domingo, 4 de março de 2018

Decisão de Trump de sobretaxar importação coloca Brasil no centro de uma "guerra do aço"

        A sobretaxa anunciada pelo presidente Donald Trump para proteger o mercado siderúrgico norte-americano vai colocar o Brasil no centro de uma verdadeira guerra do aço. Hoje, uma em cada três toneladas exportadas daqui vão para os Estados Unidos. Se as portas se fecharem, o Brasil terá que competir por novos mercados com todos os outros países que também serão sobretaxados. E Minas, como maior produtor, junto com o Rio, tem papel fundamental nesse embate.
        Trump revelou que, na semana que vem, seu governo vai impor tarifas de importação de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio. O Brasil está entre os que mais devem ser afetados: é o segundo maior exportador de aço aos Estados Unidos, atrás apenas do Canadá.
        Para tentar convencer Trump dos riscos dessa artimanha protecionista, um grupo de empresários das maiores siderúrgicas brasileiras acompanhou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) em uma missão aos EUA. “Acabamos de chegar de Washington”, disse nessa sexta-feira (2) o vice-presidente do grupo Vallourec na América do Sul, Alexandre Lyra.
         “Entre os argumentos apresentados ao secretário de Comércio Exterior de lá está o fato de que a grande importação de carvão mineral será afetada. Hoje, exportamos US$ 2,4 bilhões de aço para lá, mas, em compensação, importamos U$ 1 bilhão em carvão mineral que usamos como matéria-prima, e isso será abalado”, afirmou.
          O Brasil exporta 15,4 milhões de toneladas de aço anualmente, sendo 4,7 milhões (32,7%) para os Estados Unidos. Minas Gerais e Rio de Janeiro são os dois principais Estados produtores. Na avaliação de Lyra, que também é presidente do conselho diretor do Instituto Aço Brasil, “se deixarmos de vender para eles, teremos que procurar outros mercados”. “A questão é que, como todos os países serão sobretaxados, todos estarão procurando novos mercados ao mesmo tempo”, avalia.
          Em média, cada tonelada vendida para os EUA sai em torno de US$ 510. “Se a sobretaxa de 25% proposta pelo governo de Trump passar, teremos que baixar muito o valor para competir. E ainda corremos o risco de sofrer processo antidumping, que é medida comum adotada pelos norte-americanos. O impacto será muito grande e pode tirar grandes siderúrgicas do mercado”, ressalta Lyra.
          No ano passado, os Estados Unidos importaram 35,6 milhões de toneladas de aço, ou seja 36% de seu consumo, ou o equivalente a US$ 33,6 bilhões, segundo dados da consultoria Wood Mackenzie. O anúncio de Trump despertou uma onda de indignação entre os principais sócios comerciais dos EUA, como Canadá, União Europeia, China e México, além do Brasil. Todos temem uma grande guerra comercial. (Com agências)
         Donald Trump afirma que o objetivo da sobretaxa é punir práticas comerciais que ele acredita que sejam desleais, aumentem o déficit e roubem empregos norte-americanos.
         A Comissão Europeia anunciou nessa sexta-feira (2) que, se os EUA taxarem aço e alumínio, a Europa pode retaliar com sobretaxação de motos da marca Harley Davidson, de uísque bourbon e de blue jeans.Essas medidas equivaleriam a uma taxação de US$ 3,5 bilhões de produtos norte-americanos.
        O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que as tarifas de Trump vão prejudicar a economia do mundo e despertam preocupações de que outros países possam usar a segurança nacional para justificar restrições a importações amplas.
         O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, disse que outros países já invocaram questão de segurança nacional para impor tarifas contra empresas norte-americanas.Ele afirmou que a intenção é fortalecer a economia dos EUA e gerar empregos.
         Já o presidente Donald Trump recorreu, como sempre, ao Twitter para defender sua ideia. Escreveu: “Quando um país está perdendo bilhões de dólares no comércio com virtualmente todos os países com os quais faz negócios, guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar”.
         As siderúrgicas instaladas no Brasil estão preocupadas com a ameaça de taxação em 25% do aço importado pelos EUA. A medida, anunciada na quinta-feira pelo presidente Donald Trump, será detalhada a partir da próxima semana e coloca as indústrias em alerta, com repercussão na Bovespa.         
         Prova disso é que as ações da CSN, Usiminas e Gerdau fecharam com forte queda nessa sexta-feira (2), entre os piores desempenho da bolsa. Os papéis da CSN encerraram com recuo de 5,05%, cotados a R$ 9,21. As ações da Usiminas caíram 3,9%, a R$ 11,34, enquanto as da Gerdau baixaram 1,46%, a R$ 16,90 (os papéis da holding da família caíram 2,38%). Juntas, as três perderam R$ 1,7 bilhão em valor de mercado.
          Procurada, a Usiminas informou que as novas medidas a serem publicadas pelo governo dos EUA não devem ter impacto relevante para a empresa, uma vez que o país respondeu por 4% das vendas externas da companhia no ano passado. A empresa destina apenas 15% de suas vendas totais ao mercado externo.
          O governo brasileiro não descarta recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a possível taxa extra que aço e alumínio pagarão para entrar nos Estados Unidos, disse nessa sexta-feira (2) ao portal G1 o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Marcos Jorge de Lima. Ele destacou, porém, que é preciso aguardar para ver se a medida, anunciada para a semana que vem, será mesmo efetivada.
          O diretor geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevêdo, abandonou sua imparcialidade tradicional com relação às medidas adotadas por diferentes governos e declarou que está “claramente preocupado com o anúncio dos planos dos EUA”.

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