Ao mesmo
tempo em que a China sinaliza que poderá reabrir seu mercado à carne de frango
dos Estados Unidos como parte das tentativas dos dois países de encerrarem suas
disputas comerciais, os exportadores brasileiros correm contra o tempo para fechar
um acordo de preço mínimo com Pequim. A medida, confirmada nesta quarta-feira,
23, visa a derrubar as tarifas antidumping que incidem sobre suas vendas de
carne de frango. A taxa foi imposta em junho de 2018.
A volta da carne de frango americana
ao mercado chinês, quatro anos após o país asiático vetar o produto em razão de
um surto de gripe aviária nos EUA, seria um grande desafio para o Brasil,
sobretudo se as tarifas antidumping, que variam dependendo da empresa
exportadora, ainda estiverem em vigor.
Com a competição dos americanos, as
tarifas poderiam afetar também a demanda pelo produto brasileiro, o que até
agora não ocorreu, especialmente porque Pequim não tem grandes alternativas de
fornecimento. Os Estados Unidos são o segundo maior exportador de carne de
frango do mundo. O Brasil é o maior.
No ano passado, as exportações
brasileiras de carne de frango à China somaram 438,8 mil toneladas e renderam
US$ 799,7 milhões, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex)
compilados pelo Ministério da Agricultura. Com isso, a China foi o segundo
maior destino para a carne de frango brasileira no exterior, atrás apenas da
Arábia Saudita.
Os chineses responderam por cerca de 10% das
exportações de carne de frango do Brasil. A China é um mercado extremamente
relevante para a indústria escoar a produção de cortes pouco demandados no
mercado doméstico, como pé de frango.
À agência Reuters, a sócia do
escritório de advocacia MPA Trade Law, Claudia Marques, disse na segunda-feira
que o Ministério do Comércio da China aceitou uma proposta feita pelos
exportadores brasileiros para um acordo de preços mínimos. Os detalhes dessa
proposta não foram divulgados. Procurada, a Associação Brasileira de Proteína
Animal (ABPA) não respondeu.
Com o acordo, os frigoríficos
brasileiros se comprometerão a não vender carne de frango para a China abaixo
de um determinado valor. A intenção de Pequim é proteger a avicultura do país
asiático.
Desde junho do ano passado, a China
aplica tarifas que variam entre 18,8% e 38,4%. Maior indústria de carne de
frango do país, a BRF paga 25,3%. A Seara, subsidiária da JBS, paga 18,8%.
Embora os exportadores brasileiros tenham feito propostas, o acordo de preço mínimo
(“price undertaking”) é condição imposta por Pequim.
Em junho, quando anunciou a aplicação
das tarifas antidumping, já se sabia que os chineses pressionavam por um acordo
do gênero. Na época, representantes dos exportadores brasileiros admitiam
negociar com Pequim, mas temiam os termos da negociação.
Em geral, os acordos do gênero têm
validade de cinco anos. Trata-se de um período muito longo. Se o preço for
fixado na moeda chinesa, alterações no câmbio poderiam provocar grandes distorções,
advertiu uma fonte em junho do ano passado.
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