de
produção, como o frete, e a perda de mercados compradores no exterior.
No ano, o dólar acumula valorização
de 25%. Analistas esperam que a cotação da moeda, que nesta terça-feira atingiu
R$ 4,141, recue após as eleições e feche 2018 em R$ 3,70. Se esse cenário se
confirmar, a rentabilidade dos exportadores vai subir 12% este ano, segundo
cálculos de André Mitidieri, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio
Exterior (Funcex).
Para os exportadores de frango - que
perderam mercado externo este ano depois de a União Europeia suspender a compra
de produtos brasileiros devido aos problemas sanitários apontados pela Operação
Carne Fraca -, a alta do dólar pode ajudar a conseguir resultados “empatados”
com as vendas ao exterior no ano passado.
O setor abriu novas frentes de venda,
como a Coreia do Sul, que voltou a comprar o frango brasileiro. Mas as
exportações, em volume, devem encolher até 3% em relação a 2017. No início do
ano, esperava-se crescimento de 2% a 4%.
- Se o dólar continuar no atual
patamar e as exportações ficarem acima das 400 mil toneladas ao mês, empatamos
em zero a zero - diz Ricardo Santin, vice-presidente e diretor de mercado da
Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), lembrando que já houve aumento
de custos por causa da alta do preço dos grãos e do valor mínimo do frete.
No caso dos grãos, os produtores de
soja ainda não fizeram os cálculos do impacto de um dólar mais valorizado nas
exportações. Mas o câmbio mais favorável e um “prêmio” pela soja brasileira em
decorrência da disputa comercial entre China e Estados Unidos, beneficiam o
produto brasileiro, reconheceu Sergio Castanho Teixeira Mendes, diretor-geral
da Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec).
Ainda assim, o aumento do frete
deixará um passivo, diz Mendes. A Anec estima custo adicional de US$ 2,4
bilhões sobre os 118 milhões de toneladas (soja, farelo de soja e milho) a
serem exportadas. “Neste momento, nossa principal questão é a alta do frete,
que traz falta de previsibilidade ao setor. As exportações de milho podem cair
por causa desse aumento de custo, e o Brasil pode deixar de ser o segundo maior
exportador do produto”, diz Mendes.
Mas o setor de calçados, apesar de
também ganhar com as exportações, está menos eufórico com a alta do dólar. De
acordo com Heitor Klein, presidente da Abicalçados, entidade que representa o
setor, a volatilidade da moeda atrapalha a formação de preços:
- As empresas não sabem como estará o
dólar em 15 dias. Há muita incerteza, e a expectativa é que o dólar recue para
entre R$ 3,70 e R$3,60 até o fim do ano. Não dá para contar com esse ganho do
dólar a R$ 4. O empresário Marlin Kohlrausch, dono da Bibi Calçados, que tem
104 lojas no Brasil, duas no exterior e exporta para 70 países, lembra que,
assim como o real se desvalorizou frente ao dólar, outras moedas de países
emergentes também perderam valor, o que faz com que o produto brasileiro fique
mais caro nesses mercados. “Esses países vão comprar menos”, pondera. O
economista Sílvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, também vê problemas
na valorização do dólar: “Essa oscilação da moeda é muito ruim, porque representa
um componente a mais de incerteza”.
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