terça-feira, 2 de julho de 2024

Crise no Mar Vermelho lança desafios para o transporte marítimo de contêineres


A indústria do transporte marítimo de contêineres enfrenta uma série de desafios sem precedentes, que vão desde conflitos geopolíticos à necessidade urgente de descarbonização e digitalização. Segundo a visão do analista Lars Jensen, a crise no Mar Vermelho está remodelando o setor, enquanto a reformulação de alianças e a digitalização de processos procuram mitigar estes efeitos.

Tal como tem sido tendência desde o final do ano passado, a crise do Mar Vermelho é a pedra angular do atual cenário da indústria. Os ataques Houthi a navios mercantes desde dezembro tiveram um impacto significativo nas rotas comerciais e nas taxas de frete. Segundo Jensen, “todas as principais companhias marítimas navegam agora em torno de África”, devido à insegurança no Médio Oriente.

Esta situação levou a um aumento drástico nas taxas de frete, agravado pela incapacidade da comunidade internacional de impedir os ataques. Além disso, o congestionamento portuário na Ásia piorou devido à crise. Jensen explica que “o congestionamento nos portos de transbordo exacerbou a falta de capacidade do mercado”, causando tempos de espera sem precedentes em portos como Singapura.

A procura inesperada da Ásia para a Europa e América agravou esta situação, deixando o mercado num estado de extremo desequilíbrio. “A situação atual é muito semelhante à que vimos durante as perturbações pandêmicas”, afirma, acrescentando que a duração desta crise é incerta, mas provavelmente persistirá durante o resto do ano em curso.

O ambiente geopolítico também está influenciando o transporte de contêneres. O especialista salienta que o mundo está entrando numa era de maior instabilidade e multipolaridade, com potências regionais como a China, a Rússia e a Índia definindo as suas próprias agendas. Isto poderia levar a mais guerras comerciais e sanções cruzadas, complicando o transporte marítimo global e forçando as companhias marítimas a escolher entre mercados.

Jensen reflete que este ambiente imprevisível exige que as empresas marítimas sejam mais adaptáveis ​​e resilientes para navegar nestas águas turbulentas. Em resposta a estes desafios, as alianças no transporte marítimo estão mudando. A aliança entre Maersk e Hapag-Lloyd, conhecida como Gemini Cooperation, está redesenhando suas redes com foco em transbordos e menos ligações diretas.

“Isso poderia levar a uma maior eficiência de custos e a um impacto semelhante em outras rotas, como as da América Latina”, ressalta. Este modelo poderia ser adotado por outras alianças e serviços, consolidando ainda mais o mercado e melhorando a eficiência operacional. A descarbonização e a digitalização são dois pilares fundamentais para o futuro do transporte marítimo. Embora o transporte marítimo de contêineres tenha feito progressos no seu caminho para a descarbonização, enfrenta desafios significativos.

Jensen explica que um dos problemas é que “não existe uma vontade real de pagar por cadeias de abastecimento verdes por parte dos clientes”, o que complica os esforços das companhias marítimas para adotar combustíveis mais limpos, como o metanol verde. A digitalização também está no horizonte, com projetos como a digitalização completa dos conhecimentos de embarque (eB/L) até 2030.

Jensen destaca que “este é o projeto de TI com maior probabilidade de sucesso”, e a sua implementação irá melhorar significativamente a eficiência e a transparência na indústria. Além disso, o recente regulamento ICS 2 na UE exige mais informações dos importadores e exportadores, inaugurando uma era de maior escrutínio e digitalização por parte do governo.

O especialista adverte que o risco de ataques na costa leste dos Estados Unidos também torna o quadro mais complexo. As negociações trabalhistas entre representantes dos operadores portuários e estivadores foram interrompidas. A curto prazo, isto poderá causar congestionamento adicional nos portos, semelhante ao impacto do bloqueio do Canal de Suez durante a pandemia, exacerbando ainda mais a volatilidade do mercado. Em geral, o transporte de contêineres enfrenta um futuro incerto e volátil.

Jensen explica que “o segredo não é resolver todos os problemas do mundo, mas sim conhecê-los e navegar melhor que os seus concorrentes”. A indústria deve adaptar-se a um ambiente de crises geopolíticas, desafios de descarbonização, digitalização e potenciais ataques para permanecer resiliente e competitiva no futuro.

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