segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Marcopolo volta a priorizar mercado externo depois de 10 anos com foco no Brasil

         A fabricante de ônibus Marcopolo, sediada em Caxias do Sul (RS), depois de 10 anos com o foco das operações no Brasil, mudou de rumo e voltou a priorizar o mercado externo. A maior parte da receita líquida da empresa vinha sendo gerada internamente desde 2006. Agora, houve uma inversão, fazendo com que as exportações a partir do Brasil e as vendas de veículos produzidos e negociados fora do País passassem a ser 68% da receita.
         Essa mudança havia dado sinais em 2015, principalmente em decorrência da queda das vendas domésticas, e se acentuou neste ano, com um salto nas operações internacionais - entre janeiro e setembro, as exportações a partir do Brasil avançaram 43,8% ante o mesmo período de 2015.
        Além da desvalorização do real e da relativa perda de competitividade chinesa, uma estratégia montada pela companhia impulsionou as vendas para fora. Em outubro de 2015, uma equipe de 30 funcionários fixou um mapa-múndi na parede e começou a marcar os países em que a Marcopolo havia perdido mercado nos últimos 10 anos e que poderiam ser retomados, além de possíveis novas conquistas. "Conhecendo o histórico de exportações, criamos uma força-tarefa", conta o presidente da empresa, Francisco Gomes Neto.
       Nos 12 meses seguintes, as equipes viajaram 60 países na tentativa de vender seus produtos e amenizar os efeitos da crise econômica brasileira, que devastou o setor automotivo. Desde o auge da empresa, em 2013, até 2015, a Marcopolo viu sua receita líquida recuar 25% e o número de unidades fabricadas cair 46%. "Aumentar exportações foi a única saída. Aprendemos que não podemos descuidar do mercado externo mesmo quando o câmbio é desfavorável. A retomada não é fácil."
         O descuido com as vendas internacionais foi consequência do bom momento vivido pelo setor no Brasil até 2013. Os juros a 2,5% ao ano para empresas de transporte e o programa federal Caminho da Escola (que facilitou a compra de veículos por prefeituras) resultaram na explosão das vendas domésticas de ônibus no período.
         Para Antônio Jorge Martins, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), especialista no setor, a Marcopolo conseguiu recuperar suas exportações por ter alto nível de internacionalização - são 12 plantas fora do País. Martins afirma, ainda, que as multinacionais instaladas no Brasil não puderam ampliar suas exportações a partir do País em igual ritmo, porque precisam negociar com as matrizes para não comprometerem unidades produtivas de outros países.
         Apesar de amenizarem as perdas, as vendas internacionais não chegam a salvar a Marcopolo. Em 2016, houve queda de 10% nas receitas de janeiro a setembro. A companhia acabou fechando uma fábrica no Rio de Janeiro, adquirida no fim de 2015, quando comprou a concorrente Neobus. Também precisou se desfazer de 7,5% do capital da canadense New Flyer, permanecendo com 10,8% do negócio. Ainda há a intenção de usar a New Flyer para entrar no mercado norte-americano, onde poderia explorar os segmentos rodoviário e de micro-ônibus. Os veículos seriam enviados aos EUA a partir do Brasil ou do México.
         Gomes Neto admite que não será possível manter o ritmo de crescimento internacional em 2017. "Retomamos mercados onde a Marcopolo era forte, o que não vai se repetir." O foco, entretanto, continuará lá fora, já que não há sinais de recuperação interna.

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