sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Operação Lava-jato investiga se diretor da Maersk recebeu informações privilegiadas de Costa

     A Operação Lava-Jato está apurando se o diretor da Maersk no Brasil, Viggo Andersen foi o destinatário de informações privilegiadas repassadas pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa ao empresário Wanderley Saraiva Gandra, lobista com atuação no segmento de locação de navios de grande porte, segundo a Polícia Federal (PF). A investigação encontrou indícios de prática de concorrência desleal, informou matéria do jornal Valor Econômico. Segundo afirmou o ex-diretor da Petrobras em sua delação premiada, "a informação antecipada que Wanderley detinha a respeito da futura necessidade de navios, permitia que ele alertasse a Maersk para eventualmente fazer reservas de navios para serem contratados pela Petrobras, no caso do mercado estar em baixa, isto é, de haver muitos navios disponíveis, por exemplo". O delator destacou que "havia uma vantagem competitiva para a Maersk", porque, segundo ele, a volatilidade do mercado possibilitaria "haver contratos de três anos para navios por preços bem diferentes". Andersen é diretor da Maersk Supply Service Apoio Marítimo, subsidiária brasileira da Maersk Supply Service. O jornal Valor Econômico revelou que ele e Gandra são investigados desde o ano passado por suspeita de recebimento de propina em contratos firmados por intermédio da Gandra Brokerage, uma fachada controlada por Costa, de acordo com a investigação. Em dois de seus depoimentos como colaborador, homologados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Costa afirmou que "dos negócios" que o suposto operador financeiro da Maersk Wanderley Saraiva Gandra conseguisse, um percentual seria destinado a Viggo Andersen.
     O ex-diretor da estatal esclareceu que "a Gandra Brokerage não tinha nenhuma facilidade para ser contratada pela Petrobras, apenas tinha uma informação privilegiada de quantos navios seriam contratados e em que mês". Costa disse que Gandra era um "broker", corretor que representa donos de navios e que após constituir a empresa Gandra Brokerage "Wanderley procurou o declarante e ofereceu metade do percentual que lhe seria devido como comissão em troca de informações privilegiadas sobre as demandas da Petrobras nesse mercado de locação de navios de grande porte". Costa explicou que "aceitou a proposta já nessa oportunidade" e que "passava a informação a Wanderley uma vez por ano, pois a Petrobras fecha uma vez por ano a programação da contratação de navios; (...) que então passava cópia desse cronograma a Wanderley; que acredita que passou a primeira informação entre 2006 e 2007".

     Em depoimento à delegada Erika Mialik Marena prestado em setembro do ano passado, Costa disse "que soube posteriormente que dos negócios que Wanderley conseguisse para a Maersk, 1,5% ficaria para Viggo Andersen e 1,5% ficaria para Wanderley Gandra". Contou também que ficava com 0,75% da comissão de Wanderley e que o dinheiro era entregue em espécie em sua residência no Rio de Janeiro, "na periodicidade de cerca de uma vez ao mês". No dia seguinte, 8 de setembro de 2014, Paulo Roberto Costa depôs novamente, desta vez ao delegado Eduardo Mauat da Silva. Ele informou "que algumas informações prestadas anteriormente em relação as atividades da empresa Gandra Brokerage estavam imprecisas". Costa disse "que deseja esclarecer que a comissão de 'brokeragem' [corretagem] em termos mundiais é de 3%; que, no caso dos navios afretados pela Petrobras junto a Maersk a comissão era de fato de 3% sendo que desse percentual 0,5% era destinado a Viggo Andersen, representante da Maersk no Brasil e 2,5% eram destinados a Gandra Brokerage; que a comissão destinada a Gandra era rateada em partes iguais entre a empresa e o declarante; que acredita que os ganhos provenientes da sua participação nas comissões da Gandra podem ter sido superiores a R$ 30 mil mensais".

     Paulo Roberto Costa disse que a entrada da Maersk "no ramo de transporte de petróleo e derivados aqui no Brasil" foi discutido em um almoço "por volta de 2005 ou 2006" com Viggo Andersen e Wanderley Saraiva Gandra. Ele afirmou ter dito a Vigo se tratar de "um mercado promissor". O Grupo Maersk é o maior conglomerado de navegação do mundo. Seu faturamento em 2013 foi de US$ 47,3 bilhões. A reportagem não localizou Wanderley Saraiva Gandra no endereço indicado na Junta Comercial como o do escritório da Gandra Brokerage no Rio de Janeiro. Procurada pelo Valor Econômico, a Maersk respondeu em nota redigida pela matriz na Dinamarca. "Subornos e comissões ilícitas são estritamente proibidos para qualquer funcionário da Maersk ou terceiros trabalhando com a empresa". A nota diz que a companhia procura ser didática: "na comercialização mundial de navios de transporte de gás e de petroleiros, é normal e costumeiro o uso de corretores, que fornecem assistência de marketing externa para promover serviços de operadores de petroleiros". Segundo a Maersk, "a norma internacional e a taxa padrão do mercado para corretores é uma comissão de 1,25% sobre o dinheiro que se ganha no contrato de frete". A Maersk confirmou que usou a Gandra Brokerage como corretora no Brasil e pagou a comissão padrão. "Essas comissões foram pagas contra notas fiscais apropriadas e oficiais e por meio de canais bancários oficiais", diz o texto. " A Maersk não tem um contrato com ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa", garante a nota. "Buscamos ativamente e fornecemos informações voluntariamente para as autoridades federais brasileiras e, por meio de aconselhamento externo, organizamos um encontro com o procurador da República em julho de 2014. Não fomos contatados pelas autoridades federais desde então, mas continuamos à disposição para cooperar", acrescentou a nota.

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