Dados do Indicador do Comércio Exterior (Icomex), relativo ao mês de
junho, divulgado hoje (19) pelo Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getulio Vargas (Ibre FGV), apontam que a soja em grão respondeu
por 16% do total exportado pelo Brasil para o mundo nos primeiros seis
meses do ano e, se somarmos o minério de ferro e o petróleo, o
percentual chega a 33%.
A participação da China na pauta das exportações continua crescendo e
o país asiático mantém-se como principal destino dos produtos
brasileiros, já tendo ultrapassado a parcela dos 28 países da União
Europeia. Segundo a publicação, as exportações brasileiras para a China
cresceram 26% no primeiro semestre do ano.
Segundo o estudo da FGV, como a pauta de exportações do país tem se
concentrado em poucas commodities, e a China vem ganhando participação
como país destino dos produtos brasileiros, é forçosa a necessidade de
“se discutir uma nova agenda da política de comércio exterior do país”.
Os economistas da FGV ressaltaram o fato de que os resultados do
Icomex relativo a junho mostram que o efeito da desvalorização cambial
ainda não se fez sentir nos fluxos comerciais, em especial nas
importações.
O estudo, aponta que o índice da taxa de câmbio real efetivo calculado
pelo Ibre mostra uma desvalorização de 11% de janeiro a junho, o que
levaria a um efeito negativo nas importações. Ressaltam, porém, que “o
efeito câmbio não é imediato, e outros fatores influenciam nos fluxos de
comércio. No caso das importações, por exemplo, o nível da atividade
doméstica é o principal fator de influência nos fluxos de comércio e até
maio ainda se esperava crescimento do PIB na ordem de 2,5 a 2,8%”.
“A reversão dessas projeções [do PIB] para valores próximos a 1%, a
partir do final do semestre, sugere que, além do efeito defasado do
câmbio, as importações deverão ter uma maior desaceleração”, a partir
deste segundo semestre do ano, diz o Ibre.
O documento ressalta ainda o fato de que, no caso das exportações, “o
efeito câmbio foi positivo para o crescimento das não commodities, de
9,7% na comparação dos dois primeiros semestres, e 7,9% entre junho de
2017 e [junho] 2018”.
As commodities, que explicam cerca de 60% das exportações
brasileiras, cresceram 2,9% no primeiro semestre deste ano,
comparativamente ao primeiro semestre do ano passado, embora tenham
recuado 1,7% na comparação mensal (maio-junho).
“Esse último resultado foi influenciado pela queda de 11% no volume
global, puxado pelo agregado das carnes (-42%) e petróleo (-49%). Já o
complexo da soja, por sua vez, registrou variação positiva de 11,6%, com
o término da greve dos caminhoneiros”.
A evolução dos preços, segundo o estudo, levou a um aumento nos
termos de troca em 2,4% de maio a junho de 2018, porém, em relação ao
início do ano, os termos de troca fecharam em queda de 2%. A avaliação
dos economistas da FGV é de que “após uma recuperação nos preços das
exportações no segundo semestre do ano passado, os termos de troca
tendem a declinar este ano. Ressalta-se no entanto, que ainda estamos
com valores superiores ao do período de 2013/15”.
A variação mensal e semestral dos volumes exportados e importados por
categoria de uso mostram que nas exportações todas as categorias
registraram queda, a exceção de bens de capital. Nesse último grupo,
estão incluídos produtos com tonelagem elevada como as plataformas de
petróleo (em valor de mais de 6.000% na comparação semestral), aviões
(aumento de 43% em junho), turbinas para aviões (3.300% em junho), entre
outros.
Já no que diz respeito às importações, todos os volumes aumentaram
tanto no comparativo mensal, como no semestral, com destaque para o
crescimento de 31,3% dos bens de capital no primeiro semestre do ano.
“Uma parte é explicada pela importação de plataforma de petróleo, em
especial no mês de fevereiro, mas nos outros meses reflete investimentos
em máquinas e equipamentos”.
A avaliação dos economistas é de que esse resultado contrasta com as
importações de bens intermediários, que recuam e se associam ao nível de
atividade. A desvalorização cambial leva a substituição por insumos
domésticos, mas parece não ter afetado, até o momento, segundo os
economistas, os planos de longo prazo associados a investimentos de bens
de capital.
Os economistas avaliam ainda que “as compras de bens duráveis
(automóveis, principalmente) podem também estar refletindo o efeito
defasado do câmbio e o receio de uma possível desvalorização acentuada
por turbulências na esfera política”.
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