O
ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou na noite desta quinta-feira (15)
que, caso a oposição vença as eleições presidenciais na Argentina e apresente
resistência à abertura econômica do Mercosul, o Brasil deixará o bloco. As primárias realizadas no último fim de
semana pelo país vizinho, que servem como uma pesquisa nacional, indicaram
o favoritismo da chapa encabeçada pelo peronista Alberto Fernández, que tem
como vice a ex-presidente Cristina Kirchner. Eles receberam 47% dos votos. O
atual presidente, Mauricio Macri, ficou com 32%.
O primeiro turno está marcado para 27
de outubro e, caso algum candidato obtenha mais de 45% dos votos, não há
necessidade de segundo turno. "Se vence o Macri, o Bolsonaro se dá bem com
ele e os dois se dão bem com o Trump. Então tudo caminha em alta velocidade. Se
der errado, der o outro lado? A pergunta é simples. Nós vamos continuar
abrindo. Vocês também? Se não vão, então tchau. A gente sai fora do Mercosul e
vamos embora. Acho que vamos ser muito práticos. E não tememos o efeito disso.
O Brasil precisa retomar sua dinâmica de crescimento", disse Guedes.
As declarações foram dadas em
discurso na cerimônia de encerramento do Seminário sobre Gás Natural, evento
organizado há cada dois anos no Rio de Janeiro pelo Instituto Brasileiro de
Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP). Em junho, o Mercosul fechou um acordo
de livre comércio com
a União Europeia. Segundo o ministro, os Estados Unidos também manifestaram
interesse em um acordo comercial com o bloco. Ele disse ainda que a disposição
do Brasil em abrir o seu mercado faz o país ser disputado. "Todo mundo
está fechando para balanço e nós somos a única moça da festa disponível para
dançar. Então todo mundo quer dançar com a gente".
Ao final do evento, Guedes conversou
com jornalistas e argumentou que o Brasil não precisa se preocupar com crise
externa se o dever de casa for bem feito, porque dispõe de uma economia com
dinâmica própria de crescimento. Segundo ele, houve momentos em que o mundo
estava crescendo aceleradamente e o país não se beneficiou.
"Se há uma momento favorável lá
de fora, valoriza o câmbio, mas em compensação você vende menos móveis, têxteis.
O Brasil foi até desindustrializado mais rapidamente durante o período em que o
câmbio se valorizou. Agora pode ser contrário. O mundo pode desacelerar e nós
podemos acelerar. De repente, com energia barata e um câmbio um pouco mais
alto, você vai reindustrializar autopeças, móveis, sapatos, indústria têxtil.
Não devemos temer o efeito contágio. O Brasil tem uma dinâmica própria como
poucos países: os Estados Unidos, a China, a Índia", disse Paulo Guedes.
"Se o dólar quiser ir para R$4 ou mais de R$4 por causa da eleição na
Argentina ou pelo vento lá fora, deixa ir. Estamos preparados",
acrescentou.
O ministro defendeu ainda um novo
pacto federativo entre União, estados e municípios. Para ele, esse novo pacto
pode se beneficiar de um interesse internacional no Brasil. "Estivemos em
Dallas há pouco tempo e falava-se da nossa fronteira de pré-sal. Os cálculos
eram de US$500 bilhões, US$600 bilhões, até US$900 bilhões e US$1 trilhão em
reservas. É um valor colossal pensar que tem quase US$1 trilhão para extrair do
chão ao longo dos próximos 25 anos e isso tudo é o que vai reavivar o nosso
pacto federativo. O dinheiro que sair do chão vamos jogando para os estados e
municípios para reconstruir a federação. São eles que financiam saúde,
educação, saneamento, segurança pública".
Uma proposta está sendo elaborada, de
acordo com Guedes, para que o percentual da arrecadação do pré-sal que fica com
a União seja encolhido gradativamente. Ao final de oito anos, estados e
municípios ficariam com 70% desses recursos. Ao mesmo tempo, o ministro defende
a desvinculação e desindexação das despesas dos orçamentos de todos os entes
federativos, assim como o fim das verbas carimbadas.
"A principal função da classe
política é administrar os recursos públicos, é alocar os recursos de forma mais
eficiente. Vou dar um exemplo. O ministro da Justiça, Sérgio Moro, precisa de
R$500 milhões para reequipar a Força de Segurança Nacional. Mas ele tem R$1,5
bilhão do fundo penitenciário. Ele não consegue pegar esse dinheiro. O natural
era ele poder remanejar esses recursos. E aí no final do ano, falta dinheiro
para todo mundo, mas sobra dinheiro congelado nos diversos fundos".
Guedes disse ainda que o presidente
da República, Jair Bolsonaro, está cada vez mais sintonizado com a agenda de
privatizações e tem cobrado mais agilidade de Salim Matar, secretário especial
de desestatização e desinvestimento do Ministério da Economia. "Eu durante
a campanha falava: vamos privatizar todas. Minha obrigação é recompor as
finanças da União. E estou convencido que as estatais esgotaram o seu ciclo de
financiamento, foram perdendo a capacidade de investimento e foram ficando para
trás", analisou o ministro.
Segundo ele, a capacidade de
investimento que o Brasil necessita não é compatível com monopólios e demanda
de capital privado. Ele não descartou a privatização da Petrobras. De acordo
com o ministro, apesar de estar se recuperando, a estatal não tem capacidade de
investimento para fazer frente à extração dos R$700 bilhões em reservas do
pré-sal.
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