A
economia brasileira está se recuperando de forma lenta, mas há espaço para
novas melhoras, especialmente porque no passado as taxas eram menores, na
avaliação da gerente de Contas Trimestrais do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), Cláudia Dionísio. Nesta quinta-feira (29), o IBGE
divulgou que o Produto Interno Bruto (PIB) (soma de todos os bens e serviços
produzidos no país) teve
um crescimento de 0,4% no segundo trimestre deste ano, na comparação com o trimestre anterior.
O PIB também apresentou altas de 1% na comparação com o segundo trimestre
de 2018, de 0,7% no acumulado do ano e de 1% nos últimos 12 meses.
“No ano passado, como tinhamos taxas
menores, a gente já esteve mais longe disso, então, a gente está próximo, mas
ainda tem um espaço a percorrer para chegar nesse [índice registrado no]
primeiro trimestre de 2014, que foi o melhor trimestre na série histórica”,
disse. O desempenho melhor do segundo trimestre de 2019 foi favorecido pelo
comportamento da indústria, com destaque para o desempenho positivo da
construção civil (19%) e da indústria de transformação (2%), que representam em
torno de 70% do indicador do setor.
Para a gerente, pela ótica da oferta,
a construção e a indústria de transformação foram o diferencial na comparação
ao que vinham apresentando antes. Pelo lado da demanda, ela apontou os
investimentos. “O consumo das famílias é o que mais pesa e já vem crescendo há
bastante tempo, mas os investimentos [3,2%], no segundo trimestre, sofreram uma
aceleração. Todos os componentes ficaram no campo positivo o que não tinha
ocorrido no primeiro trimestre de 2019”.
A gerente destacou, no entanto, que o
desempenho positivo nas duas atividades industriais foi neutralizado pelo
desempenho da indústria extrativa, que caiu em dois trimestres seguidos devido
aos desastres das barragens de Brumadinho e os seus reflexos. Além disso, a
incidência de chuvas no Pará prejudicou a extração de minério de ferro.
No caso da construção, Cláudia
destacou que a base de comparação estava “achatada”, pois foram registrados 20
trimestres de quedas e agora foi o primeiro resultado positivo. “A gente teve
nesse trimestre um aumento na produção de insumos típicos, a gente está tendo
um aumento da população ocupada na construção, então, de uma certa forma
melhorou, mas é só ter a leitura que é sobre 20 trimestres de queda”, disse.
A gerente alertou, entretanto, que
ainda é cedo para garantir que existe uma recuperação neste segmento. “A gente
está, em relação ao que foi do trimestre passado e para trás, um pouco melhor,
no sentido de que tem mais emprego, está tendo uma certa contratação nesse
setor. O que gente tem que esperar é para ver se nos próximos trimestres isso
vai se sustentar ou foi uma coisa pontual”, disse.
Na agropecuária, houve uma queda de
0,4%. Para Cláudia, isso pode ser explicada por culturas importantes, como a
soja, que neste trimestre tiveram desempenho negativo. “Já a pecuária,
apresentou crescimento e isso compensou uma parte do desempenho negativo da
lavoura”, disse.
O crescimento de 0,3% em serviços
acompanhou o comportamento que vinha apresentado antes. O acumulado em quatro
trimestres alcançou 1,2% . Os gastos das famílias contribuiu para o resultado.
“Os destaques de maior contribuições foram para comércio nesse caso o
atacadista e varejista também crescendo”, disse.

A Formação Bruta de Capital Fixo
(fluxo de acréscimos ao estoque de capital fixo realizados num dado período,
visando o aumento da capacidade produtiva do país) avançou 5,2% no segundo
trimestre de 2019 em comparação com o primeiro trimestre. É o sétimo resultado
positivo após 14 trimestres de queda.
O aumento é justificado pelo
crescimento na importação, na produção de bens de capital e na construção. De
acordo com a gerente, a formação bruta, nesse segundo trimestre, veio mais
forte. “O que explica é que todos os três componentes cresceram tanto a
produção de máquinas, quanto a construção, que pesam em torno de 50%, como a
importação. Todos vieram no campo positivo, o que não tinha ocorrido no
primeiro trimestre, uma vez que a construção estava negativa e tinha tido queda
de produção em bens de capital”, disse. Já a despesa de consumo do governo teve
queda de 0,7% em relação ao segundo trimestre de 2018.
Cláudia avalia que a expectativa de
aprovação das reformas necessárias para a recuperação da economia também
influenciou nos resultados do trimestre. “Qualquer medida que afete as
expectativas dos agentes e atinja a confiança afeta sim. Nesse caso, no segundo
trimestre a gente nota que tem uma melhora. Os índices de confiança estão ainda
muito aquém do que já foram no passado, mas estão sofrendo uma leve melhora dos
empresários e também em relação à construção e até mesmo dos consumidores. Os
índices de confiança, apesar de estarem baixos, estão tendo uma leve melhora em
relação ao que já foram nos trimestres imediatamente anteriores”, disse.
Apesar de menor que no passado, o
consumo das famílias cresceu na taxa interanual em alguns trimestres seguidos,
como também ocorreu com o investimento. “No consumo de família são nove
trimestres seguidos na taxa interanual e a formação bruta de capital, por sete
trimestres”. Na demanda externa, houve contribuição negativa, uma vez que as
exportações cresceram menos que as importações. “Teve a crise internacional,
principalmente, a da Argentina, que está prejudicando as exportações dos nossos
produtos manufaturados. As importações uma vez que a indústria está um pouco
mais aquecida é normal que se espere um aumento. Isso favoreceu o investimento,
por outro lado. Esse crescimento foi mais pautado na demanda doméstica. A
contribuição da demanda externa foi negativa”, analisou.
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