A busca
da redução da dependência da contratação do frete de caminhoneiros está levando
segmentos que dependem do transporte de longa distância, como os de
eletroeletrônicos, petroquímicos e alimentos e bebidas, a intensificarem as
consultas aos operadores de cabotagem, modal historicamente subaproveitado no
país. A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) mostra que a
navegação cresceu 4,5% no segundo trimestre, quando ocorreu a greve dos
caminhoneiros, na comparação com o mesmo período de 2017. Esse percentual
corresponde a 1,6 milhão de toneladas a mais transportadas em navios.
Angelo Baroncini, diretor-presidente
da Norsul, diz que a companhia de navegação foi procurada para manter rotas de
transporte marítimo com regularidade para produtos siderúrgicos, que eram
transportados por caminhões entre Sudeste e Sul do país. “Esse processo de
conversão da carga rodoviária já vem ocorrendo há algum tempo, mas a procura
aumentou após a greve”, confirma Márcio Arany, diretor da Log-In.
A navegação é mais barata, mas o
setor ainda enfrenta dificuldades estruturais para deslanchar, como excesso de
burocracia, falta de dragagem de portos e alto custo de armazenagem. Maurício
Lima, especialista da consultoria Ilos, explica que a cabotagem é o modal que
tem mais capacidade de absorver cargas das rodovias porque houve expansão
recente de terminais, hoje com capacidade ociosa. Mas observa que a contratação
da modalidade é mais complexa e precisa ser combinada com o transporte rodoviário,
para chegada e saída dos portos.
Os móveis feitos em São Caetano do
Sul (SP) pela Bartira, da Via Varejo, começaram a ser transportados para o
Nordeste por via marítima. A prática adotada após a greve já representa uma
economia de 30% a 35%, segundo Diclei Remorini, diretor da empresa. “Mas ainda
não há tantos horários de navios disponíveis”.
O gerente de infraestrutura da
Confederação Nacional da Indústria (CNI), Wagner Cardoso, também observou mais
empresas estudando planos de cabotagem, mas destaca que só vale a pena para
longas distâncias. Até 600 quilômetros, o caminhão continua a melhor solução.
Para o presidente da Associação
Brasileira de Cabotagem, Cleber Cordeiro, a greve dos caminhoneiros representou
uma “crônica de uma morte anunciada”. Para ele, é inevitável a redução da
concentração da matriz brasileira de transporte no modal rodoviário. Hoje, o
país escoa 63% da produção por rodovias, 21% por ferrovias e só 13% em
transporte aquaviário. Na China, mais de 50% da produção viajam de navio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário