A
parceria entre os portos de Roterdã, na Holanda, e Pecém, em São Gonçalo do
Amarante, vai dinamizar as operações e reduzir os entraves e burocracias do
terminal cearense. O professor do Departamento de Engenharia de Transportes da
Universidade Federal do Ceará (UFC), Bruno Bertoncini, entende que a companhia
holandesa tem expertise nos processos portuários, o que beneficiará os trâmites
no terminal brasileiro.
"Acredito que quando realmente a
gente tiver essa parceria eu acho que vai ter uma nova dinâmica. Do ponto de
vista público, o rito de uma contratação, um investimento, é mais demorado do
que na iniciativa privada. Então a gente vai ter esse ganho. Por exemplo, a
contratação de uma equipe de profissionais que vão poder olhar para o porto ou
então de um novo equipamento para fazer a fiscalização. Isso vai ter uma
dinâmica totalmente diferente de um porto que é exclusivamente da esfera
pública porque esse rito é diferente", explica ele.
Segundo o professor da UFC, a
iniciativa privada participando das resoluções juntamente com o Governo do
Estado terá um efeito bastante positivo no sentido de reduzir os tempos dos
processos portuários. "Além do que também a iniciativa privada vai
percorrer o Brasil para vender o porto para os investidores, coisa que o Estado
em si não tem a mesma dinâmica e nem essa rotação que um setor empresarial profissional
teria", destacou.
Para Bertoncini, os ganhos efetivos
serão mais visíveis porque há de forma clara o papel de cada parceiro.
"Onde um vai explorar comercialmente o porto e o outro vai fiscalizar essa
exploração para não ocorrer nenhum desvio, privilégio para um setor em
detrimento de outros, e dar um olhar sustentável da exploração portuária. O
mais difícil o Estado já fez que foi conseguir assegurar a construção e o
lançamento de porto. É o principal ganho que a gente tem", diz.
Outro ponto levantado pelo professor
é a questão da intermodalidade. Para ele, é preciso olhar com mais atenção a
questão do acesso ao porto. "O navio vai chegar ao porto. A questão-chave
é saber como esse produto vai chegar ou vai sair do terminal. Hoje a gente
basicamente pensando na ligação Pecém-Brasil a gente vai ter mais a via rodoviária.
E ainda assim com algumas questões como o Anel Viário que até hoje não está
concluído, a questão da conclusão da Transnordestina".
Segundo ele, o funcionamento da
Transnordestina vai dar uma nova dinâmica ao Porto do Pecém. "E vai ser uma
rota para desafogar outros portos do Brasil e vai melhorar a competitividade
das indústrias cearenses porque elas vão acabar tendo uma outra opção de
escoamento de sua produção", acrescenta.
Para Carlos Alberto, gerente
comercial da Tecer Terminais, a finalização da Transnordestina é necessária
para dinamizar as operações no Pecém. Além disso, na opinião dele, o porto
cearense necessita de mais navios e mais consistência na sua movimentação
global. "E isso está sendo construído com a questão do hub portuário. É o
que a gente fez com as pás eólicas, com o granito e com diversas outras cargas
que a gente começa com pouca movimentação e vai crescendo".
"O que a Cipp SA está buscando
com a parceria de Roterdã é um maior volume de serviços de navios, mais
companhias, trazer rotas e armadores. No Porto do Pecém a gente tem ainda muito
potencial de crescimento nas linhas de navegação. A questão é aumentar a
participação nessas linhas de navegação e o apoio da intermodalidade para
finalizar a Transnordestina", acrescenta Carlos Alberto.
"O Porto do Pecém ainda tem
margem para expansão. A gente tem um diferencial para atrair parceiros e
empresas que possam olhar e vê esse diferencial. Além do que a área do porto
foi construída para ser uma área industrial, e não é só porto. Isso é um ganho
incrível", completa o professor Bruno Bertoncini.
Nesta semana, o ministro da
Infraestrutura do Governo Bolsonaro, Tarcísio Gomes de Freitas, disse que
Joaquim Leyy, do BNDES, já vai começar a analisar o processo de desestatização
da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa). Com esse processo em andamento,
há grande possibilidade dessa alternativa ser estendida para o Porto do
Mucuripe, administrado pela Companhia Docas.
"O processo de concessão da
administração portuária pode trazer ganhos positivos do ponto de vista
econômico. Contudo, é importante destacar que um terminal portuário é um
componente do sistema de transportes e elemento chave ao processo de
desenvolvimento econômico nacional, em especial elemento chave para a balança
comercial. Então, a concessão dos terminais precisa ser acompanhada de um
processo estruturado de planejamento e precisa também receber fiscalização,
para garantir que os critérios e metas estejam sendo atingidos", opina
Bruno Bertoncini, professor do departamento de Engenharia de Transportes da
Universidade Federal do Ceará (UFC).
Conforme ele, um dos aspectos
positivos da concessão pode estar na capacidade de captação de novos negócios
por parte da nova administração. "É uma possibilidade, pois a
administração pode buscar novos parceiros e mercados ainda não explorados. Mas
tem que estar atrelado a um plano, pois pode gerar problemas de conflitos entre
atores e setores. Talvez, neste primeiro momento, uma parceria público-privada
pode ser um caminho de entrada interessante", avalia.
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