segunda-feira, 22 de maio de 2017

Estaleiro Enseada, sem encomendas e com dívida bilionária, quer transformar suas instalações em polo logístico

         A Enseada Indústria Naval, sem encomendas e com um dívida bilionária para pagar, planeja explorar uma nova atividade na área onde está construído o estaleiro Enseada Paraguaçu, no interior da Bahia. A ideia da empresa, que tem como sócia as empreiteiras envolvidas na Lava Jato Odebrecht, OAS e UTC, além da japonesa Kawasaki, é aproveitar a estrutura montada para construir navios – que custou R$ 2,7 bilhões – e criar um polo industrial e logístico.
         “Já temos o ativo físico, como o cais, guindastes, acesso e um terminal de uso privado licenciado, além das licenças ambientais de operação. Isso nos dá uma vantagem competitiva”, afirma o presidente da empresa Fernando Barbosa. Segundo ele, esse terminal seria usado para a importação de combustíveis, que hoje tem carência de infraestrutura em todo o Brasil.
         Na Bahia, diz o executivo, os grandes terminais de líquidos são ocupados pela operação de refinaria e pelo polo petroquímico. Apesar da infraestrutura construída no local, a empresa ainda teria de investir em tancagem e ter autorização da Agência Nacional do Petróleo (ANP). A nova empreitada, no entanto, depende de negociações em andamento com um novo sócio, diz Barbosa. “A partir dessa definição, em um ano conseguiríamos ser operacionais.”
         O executivo destaca, entretanto, que apesar da nova atividade, a estrutura do estaleiro será mantida, na esperança de uma reversão do cenário atual. O Enseada Paraguaçu está construído numa pequena parte do terreno de 1,6 milhão de metros quadrados. Desse total, 300 mil m² é reserva ambiental e o restante está disponível para novas construções.
         A busca por uma nova atividade tem o objetivo de rentabilizar o negócio da empresa, que teve um baque com a Operação Lava Jato e a crise da Petrobrás. A Enseada tinha contratos de US$ 4,8 bilhões com a Sete Brasil (empresa criada para intermediar a construção de sondas da Petrobrás para exploração do pré-sal) para construir seis navios sondas até 2020. Mas a Sete Brasil entrou em recuperação judicial e deixou de pagar, segundo Barbosa, R$ 1,7 bilhão para a empresa de serviços aprovados e medidos.
         Quando a crise atingiu a empresa e o setor, o estaleiro estava com 82% das obras concluídas e consumido investimentos de R$ 2,7 bilhões. No total, o empreendimento custaria R$ 3,2 bilhões. Hoje, embora seja operacional, o estaleiro está parado, com apenas 90 trabalhadores responsáveis pela manutenção dos equipamentos.
         Com uma dívida de R$ 1,2 bilhão, sem encomendas e sem caixa, a saída para a Enseada foi entrar com pedido de recuperação extrajudicial, em janeiro deste ano. “Diferentemente da recuperação judicial, no extrajudicial a gente já entra com um plano de trabalho aprovado por, no mínimo, 64% dos credores. E conseguimos isso”, diz o presidente da empresa.
         De acordo com o cronograma, a empresa teria um tempo para negociar com os credores restantes para aderir ou não ao plano. Após esse período, o juiz homologaria a recuperação da empresa. Até agora, no entanto, isso não ocorreu. A expectativa era que isso ocorreria entre esta semana e a próxima, afirma Barbosa.
          Como o Enseada, outros estaleiros estão com problema no Brasil inteiro desde que a Operação Lava Jato foi deflagrada. As denúncias envolvendo as empreiteiras (sócias de boa parte dos estaleiros) e a Petrobrás respingaram na Sete Brasil, que parou de pagar os estaleiros. Além disso, a Petrobrás reviu todo o seu plano de investimento.
        “Os estaleiros foram levantados com uma expectativa da Petrobrás de um cenário extremamente otimista. A realidade se mostrou diferente. Era um sonho que não tinha nenhum sentido. Hoje a expectativa é muito mais modesta”, afirma Barbosa.

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