terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Ceará projeta polo para produzir e exportar hidrogêneo verde para a Europa via Pecém e Roterdã

O governo do Estado do Ceará projeta a criação de um polo com capacidade para produzir pelo menos 500 mil toneladas de hidrogênio verde por ano, que equivalem a cerca de 2,5 milhões de toneladas de amônia verde. O executivo adianta que um dos objetivos é exportar para a Europa pelos portos do Pecém e de Roterdã, na Holanda, que são parceiros comerciais.

O hidrogênio verde (H2V) é visto pelo governo estadual como o combustível do futuro. Para ser considerado ‘verde’, o produto é obtido através de fontes renováveis, como energia eólica ou solar e, mesmo durante seu uso, não gera gases causadores do efeito estufa, como o carbônico.

Denominado Hub de Hidrogênio Verde do Ceará, o espaço instalado no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, foi lançado neste ano em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Federação das Indústrias do Ceará (Fiec). A ideia é buscar novos investimentos e ampliar as oportunidades de negócios e geração de empregos no Ceará. Dezoito memorandos de entendimento já foram assinados com empresas nacionais e internacionais para implantação de projetos no hub.

O uso do hidrogênio verde vai de carros às indústrias. “Há possibilidade de se ter veículos carregados com o hidrogênio, ou fazer o aquecimento de residências e até mesmo utilizá-lo em indústrias que hoje usam carvão”, explicou o professor Fernando Melo Nunes, do Parque Tecnológico da UFC, que coordena a equipe de pesquisadores da universidade envolvidos no projeto.

Segundo ele, a produção do hidrogênio é feita, principalmente, pela eletrólise, processo que retira o elemento da água. “Gasta-se energia para separar o hidrogênio do oxigênio, em formato de água, nesse processo da eletrólise. Para que seja ‘verde’, usamos principalmente energia eólica e solar. No Ceará ambas são bem abundantes”, explicou Nunes. Já a água é um recurso mais escasso no estado. “Por isso, a ideia é usar água de dessalinização ou de reuso. Essa última pode ser água do esgoto, após ser tratada”, acrescentou o professor.

Na hora de transportar o hidrogênio obtido, Nunes ensina que é possível fazer isso através da sua forma gasosa, liquefeita, ou convertendo o elemento em amônia. A primeira e a segunda forma são menos utilizadas e a expectativa é que o produto cearense seja transportado em forma de amônia.

O professor relata que a exigência da EDP, grupo que controla o Porto do Pecém, é que 20% da produção de hidrogênio seja utilizada internamente. “A universidade já pesquisa hidrogênio há muito tempo. Apenas agora se viu que ele sendo verde, ou seja, feito sem carbono e sem gerar carbono, é o fator que vai descarbonizar o planeta. Até 2030, a Europa quer que não se produzam mais carros a hidrocarboneto, por exemplo”, observa ele.

As empresas já confirmadas no projeto devem utilizar no processo produtivo uma energia que corresponde ao consumo brasileiro ao longo de um ano. “Somando, pode chegar a 17 gigawatts, muito próximo do consumo brasileiro. Eles não começam produzindo tudo isso, claro, mas cada planta deve ter potencial para ter de 2 a 3 gigas. As empresas que estão mais avançadas são as da Engie e Fortescue”, disse Nunes, citando as companhias brasileira e australiana.

O pesquisador lembra que, para gerar esse volume energético as empresas podem recorrer a possibilidades como produção de energia eólica no mar e usinas fotovoltaicas nos espelhos dos açudes. “Tem, inclusive, uma experiência como essa feita em Sobradinho, colocando as placas flutuando. E isso aumenta o rendimento. São coisas bem no sentido da melhora do meio ambiente e do mundo”, finaliza.

 

 

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