quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

As estratégias em jogo no transporte marítimo global


        A diferenciação no serviço oferecido pelos grandes armadores globais é praticamente impossível, especialmente no transporte de contêineres, em virtude dos acordos de escalas para compartilhar espaços nos navios, uma vez que as empresas acabam utilizando as mesmas embarcações. A competição fica restrita, de acordo com avaliação da consultoria Drewry, a itens como a tarifa.
          A análise da consultoria é de que cada vez é mais difícil distinguir um operador de outro. No entanto, essa situação pode mudar em breve porque começa a ficar evidente uma divergência nas estratégias corporativas entre as empresas, o que poderia alterar drasticamente a atual forma da indústria da navegação.
          Em linhas gerais, a Drewry aponta três tipos principais de estratégias buscadas pelas armadoras atualmente. A primeira é se liberar das suas limitações tradicionais de serviços porto-a-porto e ampliar seu alcance a outros atores da cadeira logística. A segunda é consolidar seu produto marítimo principal e o terceiro melhorar as escalas oferecidas.
          “Estamos criando uma companhia que é um integrador global de logística de contêineres, uma empresa muito similar a UPS e a FedEx, e espero que sejam considerados como nossos companheiros quando terminarmos esta viagem de transformação dentro de três a cinco anos”, revelou o CEO da Maersk Line, Soren Skou.
          Essa posição se associa mais comumente com os operadores europeus Maersk Line e CMA CGM. Essa última, recentemente fez acordo de compra do controle acionário da Ceva Logistics. As companhias que seguiram por este ambicioso caminho, segundo a consultoria, passaram por uma revolução nas economias de escala e agora querem aproveitar seu tamanho para estender-se mais sobre a cadeia logística objetivando obter maiores receitas e lucros.
          A estratégia de comprar outras empresas do ramo, que normalmente, eram parceiras complementares, não é nova, Mas se acentuou na última década. A tendência é de aglomeração das indústrias de transporte e de logística de apoio, numa resposta rápida à globalização da economia e dos serviços e da aceleração do comércio mundial.
          A adoção de novas tecnologias igualmente contribui para esta política e traz esperança de que os resultados operacionais sejam melhores. As companhias apostam com ênfase redobrada na digitalização e na automatização das tarefas de transação da logística básica, aproveitando oportunidades que não existiam há pouco tempo.
          O risco a esta estratégia é que o tamanho do investimento necessário para a sua implementação é enorme e caso não dê certo o prejuízo da mesma forma poderá ser gigantesco. E necessário uma gestão inteligente e capacitada. Mesmo assim, há o perigo de se perder de vista o negócio principal que é o transporte marítimo de carga. Seria um desgaste desnecessário as grandes transportadoras competirem com seus forwarders e provedores dos operadores de terminais, alguns com ambições similares.
          O CEO da Hapag-Lloyd, Habben jansen, observou que “ser o número um em qualidade é a última promessa para nossos clientes e um diferenciador forte de nossos competidores.” Ele sinaliza, assim, que ser o maior não é mais o fator principal neste jogo do transporte marítimo global.
          A intenção, para a Drewry, é clara. A Hapag-Lloyd não seguirá os passos da Maersk, ou da CMA CGM, O armador alemão deverá concentrar sua atividade no transporte de contêineres, que é o que considera que faz melhor e pode fazer com ainda mais competência. Ou seja, é pouco provável que venha a participar de novas fusões ou aquisições no mercado.
          A avaliação seria no sentido de que não há indícios de que os grandes integradores globais ofereçam serviços Premium a todo o mercado. A CMA CGM, por exemplo, oferece espaço garantido e tempos de transito mais rápidos. A história sugere que a demanda de serviços de alta qualidade é limitada e certamente não é suficiente para estender-se a toda uma rede global.
          Esse enfoque foi defendido pelos grandes serviços integrados e a maioria dos principais operadores. Mas, outros operadores estão empreendendo esforços para colocar-se no mesmo patamar. É o caso da sul-coreana HMM, que recentemente duplicou sua intenção de assegurar uma posição mais significativa no mercado de contêineres. A companhia encomendou 12 navios de 23 mil teus e oito de 15 mil teus, devendo aumentar a capacidade da sua frota em 2 milhão de teus, mais que o dobro da atual.
          Segundo a Drewry, as ambições da HMM são incompatíveis com a estabilidade do mercado. No entanto, a companhia está convencida de que sua trajetória de crescimento é um objetivo realista. “Consideramos ser possível obter uma participação de mercado de 7% nas operações Leste-Oeste até 2021. É injustificada a avaliação de que seja inviável atingir esta meta”, garantiu a armadora em um comunicado.
          A consultoria entende que apenas companhias que tenham algum tipo de apoio estatal possam efetivamente estabelecer metas de grande crescimento nos próximos anos. Destaca que o panorama competitivo mudará completamente em breve e se saberá, então, qual a estratégia é mais adequada: a atitude mais cautelosa ante os riscos de estagnação, ou a aposta no desenvolvimento.

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