Quem
circula pelo território de Suape não tem a dimensão de onde começa nem de onde
termina o complexo. “Suape é um mundo.” É o que se costuma dizer por lá. Com
13,5 mil hectares distribuídos entre os municípios do Cabo de Santo Agostinho e
de Ipojuca, no Grande Recife, o porto-indústria ocupa uma área equivalente a
três cidades do tamanho de Olinda. Acomoda 100 indústrias de dez setores,
contabiliza R$ 50 bilhões em investimentos privados, emprega 22 mil pessoas,
movimenta mais de 23 milhões de toneladas de cargas por ano, abriga uma
população de 4,8 mil famílias, tem uma área de preservação ambiental
equivalente a 7,9 mil campos de futebol e guarda equipamentos
histórico-culturais em suas terras. A instalação de Suape, que hoje completa 40
anos, contribuiu para transformar uma região de economia tradicionalmente
sucroalcooleira no maior polo de atração de investimentos de Pernambuco. Mas o
mundo de Suape ainda tem espaço para crescer e desafios a enfrentar se quiser
se tornar competitivo em âmbito internacional e ser percebido mundialmente.
O ex-governador Eraldo Gueiros, que
lançou a pedra fundamental do porto-indústria, já vislumbrava que o complexo se
transformaria no motor da economia do Estado. Em homenagem ao gestor, o
empreendimento foi batizado de Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo
Gueiros. Hoje, Suape contribui com 5% do Produto Interno Bruto (PIB) de
Pernambuco e continua sendo aposta para o futuro da economia estadual. “Não se
imagina o desenvolvimento do Estado sem passar por Suape. O Plano Diretor do
complexo (com horizonte até 2030) prevê um amplo projeto de expansão, mas isso
depende da devolução da autonomia aos Estados para que possam realizar
licitações de novos terminais. Desde 2013, com a nova Lei dos Portos, essas
concessões ficaram a cargo do governo federal e estagnou a expansão portuária
no País”, observa o presidente de Suape, Carlos Vilar. Com 43 anos de
experiência no setor, o economista e sertanejo de Itapetim assumiu o comando do
complexo há quatro meses, com o desafio de reorganizar a operação portuária.
O Plano Diretor de Suape dividiu o
complexo em quatro áreas (portuária, industrial, de serviços, de preservação
ecológica e de preservação cultural), com espaços estrategicamente definidos
para cada tipo de operação. Na Zona Industrial, se instalam empresas de acordo
com seu perfil de negócio (alimentos e bebidas, energia, naval, petroquímica,
plásticos). “Isso é feito para criar sinergias e evitar que uma indústria de
alimentos, por exemplo, fique do lado de um estaleiro”, explica Vilar.
Na Zona Portuária, ficam as
companhias de logística, o parque de tancagem e o polo naval. “A área de
preservação ecológica responde por 59% do território total de Suape. Isso foi
um compromisso do Plano Diretor para garantir sustentabilidade ao porto”,
complementa. Na Zona de Preservação Cultural, estão equipamentos como o Engenho
Massangana e o Parque Armando Holanda. Um dos projetos do gestor do porto é
fazer parcerias com outras secretarias e órgãos do Estado para ajudar a
administrar esses espaços.
A Zona Central de Serviços abriga o
prédio onde funciona a administração de Suape e também terá equipamentos como
shopping, hotel, restaurantes e salas empresariais. “A expectativa era de que
esses empreendimentos já estivessem funcionando para garantir uma
infraestrutura de serviços aos empresários interessados em resolver seus
negócios e ficar dentro do porto, ao invés de ter que voltar para o Recife. Mas
a crise freou esse processo e a empresa responsável pela construção (Queiroz
Galvão) pediu extensão do prazo”, justifica Vilar.
