segunda-feira, 18 de abril de 2016

Expectativa de impeachment de Dilma é destaque na mídia internacional, mas repercussão é menor do que a crise econômica do país

         A Câmara dos Deputados aprovou nesse domingo, por 367  votos a 146, o pedido de investigação da presidente Dilma Rousseff, que agora será examinado pelo Senado (onde a oposição também tem maioria), que decidirá sobre a abertura de investigação por crime de responsabilidade da chefe do executivo federal - caso aprovada, ela será afastada do cargo por seis meses A medida praticamente encerrou a gestão comandada pelo PT. No exterior, a repercussão foi grande, mas houve ressalvas de que a crise econômica do Brasil é mais grave do que a política.
          A expectativa na mídia internacional é de que os próximos dias servirão para a montagem do futuro governo, liderado pelo vice-presidente Michel Temer, que já costura amplo acordo com diversos partidos, incluindo o PSDB, principal força antagonista aos petistas. Mesmo repercutindo com destaque a decisão na Câmara, a mídia internacional, lembrou que a situação política segue sendo menor que a preocupação com a economia do país.
         É que, ao lado da Rússia, o Brasil é visto no exterior como responsável por frear a recuperação da economia global, em virtude do seu fraco desempenho econômico, principalmente nos dois últimos anos. Relatório do FMI (Fundo Monetário Internacional), divulgado na semana passada, revelou a necessidade das empresas maiores empresas brasileiras  de incrementar provisões para arcar com juros de dívidas, provocando quede lucros e redução de liquidez.
         A perspectiva, provável, de acordo com diversos organismos ligados à economia. de que o Brasil feche o terceiro ano consecutivo, em 2017, em recessão, é olhada com consternação. Esse cenário é agravado, ainda, pela lenta recuperação norte-americana, o marasmo da economia japonesa e as dificuldades russas para retomar o crescimento.
         A revista Foreign Policiy, dos Estados Unidos, ressalvou que Dilma chegou ao poder com destaque por ser a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente no mais importante países latino-americano. Contudo, a publicação ressalvou que a atuação dela foi tímida no campo econômico, inclusive colaborando para o agravamento da crise nacional. Nas relações internacionais, Dilma, na ótica da revista, pouco fez em prol de mudanças. As relações comerciais com os EUA foram citadas como exemplo de estratégia de pouco interesse em aproximação com a maior economia do globo.
        Na avaliação de organismos e veículos de comunicação internacionais, a presidente brasileira apostou em uma gestão voltada para políticas populistas, como o Bolsa Família, sem investir, apesar das promessas, em projetos que estimulassem o desenvolvimento econômico, como os, considerados imprescindíveis, investimentos em infraestrutura. Publicações americanas e europeias criticaram também a fraca presença de Dilma no cenário mundial, aquém do seu antecessor e padrinho, Luís Inácio Lula da Silva, que transitava com desenvoltura no exterior.
        O Clarim, de Buenos Aires, informou, na edição desta segunda-feira, que Dilma está sendo afastada, não pela corrupção, mas por sua incapacidade para governar. O britânico Financial Times disse que os mercados internacionais acompanham de perto o processo de impeachment, torcendo pela queda da presidente brasileira, responsável, na visão da publicação, por uma das maiores crises políticas e econômicas da história do país.
        A CNN lembrou que Dilma poderá ser afastada do poder três meses antes do início dos Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro. O The Guardian destacou o papel do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, no processo de impeachment, lembrando do envolvimento do parlamentar em denúncias de recebimento de propina. O jornal londrino ressaltou ainda o clima hostil e manchado pela corrupção no Congresso do Brasil.
         O The New York Times enfatizou os péssimos números exibidos pela economia brasileira, que "já foi uma potência do mundo em desenvolvimento". Ponderou que o impeachment da presidente dividiu os brasileiros e analistas políticos do país, ressalvando que as pedaladas fiscais teriam sido uma manobra usada por outros presidentes antes dela.
          O argentino La Nacional comparou o cenário da votação do impeachment a um estádio de futebol, não condizendo com um dos momentos mais importantes da história da Câmara no Brasil. O jornal destacou ainda que assim como Dilma e Lula, os próximos políticos da sucessão presidencial, Michel Temer (vice-presidente), Eduardo Cunha e Renan Calheiros (presidente do Senado) igualmente sofrem suspeita de envolvimento em corrupção.

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