quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Estudo feito no Brasil indica que acidentes no novo Canal do Panamá poderiam ter sido evitados

         O primeiro incidente no novo canal do Panamá, o choque de um navio chinês contra uma parede em julho, poderia ter sido evitado graças a um estudo feito no Brasil. O trabalho, apresentado às autoridades responsáveis pelo canal em abril deste ano, mostrava que, em condições climáticas desfavoráveis, os rebocadores que conduzem os navios pelo canal não teriam potência suficiente para conduzir as embarcações com segurança.
         O novo canal é considerado pelos especialistas em logística uma revolução mundial no transporte. A ACP (Autoridade do Canal do Panamá) estima que a nova passagem possa aumentar até 2020 em 22% a tonelagem transportada através do canal, beneficiando o comércio mundial (5% das mercadorias passam pela região).
         Foram investidos aproximadamente US$ 5,2 bilhões (cerca de R$ 16,5 bilhões) na construção do novo canal, inaugurado em 26 de junho com a intenção de aumentar a quantidade de navios que cruzam os oceanos Atlântico e Pacífico para reduzir os custos de transportes de mercadorias entre os continentes americano e asiático.
         A ACP rechaça os estudos apresentados e afirma que o canal é seguro, com menos de 0,1% de incidentes em relação aos 14 mil trânsitos anuais. Antonio Rodriguez Fritz, secretário regional para as Américas da IT?F, federação internacional de trabalhadores marítimos, discorda.
          A ITF foi quem pediu o estudo brasileiro preocupada com informações de trabalhadores do canal sobre a falta de capacidade de operação na nova estrutura, que poderia colocar em risco a segurança dos funcionários. No dia 21 de julho, o navio Xin Fei Zhou, de 335 metros, colidiu com a parede da eclusa no lado do Atlântico.
         De acordo com Fritz, a ITF decidiu contratar a Fundação Homem do Mar, do Brasil, por ser o laboratório mais qualificado das Américas para simulações de operação marítimas. A fundação, braço educacional do Sindicato dos Marítimos, trabalha em conjunto com a Marinha nesse tipo de simulação.
Segundo Fritz, as simulações feitas no Brasil mostraram que as dimensões do canal para manobrar novos navios (agora maiores) eram pequenas e, com os rebocadores comprados e os existentes, haveria risco de acidentes em condições climatológicas adversas.
         Segundo Severino Almeida, presidente da Fundação Homem do Mar, o estudo foi pedido porque não havia consenso entre a autoridade do canal e os operadores do porto sobre a real quantidade de navios que os rebocadores podem operar com segurança. "O espaço foi reduzido demais. Usamos um modelo matemático que já utilizamos no Brasil com sucesso para estimar a real capacidade de manobra com segurança", disse Almeida.
         A Autoridade do Canal do Panamá garantiu que desde a abertura, em julho, já passaram 55 grandes navios e reitera que o canal é seguro, sem comentar o incidente. A empresa informa que o estudo brasileiro foi "rechaçado" quando apresentado porque "os modelos matemáticos usados não são reais e carecem, portanto de rigor científico", além dos autores não "serem idôneos para fazê-lo". "A ACP reitera que está preparada para fazer frente ao desafio que representa o novo canal com segurança e eficiência".

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