domingo, 1 de novembro de 2015

Analistas projetam que a economia brasileira deve piorar bastante em 2016

         As projeções para a economia brasileira em 2016 pioraram bastante nas últimos semanas. Os analistas prognosticaram que ainda não esperam que o próximo ano seja pior do que 2015, mas suas expectativas estão sujeitas a vários riscos difíceis de colocar na conta. O principal, segundo eles, é a possibilidade de ruptura política, com um fim antecipado do mandato da presidente Dilma Rousseff. Caso isto ocorra, 2016 poderia ser pior do que este ano, quando o Brasil deve registrar a maior recessão desde 1990.
        Nesta semana, o Banco Fibra reviu sua projeção para o PIB de 2016 de -1,2% para -2,6%. "A recessão atual será marcada por uma severa estagnação da demanda agregada que deve durar alguns anos", disse o economista-chefe da instituição, Cristiano Oliveira. Para ele, no entanto, dificilmente o próximo ano será pior do que 2015.
        Um dos fatores é estatístico, já que a base de comparação começa a ficar muito baixa. Além disso, enquanto neste ano o desempenho econômico começou mais positivo e foi piorando, no próximo a expectativa é de um início difícil, mas uma melhora gradual a partir do segundo semestre. 
        "Para 2016 ser pior do que 2015 precisaríamos de um câmbio perto de R$ 5,00, juros subindo e uma queda muito mais forte na confiança do empresário. Esse cenário ainda me parece muito improvável", argumentou Oliveira.
        O Bank of America Merrill Lynch, no entanto, acha que o próximo ano conseguirá sim ser ainda pior. O banco reviu esta semana para -3,5% sua projeção para o PIB de 2016, enquanto manteve a perspectiva para este ano em -3,3%. 
        "A incerteza sobre a política permanece alta, com pouco sinal de melhora no curto prazo, indicando que a recessão pode se intensificar e a retomada da economia pode ser atrasada", afirmaram os economistas David Beker e Ana Madeira em relatório.
        O economista da TOV Corretora, Pedro Paulo Silveira, calculou que o PIB do ano que vem deve cair 2,57% no seu cenário-base, após contração de 3,56% este ano. No cenário pessimista, a queda em 2016 chegaria a 3%. De acordo com ele, alguns impulsos negativos para a economia mais antigos devem se dissipar até o segundo trimestre do próximo ano.
        "Estatisticamente, é difícil que a velocidade de queda do PIB na margem continue em aceleração por vários trimestres", explicou. Assim, o ponto máximo de queda do PIB, na margem, deve ter sido registrado no terceiro trimestre deste ano. Já a taxa anualizada deve ter seu piso no segundo trimestre de 2016, com -5,37%. Silveira calculou que, ao final do atual período de recessão, em 2017, a perda de renda nacional chegará a quase R$ 2,315 trilhões.
        Com isto, o PIB brasileiro estaria 15% abaixo do nível que seria atingido se fosse mantida uma taxa de crescimento próximo da potencial. Mesmo assim, ele se mostra relativamente otimista, afirmando que, resolvidos os problemas atuais, a recuperação seria rápida, graças a algumas características do Brasil, como a estrutura etária ainda positiva, a abundância de recursos naturais e as oportunidades criadas pela grande desigualdade de renda.
        "O Brasil é como criança pequena: fica doente, mas se recupera rápido. A história mostra que o maior problema brasileiro não é crescer de menos, é crescer demais", comentou Silveira, explicando que aí surgem problemas como a inflação, gargalos de infraestrutura e outras dificuldades.
        O economista-chefe do Banco Safra e ex-secretário do Tesouro, Carlos Kawall, disse que a piora das projeções para o PIB este ano acaba levando a uma redução na expectativa para 2016, em razão do carrego estatístico. Ele prevê contração de 3,4% em 2015 e baixa de 1,9% no próximo ano. 
        O analista explicou que cenários que trabalham com uma ruptura na orientação atual de política econômica podem conter números muito diferentes. Se isso ocorresse, o dólar a R$ 5,00 não pode ser descartado, e isso levaria à necessidade de subir juros, com efeitos negativos na confiança dos empresários e sobre a demanda doméstica.
        "Nessa hipótese, você começa a ter uma árvore de possibilidades, com galhos diferentes apontando em várias direções. É difícil construir um cenário com esse tipo de premissa. Mesmo assim, não digo que não vai acontecer de jeito nenhum, até porque quem diria no começo do ano que o PIB de 2015 cairia mais de 3%?", argumentou Kawall.
       A economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour Chachamovitz, estimou uma retração de 2% para o PIB em 2016, mas admitiu que o risco de a previsão ser alterada para um número pior, entre queda de 2,5% e de 3%, vem crescendo à medida que não há um sinal de mudança na política brasileira.
      Segundo ela, não há sequer percepção de que a relação entre Congresso e Executivo terá um mínimo de estabilidade que seja capaz de provocar melhora no quadro fiscal. "Enquanto não melhorar, será impossível a volta dos investidores, não somente os financeiros, mas do setor real. Não consigo vislumbrar quando isso irá mudar", disse.
      O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, afirmou que é necessário ter uma mudança no âmbito político "para o bem ou para o mal", ou seja, um ruptura do atual governo ou construção de um ambiente mais prospectivo. 
       "Não sei se há condições dessa atual política permanecer por tanto tempo. Alguma solução provavelmente terá de ser dada até o ano que vem. Se isso acontecer, qualquer que seja a mudança, a tendência é de que o cenário fique um pouco melhor", questionou.
       Outro fator a se levar em conta é o mercado de trabalho, que deve se deteriorar. Vale afirmou que o saldo do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) deve ficar negativo em 1,5 milhão em 2016, com a taxa de desemprego acima de 10%. 
       "Tudo isso vai resultar em queda significativa do consumo", apontou. Por enquanto, sua expectativa é de recuo de 1,4% do PIB no próximo ano, mas ele cita ainda a possibilidade de uma avalanche de recuperações judiciais, pois as empresas não devem suportar um processo tão relevante de desaquecimento por muito tempo.

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