segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Especialistas esperam um 2017 tão difícil quanto o ano passado

         Economistas, empresários e “futurólogos” comemoraram a entrada de 2016 com um entusiasmo contido. Porém, por menos otimistas que tenham sido as previsões, nenhuma havia contemplado a perfeita tempestade que acabou se materializando neste ano que se encerra. Sim, os desmazelos com a economia nos anos anteriores eram conhecidos, mas apenas superficialmente. Era impossível prever o tamanho desse descalabro. Porém, é o que temos. Ainda assim, nas palavras de Roberto Simonsen, “otimismo é esperar pelo melhor, enquanto confiança é saber lidar com o pior”. Enfim, chegamos a 2017 com perspectivas de que esse cenário sombrio poderá, inclusive, piorar. Tenhamos confiança.
         A luz no fim do túnel, surgida no meio deste ano para uma suposta recuperação da economia brasileira, estava baseada, justamente, no que mais a afeta – e que daria um fôlego ao nosso setor: pretendiam-se aumentar as exportações de bens industriais e de serviços, agregando medidas incentivadoras de maciço investimento privado internacional em infraestrutura para a logística. Esse seria o motor dessa recuperação.
         Uma muito bem-feita análise do economista Paulo Rabelo mostra que o sucesso de um modelo de medidas, que preveja muito menos do Estado e mais do Privado, pode ocorrer em prazos bastante otimistas de até quatro anos, caso implementado. A ideia era assumir essa ação rapidamente, para recuperar o tempo perdido: equilíbrio das contas, modernização das leis trabalhistas, tributárias, previdenciárias, da educação e implementação de marcos regulatórios que incentivassem e dessem segurança ao investimento privado nesse país, tão rico por natureza.
         Porém, para citar outro mestre, desta vez da música, “a vida é o que acontece enquanto estamos ocupados fazendo outros planos”, nos ensinou John Lennon. A história política brasileira, viciada de longa data, está mandando uma conta que nem os mais céticos poderiam prever: travou tudo, e está difícil de destravar.
         Embora esteja claro que que a atual crise é 80% brasileira, e que a sua solução seja interna, no restante do mundo, as coisas não estão muito melhores. Vivemos uma crise humanitária sem precedentes, uma perspectiva política de ruptura com o establishment e de consequências desconhecidas, além da chegada retumbante de inovações tecnológicas que causarão profundas mudanças, o que continua a se materializar muito antes do esperado.
         Some-se a isso antigo otimismo trazido anos atrás pela globalização, o que não se materializou na sua plenitude, e que acabou gerando uma revolucionária supercapacidade histórica no mundo dos containers. Cada vez mais concentrado em mão de poucos, por questões de sobrevivência, o ambiente do transporte está passando por impressionantes mudanças de paradigmas mal percebidas pela maioria. Podemos afirmar que no universo da logística em 2016 passará para a história como o começo de algo importante. O que exatamente esse “algo” significa – e no que se transformará – ainda está para ser visto.
         2017, com certeza, trará mais luz sobre algumas consequências e tendências desse fenômeno, que tem sido chamado de Revolução 4.0. Está acontecendo na maioria dos países desenvolvidos e permanece quase à margem nos países em desenvolvimento. Essa revolução é amplamente percebida na indústria, no comércio, e em todos os setores como medicina, agricultura, serviços, entretenimento, tecnologia, etc. A IoT (Internet of Things), com impressoras 3D, cobertura de satélites, rastreando e conectando equipamentos, aparelhos e robôs trabalhando ao lado de pessoas, está provocando uma das mais importantes revoluções de todos os tempos. Mudará a geografia da produção. Fará com que a mão de obra barata já não seja importante, uma vez que robôs e impressoras 3D farão isso em qualquer lugar. Por fim, para adaptação aos novos volumes e fluxos de cargas, haverá mudanças importantes nas rotas de navegação.
         Muitas empresas e empregos deixarão de existir, enquanto novos surgirão. Fusões estratégicas, como a mais recente dos armadores Hamburg-Süd e Maersk Line, ocorrem para atender estratégias exigidas por esse novo paradigma, que mudará a geografia do mundo. Muito se leu sobre o fim de “uma empresa alemã, tradicionalmente moderna”.
        Mas poucos perceberam os reais motivos por trás dessa ação por parte da Maersk: brilhantemente, os dinamarqueses juntam-se à visão de futuro que já aplicam gigantes como Amazon, Alibabá, DHL, Google, Uber, Orbicom, entre outros novos players, e passam a trazer a inovação para o dia a dia da logística, todos eles se preparando para atender a essa revolução 4.0, suas mudanças de paradigmas e alterações geográficas nos fluxos de cargas internacionais.
         Exemplos não faltam. Adiantada no desenvolvimento tecnológico, vemos a Orbicom, que equipou 30.000 novos containers reefer para a Maersk, com sistemas de rastreamento de posicionamento georreferencial, que informam a outros equipamentos, em qualquer lugar do mundo, em tempo real, a temperatura das bananas, melões, flores, remédios ou carnes que transportam. Os “equipamentos informados” podem interagir diretamente com esses containers ajustando-os para obedecer a programações prévias de qualidade e conservação, sem qualquer intervenção humana.
         Do outro lado, vemos os varejistas conquistarem seu lugar ao sol no ambiente logístico. A Amazon já opera como NVOCC. A Alibaba tem um portal experimental de matchmaking de carga e equipamento de transporte disponíveis. O Google já tem caminhões trafegando sem motoristas em Nevada, EUA. Ambev já faz transporte compartilhado com outra companhas por redução de CO2. Algoritmos não param de serem criados para dar cada vez mais lógica à logística.
        Quase todas as compras, meios de pagamentos e entregas serão online e just in time. Muitas serão entregues por Google Equipments autônomos, programados por sistemas equivalentes aos do Uber, do Tinder, do Waze, e com entrega final por Drones. Tudo com um mínimo de interferência humana. Podemos até afirmar que a satisfação do cliente poderá perfeitamente ser medida por movimentos da retina do recebedor muito em breve.
         Jogar esse jogo definirá a competitividade e produtividade de um país. Mas, no Brasil, em 2017, como se nada disso fosse importante para um futuro possível, continuaremos a ver muitos erros estratégicos e miopias. Enquanto o futuro acontece alhures, assistimos a um sem-fim de recursos de sobrevivência de todos os políticos, advogados enriquecendo graças às infinitas manobras, PECs aditadas de forma aleatória que se transformam em autênticos Frankensteins, empresas fechando, empregos sumindo, quase todos inadimplentes – e sem capacidade de reação.
         Não veremos o país se preparar para essa nova realidade mundial. A Revolução 4.0 é dos outros. Não nos diz respeito. Em 2018, ou quando ocorrerem as próximas eleições, poderemos escolher melhor. Poderemos optar por empreendedores ávidos por inovação, educação e planos de vanguarda no lugar do que temos visto em quase toda a história desse país. Mas sempre perdemos as maravilhosas oportunidades de fazer parte do futuro, da mudança sem igual dos paradigmas de inovação e sustentabilidade que virão por aí. O que vai acontecer por aqui, não podemos prever. O que não irá acontecer é cristalino. Saibamos lidar com o pior.

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