A Operação Lava-Jato está apurando se o diretor da Maersk no Brasil, Viggo
Andersen foi o destinatário de informações privilegiadas repassadas pelo
ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa ao
empresário Wanderley Saraiva Gandra, lobista com atuação no segmento de
locação de navios de grande porte, segundo a Polícia Federal (PF). A investigação encontrou indícios de prática de concorrência desleal, informou matéria do jornal Valor Econômico. Segundo
afirmou o ex-diretor da Petrobras em sua delação premiada, "a
informação antecipada que Wanderley detinha a respeito da futura
necessidade de navios, permitia que ele alertasse a Maersk para
eventualmente fazer reservas de navios para serem contratados pela
Petrobras, no caso do mercado estar em baixa, isto é, de haver muitos
navios disponíveis, por exemplo". O delator destacou que "havia
uma vantagem competitiva para a Maersk", porque, segundo ele, a
volatilidade do mercado possibilitaria "haver contratos de três anos
para navios por preços bem diferentes". Andersen é diretor da
Maersk Supply Service Apoio Marítimo, subsidiária brasileira da Maersk
Supply Service. O jornal Valor Econômico revelou que ele e Gandra são investigados desde o ano passado por
suspeita de recebimento de propina em contratos firmados por intermédio
da Gandra Brokerage, uma fachada controlada por Costa, de acordo com a
investigação. Em dois de seus depoimentos como colaborador,
homologados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Costa afirmou que "dos
negócios" que o suposto operador financeiro da Maersk Wanderley Saraiva
Gandra conseguisse, um percentual seria destinado a Viggo Andersen.
O ex-diretor da estatal esclareceu que "a Gandra Brokerage não tinha nenhuma facilidade para
ser contratada pela Petrobras, apenas tinha uma informação
privilegiada de quantos navios seriam contratados e em que mês". Costa disse que Gandra era um "broker", corretor que representa
donos de navios e que após constituir a empresa Gandra Brokerage
"Wanderley procurou o declarante e ofereceu metade do percentual que lhe
seria devido como comissão em troca de informações privilegiadas sobre
as demandas da Petrobras nesse mercado de locação de navios de grande
porte". Costa explicou que "aceitou a proposta já nessa
oportunidade" e que "passava a informação a Wanderley uma vez por ano,
pois a Petrobras fecha uma vez por ano a programação da contratação de
navios; (...) que então passava cópia desse cronograma a Wanderley; que
acredita que passou a primeira informação entre 2006 e 2007".
Em
depoimento à delegada Erika Mialik Marena prestado em setembro
do ano passado, Costa disse "que soube posteriormente que dos negócios
que Wanderley conseguisse para a Maersk, 1,5% ficaria para
Viggo Andersen e 1,5% ficaria para Wanderley Gandra". Contou também que
ficava com 0,75% da comissão de Wanderley e que o dinheiro era entregue
em espécie em sua residência no Rio de Janeiro, "na periodicidade de
cerca de uma vez ao mês". No dia seguinte, 8 de setembro de 2014,
Paulo Roberto Costa depôs novamente, desta vez ao delegado Eduardo
Mauat da Silva. Ele informou "que algumas informações prestadas
anteriormente em relação as atividades da empresa Gandra Brokerage
estavam imprecisas". Costa disse "que deseja esclarecer que a comissão de 'brokeragem'
[corretagem] em termos mundiais é de 3%; que, no caso dos navios
afretados pela Petrobras junto a Maersk a comissão era de fato de 3%
sendo que desse percentual 0,5% era destinado a Viggo Andersen,
representante da Maersk no Brasil e 2,5% eram destinados a Gandra
Brokerage; que a comissão destinada a Gandra era rateada em partes
iguais entre a empresa e o declarante; que acredita que os ganhos
provenientes da sua participação nas comissões da Gandra podem ter sido
superiores a R$ 30 mil mensais".
Paulo Roberto Costa disse que a
entrada da Maersk "no ramo de transporte de petróleo e derivados aqui no
Brasil" foi discutido em um almoço "por volta de 2005 ou 2006" com
Viggo Andersen e Wanderley Saraiva Gandra. Ele afirmou ter dito a Vigo
se tratar de "um mercado promissor". O Grupo Maersk é o maior
conglomerado de navegação do mundo. Seu faturamento em 2013 foi de US$
47,3 bilhões. A reportagem não localizou Wanderley Saraiva Gandra
no endereço indicado na Junta Comercial como o do escritório da Gandra
Brokerage no Rio de Janeiro. Procurada pelo Valor Econômico, a Maersk
respondeu em nota redigida pela matriz na Dinamarca. "Subornos e
comissões ilícitas são estritamente proibidos para qualquer funcionário
da Maersk ou terceiros trabalhando com a empresa". A nota diz que a companhia
procura ser didática: "na comercialização mundial de navios de
transporte de gás e de petroleiros, é normal e costumeiro o uso de
corretores, que fornecem assistência de marketing externa para promover
serviços de operadores de petroleiros". Segundo a Maersk, "a norma
internacional e a taxa padrão do mercado para corretores é uma comissão
de 1,25% sobre o dinheiro que se ganha no contrato de frete". A Maersk
confirmou que usou a Gandra Brokerage como corretora no Brasil e pagou a
comissão padrão. "Essas comissões foram pagas contra notas fiscais
apropriadas e oficiais e por meio de canais bancários oficiais", diz o
texto. " A Maersk não tem um contrato com ex-diretor da Petrobras Paulo
Roberto Costa", garante a nota. "Buscamos ativamente e fornecemos
informações voluntariamente para as autoridades federais brasileiras e,
por meio de aconselhamento externo, organizamos um encontro com o
procurador da República em julho de 2014. Não fomos contatados pelas
autoridades federais desde então, mas continuamos à disposição para
cooperar", acrescentou a nota.
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