terça-feira, 11 de junho de 2024

Estrangulamento entre o Rio Jacuí e o Lago Guaíba pode ter sido um das causas da cheia que inundou Porto Alegre

Um estrangulamento existente entre os rios Jacuí e Guaíba pode ter sido um dos fatores que contribuíram para a cheia que atingiu Porto Alegre durante o mês de maio. A pesquisa, realizada por cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e que integram o Programa de Gestão Ambiental do Porto de Porto Alegre, mostrou que essa situação provocou o represamento da água e causou a elevação do nível de forma diferenciada em pontos da capital.

A unidade da Portos RS foi um dos locais severamente afetados pelo avanço da água, fato que levou a suspensão das operações durante o período em que o nível do Guaíba permaneceu acima da chamada cota de inundação. O retorno à normalidade vem permitindo que a Autoridade Portuária ingresse para iniciar os procedimentos de limpeza, balanço dos prejuízos experimentados e projeção do retorno das atividades na estrutura.

O estudo em tela utilizou dados de campo e imagens geradas pelo satélite franco-americano SWOT e entre as principais descobertas dos pesquisadores estão a constatação de que entre a região do aeroporto e a extremidade sul do município a diferença de nível apresentada foi de aproximadamente três metros. O desnível da água identificado pelas medições de satélite pode ter afetado a régua oficial, deslocada do Cais Mauá para a Usina do Gasômetro.

A pesquisa também apontou que a inclinação da superfície da água foi o parâmetro que registrou um aumento mais drástico, passando de 0,4 cm/km para cerca de 15 cm/km. Os mapas de elevação da água, derivados por sensoriamento remoto, foram validados com levantamentos hidrográficos e estações de nível d'água, ambos usando satélites GPS/GNSS.

A variação de nível mostra que o sistema de controle de cheias poderia ser melhorado na Zona Norte da capital, considerando que os diques de contenção foram projetados com uma cota de coroamento constante. O aperfeiçoamento da rede de monitoramento, com o uso de estações automáticas de medição, surge como uma das recomendações feitas pelos especialistas ao final do estudo.

A pesquisa destaca a importância de tecnologias avançadas e da colaboração científica para enfrentar e mitigar os impactos de desastres naturais. De acordo com o professor do Departamento de Geodésia do Instituto de Geociências (IGEO), Felipe Nievinski, “a lição mais importante deste estudo é que o nível da água pode variar alguns metros em um mesmo momento, entre o norte e sul de Porto Alegre".

O diretor de meio ambiente da Portos RS, Henrique Ilha, afirmou que a parceria com a UFRGS se mostrou fundamental durante a fase mais crítica da enchente e está trazendo importantes subsídios técnicos para o entendimento do processo, além de possíveis melhorias nos sistemas de prevenção e mitigação de impactos de eventos dessa magnitude.

 

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