A CMA CGM estuda a possibiilidade de participar da transação que envolveria a venda de 43 portos pertencentes à CK Hutchison Holdings. "Estamos monitorando isso de perto", disse Ramon Fernandez, diretor financeiro da CMA CGM, nesta semana.
"Naturalmente, estamos muito interessados em participar de uma solução que ainda não foi encontrada", acrescentou, referindo-se a um possível envolvimento direto do grupo controlado por Rodolphe Saadé e sua família. As declarações, feitas durante a apresentação dos resultados do segundo trimestre, confirmam que as negociações para a venda dos 43 portos da CK Hutchison continuam.
Se Saadé formalizar seu interesse, ele se juntará à Terminal Investment Ltd. (TiL), braço portuário da MSC, que faz parte do consórcio comprador original com a BlackRock Inc. No entanto, o período de exclusividade de 145 anos entre a CK Hutchison e o Consórcio já expirou. Uma potencial aquisição da CMA CGM estaria em linha com a estratégia agressiva de aquisições da Saadé nos últimos anos, que incluiu a expansão das operações marítimas, infraestrutura portuária, logística e recursos.
A companhia marítima com sede em Marselha adquiriu dois grandes terminais nos EUA, assumiu o controle de uma operadora portuária no Brasil e assinou um acordo com um parceiro para desenvolver um terminal de águas profundas no norte do Vietnã. "Este acordo é muito importante para a indústria e para nós, como um player relevante no setor", disse Fernandez.
Cabe ressaltar que o interesse da CMA CGM nesta negociação também pode estar ligado ao fato de a companhia marítima francesa ser parceira da Ocean Alliance com a Cosco Shipping, que entrou de cabeça na disputa para fazer parte do consórcio para adquirir os negócios portuários da CK Hutchison.
Inicialmente anunciada em março, a proposta de venda enfrentou forte resistência da China, onde o regulador do mercado anunciou que revisaria a transação. Essa oposição levou a CK Hutchinson a confirmar que está em negociações para incluir um "investidor chinês estratégico", provavelmente a Cosco Shipping.
Isso ocorre após o acordo original de venda entre a CK Hutchison e o consórcio comprador BlackRock/TiL fracassar conforme planejado no início de março, fato confirmado após o encerramento do período de negociação.
O analista da indústria marítima Lars Jensen lembra que o acordo original surgiu em meio à turbulência política criada pelo governo dos Estados Unidos ao acusar a China de controlar o Canal do Panamá, em parte devido à presença dos dois terminais da Hutchinson no Panamá (Balboa e Cristobal).
A venda para a Blackrock/TiL pareceu resolver essa questão política. De fato, o próprio presidente Donald Trump saudou o acordo como uma vitória para os EUA, acreditando que ele restauraria a influência americana sobre o Canal do Panamá, visto que os portos à venda estão localizados nesta hidrovia interoceânica estratégica. No entanto, a possível chegada de um (co-)investidor chinês pode reacender o problema, a menos que esses dois terminais sejam especificamente excluídos do acordo.
