Há algum
tempo, fundos de investimento notaram que o avanço da produção de celulose
levaria à demanda crescente por madeira e passaram a comprar terras e florestas
em diferentes regiões do Brasil. Os grandes produtores locais da matéria-prima
também identificaram essa tendência e colocaram em prática diferentes
estratégias para garantir o suprimento do insumo mais à frente, ou desmobilizar
recursos. Agora, produtores europeus e chineses estão intensificando as compras
de madeira brasileira, para abastecer linhas de produção instaladas em seus
países de origem.
Somente em janeiro, segundo dados da
Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério da Indústria, Comércio
Exterior e Serviços (Mdic), as exportações brasileiras de madeira em estilhas
(cavaco de madeira) ou em partículas praticamente dobraram na comparação anual.
Mantido o ritmo, esse item entrará em breve no grupo dos cem produtos mais
exportados pelo Brasil.
O acesso à matéria-prima de qualidade
e baixo custo sempre atraiu investidores estrangeiros para a indústria nacional
de celulose. Mas, até pouco tempo atrás, o grande interesse era fixar operações
produtivas no Brasil, o que levou a disputas por fábricas disponíveis para venda.
Com os grandes ativos já negociados, a atenção dessas empresas voltou-se à
matéria-prima propriamente.
Fora do país, o cavaco de madeira tem
ao menos duas grandes destinações: como biomassa, para geração de energia, e no
abastecimento de linhas já existentes de celulose. No geral, problemas de
suprimento de madeira e inexistência de grandes áreas para expansão dos
plantios florestais motivaram os estrangeiros a buscar alternativas em outros
continentes.
Já no caso da China, há um fator
adicional por trás do aumento das importações desses produtos. O
estabelecimento de cotas para compra externa de aparas de papel, como parte da
nova política ambiental do país asiático, reduziu o acesso a fibra reciclada e
levou à maior demanda pela celulose virgem, e encareceu a matéria-prima. Assim,
aqueles que têm condições de produzir celulose, e dificuldade de acesso a
madeira de baixo custo, incrementaram as compras externas de cavacos e até
mesmo toras.
Segundo fontes da indústria, há
empresas chinesas embarcando toras de madeira do Brasil para a Ásia,
independentemente de estarem pagando também pelo transporte de volumes que
serão descartados, como água. Entre os europeus, a portuguesa Navigator
Company, antiga Portucel Soporcel, tem levado madeira em cavaco para suas
unidades em Portugal.
A balança comercial brasileira de
janeiro mostra que o valor relativo dos embarques ainda é modesto - US$ 15,8
milhões, contra US$ 1 bilhão da celulose exportada pelo país. Mas atesta que há
demanda crescente por madeira brasileira e esse interesse pode afetar os custos
da indústria como um todo. A maior procura por madeira já elevou o preço do
insumo e, uma vez que o ritmo de plantios nos últimos anos não acompanhou o
crescimento do consumo, os sinais são de que a inflação da madeira será mais
alta no curto e médio prazos.
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