quinta-feira, 9 de março de 2017

Navios mudam de rota em plena viagem no novo mercado de gás

         Um carregamento de gás natural liquefeito que saiu do Estado de Louisiana, nos Estados Unidos, em dezembro se tornou símbolo da mudança no mercado global para o combustível, que vem sendo considerado opção mais barata e limpa na América Latina, China e Índia. O navio-tanque Maran Gas Achilles cruzou o Canal do Panamá e viajava para a Ásia a uma velocidade de 20 nós quando mudou subitamente a rota. A próxima parada seria o terminal de Manzanillo, na costa sudoeste do México, onde a carga seria descarregada.
         O desvio de rota mostra que os EUA, que começaram a exportar gás de xisto apenas no ano passado, estão criando um novo paradigma em um setor que antes girava em torno de contratos de longo prazo e destinos definidos. Exportadoras de gás natural liquefeito norte-americanos - lideradas por Cheniere Energy e Royal Dutch Shell - buscam o melhor preço a qualquer momento. Com o crescimento das exportações dos EUA, a estratégia pode mudar a dinâmica econômica do GNL para a formação de um mercado à vista parecido com o do petróleo.
         "Os EUA levam o gás aos lugares em prazo curto e a um bom preço", disse Jason Feer, responsável por inteligência de negócios na corretora de fretes marítimos Poten & Partners. "Tem havido flexibilidade. O mercado está se voltando para prazos curtos e os EUA têm sido muito efetivos no atendimento dessas necessidades."
         Os EUA devem se tornar terceiro maior exportador mundial do produto em 2020, com projeção de embarques diários de 235 milhões de metros cúbicos de capacidade ou 14 por cento do total mundial, segundo a consultoria Energy Aspects, de Londres.
         Esse crescimento reflete a ascensão do segmento de xisto na última década, que ajudou a reduzir a dependência dos EUA em relação a fontes de energia do exterior.
Excesso de oferta
         O contrato futuro de gás natural dos EUA era negociado por US$ 2,866 por milhão de BTU (British Thermal Units) na quarta-feira, enquanto o último registro para o contrato de GNL à vista em Cingapura na segunda-feira era de US$ 5,652.
         Tecnologias de perfuração (como a fratura hidráulica) permitem a geração de lucros com a exploração de combustíveis à base de carbono presos em rochas localizadas centenas de metros abaixo do solo.
Os resultados são o excesso persistente de oferta de gás natural desde meados de 2015 e bilhões de dólares direcionados para novas instalações para exportação do produto por empresas como Cheniere, Dominion Resources e Kinder Morgan.
         Para Breanne Dougherty, analista do Société Générale em Nova York, os esforços das empresas americanas no mercado global de GNL "inquestionavelmente mudaram o jogo". A opção de entrega de gás sem destino fixo representa um novo tipo de oferta que, sem dúvida, levará à criação de contratos mais flexíveis ao redor do mundo, segundo Dougherty. Os terminais nos EUA mais uma vez romperam uma norma ao precificar o GNL a partir da referência de Henry Hub, em Louisiana, em vez de vincular o preço à cotação do petróleo, disse ela.

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