quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Práticos de Santos se preparam para manobrar navios de 366 metros de comprimento

         A entrada de navios com 366 metros de comprimento no Porto de Santos depende do alargamento do canal de navegação e da otimização do acesso aos terminais portuários. Além disso, a frota de rebocadores do complexo precisará ser adequada. Mas, mesmo com estes ajustes essenciais, os práticos que atuam no cais santista estão se preparando para manobrar esses cargueiros gigantes.
         A evolução do tamanho dos navios cargueiros tem sido acelerada. Além do comprimento e da largura, a capacidade de transporte de cargas, principalmente as conteinerizadas, cresce exponencialmente. No entanto, os complexos portuários não passam por transformações tão grandes assim.
         Agora, a expectativa é de que embarcações com até 366 metros de comprimento e 51 metros de boca (largura) operem no cais santista. Navios deste tipo podem transportar quase 14 mil TEU (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés).
         “Olhando para o nosso Porto, há dez anos, nós tínhamos navios que carregavam 5,5 mil contêineres, com 272 metros de comprimento e uma largura de 40 metros. Aí, você vê, em 2015, navios com 333 metros. E em 2018, o volume pode subir para 13,8 mil TEU, com 366 metros e 51 de largura”, destacou o diretor-superintendente da Praticagem de São Paulo, Bruno Roquete Tavares.
         Mas, apesar dos planos de armadores e da própria Autoridade Portuária, as características do canal de navegação do cais santista dificultam o tráfego de cargueiros destas dimensões. Para o presidente da Praticagem de São Paulo, Nilson Ferreira dos Santos, o estreitamento da via marítima, a baixa profundidade e a grande quantidade de curvas são fatores que precisam ser levados em conta durante o planejamento da vinda dessas embarcações.
         “O Porto de Santos já recebe grandes navios. Mas a vinda desses cargueiros vai representar um desafio muito grande. Eles são maiores linearmente, apesar de o calado não variar muito. Porém, eles crescem em área vélica, deslocamento e peso e perdem em capacidade de manobra por restrições de máquina de leme”, explicou Ferreira.
         Na preparação para a chegada de navios de maior porte ao cais santista, a Praticagem firmou parcerias com centros de treinamento internacionais para simular o tráfego dessas embarcações no complexo. Além disso, os profissionais participaram de manobras desses cargueiros em portos de países como Peru, Estados Unidos e Holanda.
         Agora, a ideia é que, a partir do próximo mês, todos os práticos passem por um curso de qualificação em Houston, nos Estados Unidos. O custo é de US$ 10 mil por profissional.
Vinda de navios de 366 metros representará “um desafio muito grande”, diz Nilson Ferreira dos Santos
         “Em Houston, mandaram fazer um navio de 366 metros em escala. A gente pediu para ir conhecer, fizemos uma parceria e fomos lá. A ida desses cargueiros ao Porto de Houston foi vetada por conta das restrições e porque o mercado de contêineres não é mandató-rio lá. Essa parceria, com módulos de cursos específicos para a Praticagem de Santos, vai começar no ano que vem, num centro de excelência que mostrou ser o melhor local para isso”, destacou Ferreira.
         Segundo o prático, apesar do avanço da tecnologia e da modernidade desses gigantes, as manobras não se tornaram mais fáceis. Isto porque os investimentos em economia, eficiência e proteção ambiental favorecem apenas a navegação de longa distância.
         “Esses navios são feitos para grandes travessias. Carregar muito na Europa, por exemplo, e descarregar muito na China e vice-versa. Eles (os armadores) se preocupam com a economia de energia nesse trajeto. Ótimo, em 99% do tempo, ele estará nesse trajeto e terá uma economia brutal, mas nesse pequeno momento das manobras, a gente fica com menos recursos. É uma preocupação das grandes empresas de seguros”, explicou Nilson.
         No ano passado, a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), estatal que administra o Porto de Santos, encomendou uma série de estudos sobre a viabilidade da navegação de grandes navios no complexo. Eles foram executados pela Universidade de São Paulo.
         Essa pesquisa aborda, entre outras questões, o impacto nos navios atracados quando esses cargueiros passam pelo canal. Devido ao volume de água deslocado e dependendo da velocidade de navegação, as embarcações atracadas podem ter seus cabos de amarração rompidos e até desatracar do cais.
         Para Ferreira, na prática, esses efeitos hidrodinâmicos serão maiores do que os verificados nos estudos. “O tráfego é intenso e não necessariamente você anda com o navio por onde você quer. No estudo em computador está bonitinho, mas no dia a dia, o problema deve ser um pouco maior por conta dessas interações com outros navios”.

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