As
exportações do Brasil poderão aumentar US$ 10,5 bilhões para os Estados Unidos
e a China, se as duas maiores economias do mundo ampliarem a guerra comercial.
A previsão é baseada em estudo da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio
e Desenvolvimento (Unctad), divulgada nesta segunda-feira, 4.
A organização prevê que cerca de 80%
do ganho do Brasil será em exportações adicionais para o mercado americano,
aproveitando o entrave levantado contra a entrada de produtos chineses. Ou
seja, o ganho é bem maior do que na venda de soja para a China.
O presidente Donald Trump já advertiu
que, se não chegar a um acordo com seu colega chinês Xi Jinping, nas próximas
semanas, Washington aumentará de 10% para 25% as alíquotas adicionais sobre US$
200 bilhões de importações originárias da China. A expectativa é que Pequim
reaja no mesmo nível.
Nesse cenário, a guerra comercial vai
decididamente impactar os fluxos comerciais bem mais do que até agora. O estudo
da Unctad conclui que o aumento de alíquotas não é muito efetivo na proteção
das companhias nacionais, mas realmente provoca desvio no fluxo comercial.
Na prática, os maiores perdedores são
os que estão em guerra. A Conferência da ONU estima que os efeitos das
sobretaxas entre EUA e China reduzem o fluxo bilateral e causam a substituição
por fornecedores de outros países.
A Unctad estima que de US$ 200
bilhões de exportações chinesas sujeitas a sobretaxa nos EUA, cerca de 82%
serão “capturados” por companhias de outros países, apenas 12% continuarão em
mãos de firmas chinesas e 6% vão para empresas americanas. Segundo a agência da
ONU, os resultados são consistentes em diferentes setores, desde maquinários a
produtos de madeira, móveis, equipamentos de comunicação, químicos,
instrumentos de precisão.
Da mesma forma, de US$ 85 bilhões de
exportações americanas sujeitas a sobretaxa na China, cerca de 85% serão
capturados por empresas de outros países, as americanas vão reter menos de 10%
e as chinesas podem ficar com fatia de 5%.
“A razão é simples: tarifas
bilaterais alteram a concorrência global com vantagem de empresas operando em
países não diretamente afetadas por elas”, diz a Unctad. “Isso será refletido
nas importações e exportações em torno do globo”.
A estimativa é que o Brasil poderá
ganhar exportações de US$ 8,5 bilhões para os EUA, com a aumento de vendas
sobretudo de maquinários e metais que a China não conseguiria mais vender nos
EUA por causa de sobretaxa de 25%, se aplicada realmente.
Além disso, o Brasil poderá ganhar
mais US$ 2 bilhões no comércio com a China com a imposição de sobretaxa por
Pequim contra os americanos, com mais vendas de produtos agrícolas e mesmo de
químicos para o mercado chinês, por exemplo.
O Brasil mantém altos níveis de venda
de soja, como já ocorre. Mas a Unctad diz que, mesmo se um país como o Brasil
pode parecer ganhador na guerra comercial, os resultados nem sempre são
positivos. Exemplifica que setores que utilizam a soja no Brasil como insumo
perdem competitividade por causa de preços mais altos provocados pela maior
demanda chinesa pela commodity.
Para a conferência da ONU, a União
Europeia (UE) sairá como principal ganhador das tensões EUA-China. Exportações
europeias podem “capturar” US$ 70 bilhões do comércio entre os dois gigantes,
sendo US$ 50 bilhões do que a China deixaria de vender para os EUA e US$ 20
bilhões do que os EUA deixariam de vender para a China. O México ganharia US$ 27
bilhões graças à relação próxima com os EUA. A Argentina mais US$ 2
bilhões.
Donald Trump disse, no fim de semana,
que um encontro com Xi Jinping pode resultar num acordo de paz, dependendo das
concessões que Pequim fará. Ele se entusiasmou com a promessa chinesa de
comprar cinco milhões de toneladas a mais de soja. Mas a American Farm Bureau
nota que, em ano normal, os EUA exportavam 35 milhões de toneladas do produto
para a China, de forma que a aparente concessão chinesa não é tão robusta como
Trump quer crer.
A Unctad insiste nos riscos que a
guerra comercial causa numa economia global frágil. Diz que uma desaceleração
da atividade causa distúrbio nos preços de commodities, mercados financeiros e
no câmbio, com repercussões importantes sobre países em desenvolvimento.
Persistem também os temores de mais
protecionismo. A guerra EUA-China também afeta as cadeias de valor. Por
exemplo, os altos volumes de exportações chinesas atingidas por sobretaxas nos
EUA acabam por atingir o comércio na Ásia do Leste. (imagem de Shanghai, China)
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