A
dificuldade para levar as cargas até os portos por causa do tabelamento de
fretes rodoviários, e um cenário de “overbooking” nos navios, com exportadores
reservando mais espaço do que o necessário deve atrasar as exportações do
Brasil ao longo do segundo semestre. A situação poderá prejudicar as vendas de
importantes commodities agrícolas, advertiu a Maersk Line, em comunicado nesta
segunda-feira, 27.
Segundo a companhia marítima, tal
situação remete à recente recessão no Brasil, quando o país diminuiu as
importações, cortando a disponibilidade de contêineres para envio de
mercadorias ao exterior. Dessa forma, os exportadores têm agora feito reservas
com diversos armadores na expectativa de garantir espaço nas embarcações, mas
deixando outros sem lugar, afirmou a Maersk Line. Na semana passada, por
exemplo, a Reuters noticiou que produtores já vêm enfrentando problemas para
embarcar café após uma safra recorde.
“Temos dois fatores em jogo:
exportadores estão pressionando as linhas de embarque e prejudicando as
exportações, reservando muito mais espaço do que o necessário, e o segundo é
que eles estão tendo problemas em conseguir caminhões para levar as cargas aos
portos”, resumiu o diretor da Maersk Line para a Costa Leste da América do Sul,
Antonio Dominguez.
“Em termos de ‘overbooking’, os
exportadores estão enfrentando pressão adicional em várias frentes. Em primeiro
lugar, você tem a moeda (real) depreciada. Isso pode ser uma coisa boa, porque
o Brasil fica mais competitivo. No entanto, aumenta a demanda por um espaço já
reduzido nos navios”, acrescentou ele à Reuters, por e-mail.
Conforme o executivo, café e açúcar
estão entre as commodities mais afetadas nos últimos meses —o Brasil é o maior
exportador global de ambas. “Os exportadores estão fazendo overbooking de todas
as linhas de embarque ao mesmo tempo e, na realidade, estão entregando em média
seis dos 10 contêineres que eles reservam”, afirmou Dominguez, acrescentando
que uma grande safra de algodão, embarcado em contêineres, também tem
contribuído para a redução de espaço nos navios.
Citando dados de mercado fornecidos
pela Dataliner, a Maersk Line disse que as exportações em contêineres de café e
algodão do Brasil foram 9 por cento menores no segundo trimestre, na comparação
anual. As vendas de açúcar nesta modalidade diminuíram 33 por cento.
No geral, a companhia disse que as
importações e exportações no Brasil cresceram 12 por cento no primeiro
trimestre do ano e apresentaram alta de apenas 1 por cento no segundo, já
refletindo os impactos dos protestos dos caminhoneiros, que também levaram os
exportadores a impulsionar as reservas em navios.
Pelos seus cálculos, em torno de 200
mil toneladas de mercadorias deixaram de ser exportadas entre julho e agosto. A
empresa ressaltou que está revisando suas projeções de comércio exterior do
Brasil em 2018 —anteriormente, previa crescimento de 3,4 por cento na
movimentação.
Segundo Dominguez, o “overbooking”
nos navios está causando ineficiências e custos mais altos para todos os
exportadores do setor produtivo, desde indústria até a agricultura. Na
avaliação dele, o jeito mais “rápido, simples e justo” para se resolver isso é
adotar o mesmo modelo de reservas usado por companhias aéreas, pagando
antecipadamente por reservar espaço nos navios. No setor, não há atualmente
multa para quem não utiliza o contêiner reservado. A empresa não revelou volume
de perdas em função do “overbooking”.
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