A América Latina registrou um progresso significativo em sua infraestrutura de gás natural liquefeito (GNL) em 2024, adicionando 13,8 milhões de toneladas por ano (MTPA) de nova capacidade de regaseificação. Essa expansão colocou a região em terceiro lugar globalmente, atrás da Ásia e da Europa, de acordo com o Relatório de GNL de 2025 publicado pela União Internacional do Gás (IGU).
Esse crescimento se deve quase exclusivamente ao Brasil, que inaugurou três novos terminais flutuantes de regaseificação (FSRUs) para GNL em Barcarena (6 MTPA), São Paulo LNG (3,8 MTPA) e Terminal Gás Sul LNG (4 MTPA). Essas instalações não apenas adicionaram capacidade de regaseificação, mas também 0,48 milhão de metros cúbicos (mmcm) de armazenamento de GNL.
O principal gatilho para essa rápida expansão foi a seca mais severa que o Brasil já vivenciou em décadas, que afetou profundamente a geração hidrelétrica, a principal fonte de energia do país. Diante dessa emergência, o governo recorreu ao GNL como solução de reserva.
"Em 2024, o Brasil vivenciou a seca mais severa em décadas, o que desencadeou um aumento repentino na demanda por GNL para geração de eletricidade", observa o relatório. Essa alta variabilidade climática impõe desafios ao planejamento energético do país. Nesse contexto, as FSRUs se consolidaram como uma alternativa flexível e eficiente.
Como resultado, as importações brasileiras de GNL quadruplicaram em um único ano, passando de 0,66 milhão de toneladas (MT) em 2023 para 2,94 MT em 2024. Por sua vez, a utilização dos terminais de regaseificação aumentou de 2% para 7%, refletindo uma recuperação significativa no setor.
De acordo com o relatório, apesar do progresso, o Brasil enfrenta grande incerteza quanto à sua demanda futura por GNL devido à natureza variável de sua matriz energética renovável. No entanto, o modelo FSRU oferece a capacidade de ajustar o fornecimento a eventos imprevistos, como secas ou interrupções no fornecimento.
"A instabilidade da geração renovável no Brasil cria incerteza sobre a demanda por GNL, reforçando a preferência por terminais flutuantes", afirma o relatório. A escolha de terminais flutuantes não é coincidência. Essas instalações se destacam por sua rápida implantação, menores custos de investimento e facilidade de realocação, tornando-as a opção preferida para mercados que enfrentam flutuações na demanda de energia ou emergências operacionais.
"Os terminais flutuantes continuarão sendo a solução preferida em mercados emergentes devido ao seu menor custo e rápida implementação", afirma o documento. Globalmente, mais da metade da nova capacidade de regaseificação adicionada em 2024 veio de terminais flutuantes.
Na América Latina, todos os projetos inaugurados durante o ano foram desse tipo. Além disso, o relatório prevê que 6,1 MTPA adicionais de capacidade flutuante estão atualmente em construção na região, reforçando a tendência para uma infraestrutura mais adaptável.
Com essas novas adições, a capacidade total de regaseificação da América Latina atingiu 62,2 MTPA ao final de 2024. Esse crescimento representa um passo importante em direção a uma matriz energética mais diversificada e resiliente. No entanto, limitações estruturais permanecem. Por exemplo, a capacidade de atracação de navios de grande porte (como o Q-Max, o maior navio de transporte de GNL do mundo) permanece limitada na região.
Dos 194 terminais em operação globalmente, apenas três na América Latina estão equipados para receber esses tipos de navios. Isso pode restringir a eficiência logística e o acesso a mercados mais competitivos. Apesar de tudo isso, o mercado está em expansão.
A experiência latino-americana faz parte de um cenário global de forte crescimento. Em 2024, 66,6 MTPA de capacidade de regaseificação foram adicionados em todo o mundo. No entanto, a utilização média global caiu para 38,6%, ante 40,1% em 2023 e 42,8% em 2022. Esse declínio é explicado pela menor demanda na Ásia e na Europa, aliada a altos níveis de estoque e condições climáticas amenas, que reduziram a necessidade de importações adicionais.

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