Reconhecido como o mais importante
porto-indústria do Nordeste, Suape é considerado um porto estratégico para a
atração de investimentos porque está a no máximo 800 quilômetros de distância
de seis capitais, de cinco aeroportos e de dez portos internacionais. Além
disso, está localizado numa região que concentra 46 milhões de habitantes e 90%
do PIB do Nordeste. No rol de vantagens competitivas também estão a
profundidade dos portos interno e externo, que varia de 12 a 20 metros, as
certificações internacionais e o prédio de autoridade portuária, que concentra
órgãos necessários ao processo de desembaraço de cargas.
A Petrobras inaugurou a movimentação
de cargas do Porto de Suape em 1983, com o desembarque de um carregamento de
álcool. De lá para cá, o complexo foi se consolidando como um polo de
movimentação de combustíveis e hoje ocupa a liderança nacional na atividade
entre os portos públicos. Das 23,8 milhões de toneladas movimentadas no ano
passado, 74% foram desse tipo de carga. O crescimento acelerado do setor e a
liberação para a importação de combustíveis, a partir de 2015, provocou um
déficit no parque de armazenagem dos portos brasileiros e exigiu investimentos
na expansão dos pátios de tancagem. A greve dos caminhoneiros, em maio deste
ano, fez entender que Suape é um “porto movido a combustíveis e gás de
cozinha”. É do complexo que saem os produtos para abastecer todo o mercado
nordestino.
Instalada em Suape desde 2000, a
Pandenor acabou de concluir um investimento de R$ 80 milhões para ampliar de 24
para 32 seu número de tanques de armazenamento, expandindo a capacidade de
armazenamento de 24 mil m³ para 60 mil m³. “Quando o dólar estava em baixa e os
preços do petróleo atrativos, as importações chegaram a representar 50% da
nossa movimentação. Mas, com a valorização da moeda sobre o real, o cenário
mudou e as importações caíram para algo entre 15% e 20%”, diz o superintendente
da empresa, Paulo Perez Filho, acreditando que as importações podem voltar a
crescer em breve. No vácuo da Pandenor, as demais companhias de tancagem do
porto (Decal, Temape e Tequimar) também estão ampliando suas operações,
totalizando investimento de R$ 540 milhões e com conclusões das expansões
previstas para entre 2020 e 2022. Com o aumento, o parque de tancagem do
complexo vai passar de uma capacidade de 700 mil para 1 milhão de metros
cúbicos.
Além do avanço das importações, a
entrada em operação da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em novembro de 2014,
turbinou a movimentação de combustíveis em Suape, sobretudo de óleo diesel. Se
em 2014 a movimentação total estava na casa das 15 milhões de toneladas, no ano
seguinte já chegou perto das 20 milhões e continua em escala crescente. Isso
porque a Rnest sequer completou seu projeto total de implantação, previsto para
processar 230 mil barris de petróleo por mês, e hoje transforma apenas 100 mil
barris por dia.
O complexo também tem sido decisivo
para implantação de grandes empreendimentos do Estado, que não necessariamente
ficam na área do porto, mas impactam o terminal. É o caso da instalação da
montadora da FCA/Jeep, em Goiana (extremo norte do Grande Recife), que ocupa a
liderança no ranking das empresas exportadoras de Pernambuco e incluiu Suape
como um dos critérios para optar pelo Estado. Em 2017, o embarque de veículos
chegou a 80.080 unidades, registrando crescimento de 46% sobre o ano anterior.
De janeiro a setembro, o número é de 49.773 veículos.
As cargas conteinerizadas também
estão entre as principais movimentações de Suape. Embora a crise e a alta do
dólar tenham desaquecido temporariamente o setor, o Tecon Suape (controlado
pela empresa filipina ICTSI) escolheu Suape para expandir sua atuação para o
Brasil desde 2001. “O Tecon é um dos principais ativos desse porto, que tem 40
anos de história e uma trajetória de crescimento que acompanha o desempenho do
Brasil. Suape é um porto estratégico e vai continuar a crescer”, acredita o
presidente do Tecon, Javier Ramirez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário