A guerra
comercial entre os Estados Unidos e China pode atingir o Brasil e prejudicar as
próprias empresas norte-americanas. A avaliação é dos especialistas que
participaram nesta quarta-feira (25) de um fórum sobre o tema promovido pela
Câmara Americana de Comércio.
“Nenhum país tem tantas empresas
transnacionais quanto os Estados Unidos, então, isso vai machucar, no médio
prazo, as estruturas de custos das empresas norte-americanas. Vai fazer com que
os executivos americanos precisem de mais tempo para repensar espacialmente a
sua organização, e isso, no limite, vai acabar machucando o balanço patrimonial
e a performance das bolsas norte-americanas”, destacou o pesquisador especialista
em Brics, da Universidade de Columbia, Marcos Troyjo.
Nas últimas semanas, o presidente
norte-americano, Donald Trump, anunciou uma série de sobretaxas a produtos
chineses com o argumento de que a balança comercial entre os dois países é
prejudicial aos Estados Unidos. Como retaliação, a China também aumentou os
tributos para entrada de diversas mercadorias dos EUA.
Para Toyjo, em países como os Estados
Unidos, com muitas empresas com filiais no exterior, a análise simples da
balança comercial pode ser enganosa para tomar decisões como a que motivou a
disputa comercial. “Porque os déficits comerciais podem ser mais do que
compensados pela remessa de dividendos e pelo fluxo de investimento estrangeiro
direto”, ponderou.
No entanto, o professor destacou que
há uma tendência global de se incentivar determinados setores das economias
nacionais com subsídios ou tarifas protecionistas. “É como se o mundo inteiro
estivesse, hoje, crescentemente aplicando medidas de substituição de importações”,
disse.
Por outro lado, disse o especialista,
os danos que a disputa pode causar às próprias empresas norte-americanas e
dependência mútua entre as grandes economias são indicativos que a atual guerra
comercial pode ser um fenômeno passageiro. “Os Estados Unidos são principal
destino do investimento direto chinês. O principal polo irradiador de
investimentos diretos para a China são os Estados Unidos”, exemplificou.
A professora de relações
internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Cristina
Pecequilo destacou que apesar dos possíveis benefícios a curto prazo, o Brasil
corre risco de ser atingido pela disputa entre as potências econômicas. “Uma
polarização bilateral Estados Unidos-China, em qualquer área, gera fechamento
de espaços no comércio internacional e na estrutura do sistema internacional de
uma forma geral”, disse.
“Eu lembro a vocês inúmeros
contenciosos entre Brasil e Estados Unidos, entre Brasil e União Europeia. Já
foi lembrado as dificuldades de negociar um acordo entre Mercosul e União
Europeia. Essas inúmeras variáveis mostram para gente que as avaliações
otimistas de curto prazo não se sustentam”, acrescentou.
Seria estratégico para o Brasil, na
avaliação da especialista, buscar se posicionar de forma a diminuir a
dependência comercial em relação às grandes economias. “Não colocar todos os
nossos ovos em uma única cesta”, resumiu.
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