quinta-feira, 7 de março de 2024

Ataques houthis a navios no Mar Vermelho já causam danos ao comércio internacional brasileiro

As rotas de transporte marítimo no Mar Vermelho estão entre as mais importantes para o comércio global e ficaram perigosas para o tráfego de navios mercantes, devido aos diversos ataques dos rebeldes Houthis do Iêmen, após a eclosão do conflito na Faixa de Gaza. E o grupo não mostra intenção de cessar os ataques que realiza a navios norte-americanos, britânicos, e de outros países, em apoio aos palestinos do Hamas. Essa tem sido uma preocupação crescente para os países envolvidos nos conflitos e também para todos que, assim como o Brasil, dependem dessas linhas para escoar sua produção e importar insumos necessários à sua economia.

A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento divulgou dados apontando que cerca de 80% do comércio internacional é por via marítima. No caso do Brasil, esse percentual é ainda maior, girando em torno dos 95%, de acordo com a Associação Brasileira de Logística, Transportes e Cargas. Dessa forma, os conflitos e a pirataria na região do Mar Vermelho, por onde circula cerca de 15% do tráfego mercante mundial, embora geograficamente distantes do Brasil, geram impactos nos prazos de entregas de importação e exportação, ao criar empecilhos à livre navegação comercial.

Os conflitos no Oriente também encarecem os custos do transporte marítimo, com o aumento de seguros dos navios, por conta da preocupação com a segurança; a adoção de medidas de proteção adicionais; e a necessidade de desviar navios por rotas mais longas. No dia 12 de fevereiro, o graneleiro “Star Isis”, que transportava uma carga de milho brasileiro, entre Vila do Conde (PA) e o porto iraniano Band Imam Khomeini, foi atacado por mísseis disparados pelos Houthis quando navegava próximo ao Iêmen. O Irã é um expressivo importador desse cereal brasileiro (cerca de 4,5 milhões de toneladas/ano).

Grandes companhias mundiais de navegação, como a dinamarquesa Maersk, suspenderam os transportes marítimos na região, por onde passa parte considerável do petróleo, gás natural e bens de consumo, que chegam à Europa pelo Canal de Suez. Diversas transportadoras têm buscado uma rota alternativa, contornando o sul da África, o que acrescenta cerca de 10 dias à viagem.

Segundo especialistas, a crise no Oriente Médio já começou a ser sentida aqui no Brasil a partir de fevereiro. A primeira mudança foi uma alta no preço dos fretes, que deve impactar o valor final de bens de consumo. Como o frete da Ásia para a Europa já aumentou, isso impactará os custos no Brasil, pois quase 30% do que o País importa da Ásia passa pela Europa. Ou seja, os conflitos no Mar Vermelho serão sentidos no bolso dos brasileiros.

É o que defende o Coordenador do Grupo Economia do Mar e professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos da Escola de Guerra Naval, Dr. Thauan Santos. Segundo ele, considerando que parcela significativa do que consumimos no Brasil vem da Ásia, o conflito pode afetar mais diretamente o preço dos principais produtos importados.

“Uma estratégia para evitar impactos tão imediatos e intensos é diversificar a origem das importações e aumentar a autossuficiência em determinados setores. A primeira delas tem relação direta com a política comercial; a segunda, com política industrial. Como dificilmente podem ser alteradas no curto prazo, uma primeira preocupação é manter o acesso aos produtos importados. Nesse contexto, garantir e/ou assinar novos contratos, adicionar novas cláusulas sensíveis à conjuntura internacional e usar instrumentos combinados de mitigação do impacto sobre a inflação devem ser ferramentas usadas em conjunto”, explica o professor.

Para Thauan, outra estratégia para mitigar os impactos dos ataques ao tráfego marítimo é apostar na dissuasão por meio do emprego do Poder Naval. Nesse contexto, a presença e atuação de navios de marinhas como a norte-americana e britânica são essenciais. “Assim, pode-se oferecer respostas rápidas e eficientes às mais diferentes formas de ameaças”, aponta.

 

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