O comércio global de fertilizantes está passando por uma reconfiguração estrutural que está alterando o papel de diferentes atores e rotas marítimas. Fatores como a diversificação de fontes da Índia, a redução das exportações da China e o aumento dos volumes exportados pela Rússia e pela região do Oriente Médio e Norte da África (MENA) para mercados mais distantes estão alongando significativamente as cadeias logísticas.
Nesse contexto, países como o Brasil aumentaram suas importações de fornecedores não tradicionais, refletindo um padrão mais amplo de mudança geográfica nos fluxos globais. Em 2024, o comércio global de fertilizantes ultrapassou 190 milhões de toneladas, segundo dados da Drewry. Uma das mudanças mais notáveis é a cessação virtual do comércio de ureia entre a China e a Índia, uma relação que durante anos foi central para o mercado.
A Índia, historicamente a maior importadora de ureia, avançou em sua estratégia de diversificação com o objetivo de autossuficiência a médio prazo, desbancando a China como fornecedora prioritária. Ao mesmo tempo, a China reforçou suas restrições à exportação para garantir o abastecimento doméstico.
Essa retração abriu caminho para que outros players — notadamente a Rússia — ganhassem terreno em mercados-chave. "A Índia praticamente eliminou sua dependência do fornecimento chinês", observa Drewry, citando uma mudança decisiva no equilíbrio geopolítico do comércio de fertilizantes.
Enquanto isso, produtores na Rússia e na região MENA, tradicionalmente focados na Ásia, estão redirecionando volumes significativos para destinos mais distantes, como América Latina e Austrália. Em particular, o Brasil aumentou suas importações da Rússia, enquanto a Austrália está aumentando sua exposição às exportações da região MENA.
Essa reconfiguração não apenas amplia a dispersão geográfica dos fluxos, mas também impulsiona a demanda por toneladas-milha. Drewry detalha que o fornecimento do Brasil pela Rússia representa um aumento de mais de 60% nas distâncias médias, em comparação com o fornecimento histórico do Marrocos.
Situação semelhante está ocorrendo com a Índia, que, ao substituir a China por fornecedores no Golfo Pérsico e no Mar Negro, está ampliando significativamente suas rotas de importação. Esse novo cenário tem consequências significativas para a frota de granéis. Historicamente transportados por navios do tipo Handy-size e Supramax, os fertilizantes estão agora migrando para navios maiores.
Entre 2020 e 2024, a participação dos navios Panamax nesses embarques cresceu de 21% para 24%, enquanto a dos navios do tipo Handy-size caiu de 36% para 32%. Em rotas específicas, as mudanças são ainda mais pronunciadas: as exportações russas aumentaram o uso de navios Supramax de 49% para 76%, substituindo drasticamente os navios do tipo Handy-size.
O Brasil também reflete essa tendência. "As melhorias portuárias em Santos e Paranaguá foram fundamentais para permitir a movimentação de navios maiores", observa Drewry, explicando por que a participação dos navios Supramax nas importações brasileiras passou a dominar completamente, reduzindo a participação dos navios do tipo Handy-size de 51% para 19%.
Olhando para o futuro, projeta-se que os volumes de fertilizantes cresçam de 2% a 3% ao ano entre 2024 e 2030, mas com um aumento mais pronunciado em toneladas-milhas. Essa divergência se deve a rotas mais longas — resultado de mudanças de fornecedores e destinos —, aumentando o tempo de navegação por tonelada transportada.
O setor do comércio global de fertilizantes não é mais definido apenas pela quantidade transportada, mas por onde e como é transportado. A transição para rotas mais longas e navios maiores está moldando um novo normal para o mercado de granéis leves. "A demanda por toneladas-milha será beneficiada desproporcionalmente, mesmo quando os volumes gerais de importação se estabilizarem", conclui Drewry, reforçando o papel do setor como um impulsionador estável da atividade da frota de Supramax e Panamax.
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