terça-feira, 1 de abril de 2025

CK Hutchison Holdings adia venda de terminais marítimos no Panamá por suposta pressão de Pequim


A CK Hutchison Holdings concordou no início do mês passado em vender a maior parte de seus negócios portuários globais, avaliados em US$ 22,8 bilhões, para um consórcio formado pelas empresas norte-americanas BlackRock e TiL. Dentro dessa estrutura, a documentação final para finalizar especificamente a transferência da Panama Ports Company (PPC) — uma subsidiária que possui dois portos no estratégico Canal do Panamá — deveria ser assinada em 2 de abril ou até antes, de acordo com o anúncio de venda feito em 4 de março. Mas, uma fonte próxima à transação indicou que os documentos não seriam assinados na data programada por "razões óbvias".

A fonte acrescentou que esse acontecimento não significa que o acordo foi cancelado e que 2 de abril não era um prazo fixo, informou o SCMP. Outra fonte próxima à transação acrescentou que as negociações estão em andamento devido à complexidade da transação. A negociação do acordo global, que abrange um total de 43 portos em 23 países, está sendo conduzida exclusivamente entre a CK Hutchison e o consórcio, com prazo acordado de 145 dias.

A CK Hutchison Holdings está na mira da China neste acordo altamente politizado. De fato, as autoridades do país asiático reagiram negativamente aos planos do conglomerado de vender seus ativos portuários. Nessa linha, o regulador de mercado chinês declarou que conduzirá uma revisão antitruste do acordo de transação de acordo com a lei para proteger a concorrência justa e salvaguardar o interesse público, de acordo com sua conta oficial no WeChat na sexta-feira à noite.

O anúncio da investigação pelo regulador de mercado da China ocorreu depois que veículos de comunicação pró-Pequim sediados em Hong Kong, Wen Wei Po e Ta Kung Pao, questionaram se o acordo justificava uma revisão antitruste. Vale lembrar que a transação do porto CK Hutchison foi aplaudida pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que afirmou repetidamente que quer retomar o controle da hidrovia interoceânica estratégica.

No entanto, o interesse em verificar minuciosamente a transação não seria encontrado apenas na China. O SCMP informou que isso poderia desencadear uma onda de revisões de concorrência nos mais de 20 países onde os portos estão localizados, se seus governos considerarem necessário. Especificamente, espera-se que as autoridades dos 23 países onde os portos operam conduzam suas próprias investigações antitruste se considerarem legalmente necessário.

A Panama Ports Company (PPC), uma subsidiária da CK Hutchison Holdings, é proprietária e opera os portos de Balboa e Cristobal na costa da hidrovia. Antes da transação, o Panamá concedeu inicialmente à empresa a concessão para administrar os portos em 1998 e a estendeu por mais 25 anos em 2021.

A Controladoria Geral da República do Panamá informou à imprensa na semana passada que uma auditoria das concessões seria concluída nos próximos dias ou semanas. As críticas de Pequim à decisão da CK Hutchison de vender seus negócios portuários são um prelúdio para um maior escrutínio político sobre grandes desinvestimentos de empresas chinesas envolvendo compradores dos EUA, dizem analistas.

Jeffrey Lam Kin-fung, membro do Conselho Executivo de Hong Kong — um importante órgão consultivo do Chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Hong Kong — pediu ao público que se abstenha de criticar a venda planejada dos dois portos panamenhos pela CK Hutchison Holdings, dizendo que muitos dos que comentaram nem sequer leram os termos do acordo. Ele acrescentou que, embora seja normal que empresas adquiram ou alienem ativos, qualquer acordo "deve ser benéfico para a população local", referindo-se a Hong Kong, seu governo e a China continental.

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