segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Expectativas estão voltadas para a desaceleração da China e a suspensão das sanções contra o Irã, que devem impactar na navegação


          As expectativas do mundo estão voltadas para a China nesse início de ano, principalmente pelas incertezas que envolvem a segunda maior economia mundial. O relatório da BIMCO, a maior associação de transporte marítimo internacional, avalia que o fechamento prematuro da Bolsa de Xangai no primeiro dia de operações ecoou no mundo todo, alertando os mercados para se prepararem para uma jornada bastante difícil no ano que mal começou. Além disso, o FMI revisou as previsões para este ano e para 2017, baixando em 0,2% as perspectivas para cada um deles, sinalizando que o futuro nos reserva tempos difíceis.
          A suspensão das sanções contra o Irã tende a causar impacto direto na navegação: enquanto o país agora se adequa às obrigações dos acordos internacionais, investimentos de grande escala ainda se fazem necessários nas indústrias do petróleo e gás para facilitar o crescimento das exportações, assim como para fomentar as importações para o mercado iraniano, composto de 80 milhões de consumidores.
         Enquanto nos Estados Unidos as taxas de juros finalmente começam a subir, conforme anunciado pelo FED (Federal Reserve Bank), em dezembro, a decisão pode ter sido de pouco alcance, de acordo com as minutas do próprio FED. Apesar disso, o PIB americano apresentou crescimento anual de 2% no terceiro trimestre, com aumento do consumo interno no setor privado, assim como das importações, aponta o relatório da BIMCO.
          Na China, por sua vez, o ano começou tomado pela volatilidade. Já na primeira semana do ano, a bolsa de mercados de Xangai fechou para operações por duas vezes depois de atingir quedas de 7%. Uma leitura ansiosa do indicador por parte do mercado produtor, além da batalha pela transição do governo, contribuiu para a retração econômica da China, que ecoou na maioria das economias mundiais em desenvolvimento, desde a América do Sul até a África. A China vinha contribuindo para impulsionar os mercados emergentes e, com a refreada do país, as outras nações tendem a se prejudicar também.
          A BIMCO diz ainda que a desvalorização do Yuan chinês diante do dólar americano pode ser considerada uma faca de dois gumes, na medida em que as exportações podem aumentar, o que deve contribuir para o fluxo de contêineres pela Europa, porém as importações para o mercado chinês podem se tornar extremamente caras, dificultando os mercados de tankers e granéis secos.
          Na Índia, embora o país esteja ainda em falta com reformas fundamentais, a performance econômica se destacou em 2015, com o aumento do PIB em 7,4% no terceiro trimestre de 2015. O Japão, também avaliado pelo relatório BIMCO, tem se recuperado de uma série de décadas de performance inexpressiva, com o primeiro ministro Shinzo Abe tomando caminhos aparentemente acertados após a implementação das duas primeiras ações efetivas sobre as políticas fiscal e monetária. A terceira atitude, ainda necessária, seria uma reforma estrutural no país. Com a liberalização dos mercados de energia, que pode beneficiar a navegação, ainda ficam faltando esforços na desregulamentação das políticas trabalhistas, de modo a fortalecer a economia e beneficiar o setor marítimo.
           Quanto ao cenário europeu, a BIMCO relata que as lentíssimas taxas de inflação preocupam o mundo todo, e não apenas o mercado europeu. A inflação de dezembro no continente chegou a apenas 0,2%, contrapondo a previsão do banco central regional ECB (European Central Bank), que havia estabelecido taxas próximas dos 2%, um número a que a Europa não chega desde 2011-2012. O resultado é que, no último ano, o Euro desvalorizou 8% sobre o dólar americano, e 3% diante do Yuan chinês, uma volatilidade que influencia diretamente no mercado internacional.         
         Além disso, a Europa continua bipartida, com as economias ao sul ainda tentando se reestruturar, enquanto as grandes potências ao norte se mantêm mais fortes. Por sorte, o ECB continua a apoiar o mercado, mantendo a inflação baixa, assim como as taxas de juros. O consumo no continente cresceu em 2,2% no terceiro trimestre de 2015, sem demonstrar mudanças expressivas sobre os resultados do trimestre anterior.
          A visão da BIMCO é que, para 2016, se os consumidores continuarem a manter gastos altos, enquanto o governo aumenta as despesas com os refugiados e imigrantes, é possível que ainda testemunhemos algum crescimento no continente europeu: a BIMCO enxerga a Europa e o Japão como potenciais registros positivos a se extrair de 2016, a despeito das previsões pessimistas na maioria das outras regiões do globo.
          Em um balanço geral, o ano começou sobre uma camada fina de gelo, sobre a qual tentavam se equilibrar os recados dados pelos economistas, anunciando crises financeiras iminentes, contra declarações mais apaziguadoras. A probabilidade de um caminho de crescimento estável para este ano entre as nações, no entanto, já pode ser descartada. Além da crise em vários aspectos da economia, também temos hoje uma série de tensões geopolíticas, entre elas a do Irã com a Arábia Saudita, a Coreia do Norte, Rúsia e Ucrânia, o Estado Islâmico e suas regiões adjacentes. Apesar de todas as adversidades, a BIMCO ainda enxerga, nas entrelinhas, que a economia mundial dá passos à frente.
          A questão é que não são apenas os políticos políticos que influenciam o futuro, mas também as mudanças sobre os preços de commodities, e as estruturas econômicas. A Arábia Saudita estabeleceu um plano de 5 anos para reestruturar sua economia. Enquanto isso, a queda nos preços do petróleo significaram redução significativa na dívida pública, fazendo com que o país passe a considerar novas formas de administrar sua economia: em 2015, os árabes chegaram a se aprofundar nos mercados de ações pela primeira vez, e atualmente vislumbram lançar no mercado uma parte da estatal Saudi Aramco, a maior companhia de petróleo do mundo.
          Uma série de outras nações exportadoras vêm passando pelos mesmos desafios ultimamente. De acordo com o Banco Mundial, embora a maioria das economias avançadas venham a contribuir para o aumento do PIB mundial de 2015 a 2018, o caminho será inverso para exportadores de commodities, que vêm sofrendo com os baixos preços de sua produção – o que é o caso do Brasil.
          Historicamente, conclui a BIMCO, o crescimento das economias mais avançadas costumava gerar mais comércio do que crescimento de fato nos mercados emergentes, no entanto, hoje em dia, essa perspectiva não é exatamente garantida. O que pudemos absorver a partir dos últimos anos é que o multiplicador de mercado para o crescimento da economia tem diminuído aos níveis que testemunhamos na crise de 2008, e até agora, não vislumbramos melhora por vir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário