quinta-feira, 19 de maio de 2016

Mapa condiciona importação de café do Peru à abertura do mercado daquele país para a carne suína brasileira




          O Ministério da Agricultura do Brasil revogou a suspensão da importação de café verde do Peru, obrigando a abertura de uma negociação mais ampla entre os governos dos dois países. A decisão foi tomada no último dia de Katia Abreu no comando da pasta, baseada  na garantia de que Lima deve autorizar as exportações brasileiras de carne suína ao mercado peruano.
           A negociação entre os dois países teve a inusitada participação de um Estado pouco expressivo para o agronegócio brasileiro e menos ainda para a cafeicultura brasileira: o Acre, que faz fronteira com o Peru.
         Desde o fim do ano passado, o governador acreano, Tião Viana (PT), seu irmão, o senador Jorge Viana (PT), e representantes do frigorífico local, Dom Porquito, procuraram a então ministra da Agricultura, Kátia Abreu, para demonstrar o interesse do Estado em vender carne suína para os vizinhos peruanos.
          A estratégia, segundo o senador, tinha como objetivo desenvolver um polo industrial para o segmento de carnes na região, que tem uma rodovia destinada a escoar essa produção.
         O senador e o governador deixaram claro para a ministra que em troca da abertura de seu mercado à carne suína do Acre o governo do Peru exigia que a o ministério aprovasse a entrada de café verde peruano. A importação foi autorizada pelo governo brasileiro em abril de 2015, mas foi suspensa um mês depois, em meio à grande reação de cafeicultores mineiros e capixabas.
         A autorização para comprar o café do Peru interessa a indústrias instaladas no Brasil, como a Nestlé, que pretendem usar matéria-prima de outros países para produzir os blends de suas cápsulas de café.
"Não pudemos vender carne para o Peru ainda, mas já está em negociação pelo Itamaraty uma cota pequena para o Brasil exportar carne suína para lá", destacou Jorge Viana.
          O Ministério da Agricultura, contudo, respondeu que "não há nenhuma negociação com o Peru que indique a troca de produtos para abertura de eventual mercado peruano à carne suína do Brasil". Mas está trabalhando para abrir esse mercado, que ainda está fechado.
         Segundo o ministério, a estimativa é de que as importações de café verde peruano somem apenas 400 toneladas por ano, entre cafés gourmet e orgânico.
         Um técnico do ministério admitiu, porém, que a habilitação de frigoríficos brasileiros para exportação ao Peru "somente ocorrerá nesse tom" e que Lima "tem endurecido" com o Ministério da Agricultura em Brasília nas negociações de maneira geral.
         "Essa troca de carne suína é tão pequena que não teria peso maior para um país [Peru] que produz 5 milhões de sacas de café e consome 110 mil sacas, e quer o Brasil para escoar aquele excesso que eles têm. Isso não beneficia ninguém", disse o presidente do Conselho Nacional do Café, o deputado Silas Brasileiro.

          O deputado e outros parlamentares estiveram com o novo ministro da Agricultura, Blairo Maggi (foto), que prometeu analisar o pedido deles para que a portaria que autorizou a importação de café importado do Peru seja revogada. A resposta deve vir nos próximos dias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário